No último dia 19 de agosto, em um sábado ensolarado na Virginia, a pacata cidade universitária de Charlottesville, nos Estados Unidos, chamou a atenção do mundo com um protesto organizado pela extrema direita. O evento foi chamado de “Unir a Direita” e foi organizado pelos lÃderes de grupos violentos como os Nazistas (ideologia alemã fundada por Adolf Hitler) e o “KKK” (Ku Klux Klan) que defendem ambos, a supremacia branca, o ultranacionalismo, bem como o antissemitismo. A manifestação em Charlottesville defendia o direito de protestar contra os negros, os imigrantes, os gays, os judeus e toda e qualquer minoria considerada inferior a “raça branca”.
Um dos integrantes dessa marcha racista foi identificado como Peter Tefft. Seu rosto, nome e sobrenome foram expostos nas redes sociais após ele conceder uma entrevista aos repórteres, confirmando suas ideias racistas.
Quando Pearce, seu pai, viu a imagem do filho nas reportagens, sua reação foi surpreendentemente oposta ao senso comum, a de que os filhos se tornam aquilo que aprendem em casa.
O pai de Peter se manteve em silêncio por um tempo, mas por fim decidiu escrever uma carta de repúdio aos ideais do próprio filho, ao site “In Forum“, com a intenção de divulgar a todos que a famÃlia não compartilha das mesmas crenças preconceituosas.
Tudo começou quando a cidade de Charlottesville anunciou que pretendia retirar a estátua em homenagem a Robert E. Lee de um parque municipal. Lee foi um oficial militar que atuou ao lado dos confederados durante a Guerra Civil Americana.
Sua figura controversa deve-se ao fato de que o militar foi um conhecido escravagista, bem como se opunha ao direito de permitir o voto aos escravos libertados.
Muitas cidades americanas vem retirando homenagens aos militares confederados que apoiaram a independência do sul dos Estados Unidos e se colocaram contra o fim da escravidão.
A atitude incomodou os americanos reacionários que, “apoiados” pelos discursos extremistas do presidente Donald Trump, se sentiram confiantes o suficiente para mostrarem o seu lado mais sombrio.
Em referência ao presidente, os manifestantes levaram cartazes com o slogan da campanha presidencial: “Não temos medo de ‘fake news’ [matérias falsas], seus mentirosos”.
Além disso, os participantes do protesto carregavam bandeiras dos Confederados e do Nazismo enquanto gritavam palavras de ordem como “Vocês não vão nos substituir”, em referência a retirada da estátua, mas também a onda migratória do planeta.
Assim como “Vidas Brancas Importam”, fazendo oposição ao movimento negro “Back Lives Matter” (Vidas Negras Importam) criado após o surto de mortes de negros americanos pela violência policial.
A marcha dos supremacistas brancos dirigiu-se para o campus da universidade da Virginia, onde se depararam com estudantes negros e outros jovens que se declararam antifascistas. Houve excesso de violência dos dois lados.
Enquanto os supremacistas lançavam tochas acesas sobre os estudantes, os jovens contra o protesto disparavam spray de pimenta sobre os seus opositores.
“Sim, eu sou nazista, eu sou nazista, sim”, afirmou um homem em frente a um repórter da BBC que assistiu à cena estarrecedora. “Judeus não vão nos substituir” foi um dos coros entoados pelos manifestantes.
“Gays, negros, imigrantes imundos, todos eles se manifestam e recebem apoio por isso. Porque quando homens brancos decidem gritar por seus direitos e sua sobrevivência vocês fazem esse escândalo?”, questionou um dos manifestantes aos repórteres que cobriam o “evento”.
A situação chegou ao ápice do horror quando um dos integrantes do movimento supremacista avançou o carro sobre as pessoas contrárias à marcha, assassinando uma mulher. No total, 3 pessoas morreram e 20 ficaram feridas.
Logo no dia seguinte houve mobilizações das redes sociais para identificar as pessoas que participaram da marcha dos ultranacionalistas. As imagens que correram o planeta eram nÃtidas e os manifestantes podiam ser facilmente reconhecidos.
O principal canal utilizado foi o Twitter. Contas como @YesYoureRacist (Sim, você é racista) e hashtags dizendo #NameTheNazi (Nomeie o Nazista) promoveram a iniciativa para expor as pessoas através de seus nomes, sobrenomes, a foto em close, bem como onde trabalham. A fim de que fossem punidos socialmente, uma vez que não foram punidos legalmente pela justiça americana.
Peter Tefft estava entre uma dessas pessoas expostas na marcha. Sua famÃlia começou a receber ataques. Foi quando o pai decidiu falar por todos para desvincular a imagem da famÃlia à s ações preconceituosas de seu filho.
Além disso, o pai tem esperanças de que o filho recobre a consciência e os valores que recebeu desde a infância, de acordo com o pai “que devemos nos amar uns aos outros como iguais.”
Confira a carta na Ãntegra:
Meu nome é Pearce Tefft, e eu estou escrevendo à todos, em consideração a meu filho caçula, Peter Tefft, e declarado nacionalista branco que tem ganhado destaque em várias reportagens locais nos últimos meses.
Na sexta-feira à noite, meu filho viajou para Charlottesville, VirgÃnia, e foi entrevistado por um noticiário nacional enquanto marchava com outros nacionalistas brancos, que supostamente acabaram assassinando uma pessoa.
Eu, junto de todos os seus irmãos e sua famÃlia inteira, desejamos repudiar a plenos pulmões à retórica racista e à s ações odiosas e vis de meu filho. Nós não sabemos especificadamente onde ele aprendeu essas crenças. Ele não as aprendeu em casa.
Eu tenho dividido a minha casa e o meu coração com amigos e conhecidos de todas as raças, gêneros e credos. Eu tenho ensinado a todos os meus filhos que todos os homens e mulheres foram criados iguais. Que devemos nos amar uns aos outros como iguais.
Evidentemente Peter escolheu desaprender essas lições, para a angustia e o desgosto de sua famÃlia. Nós estivemos em silêncio até agora, mas agora nós vimos que isso foi um erro. Foi o silêncio de boas pessoas que permitiram que os nazistas prosperassem da primeira vez, e é o silêncio das boas pessoas que está permitindo que ele prospere agora.
Peter Tefft, meu filho, não é mais bem vindo à s reuniões de nossa famÃlia. Eu rezo pelo meu filho pródigo para que renuncie à s suas crenças odiosas e volte para casa. Assim, e apenas assim, eu preparei um banquete.
Suas opiniões odiosas estão trazendo ataques odiosos à seus conhecidos, primos, primas e sobrinhos assim como a todos os seus parentes. Porque devemos ser culpados por associação? Novamente, nenhuma de suas crenças foram aprendidas em casa. Nós não somos, nunca fomos, e nunca seremos compactuantes de suas visões distorcidas sobre o mundo.
Uma vez ele brincou, ‘Uma coisa sobre nós fascistas é que, não é que não acreditemos na liberdade de expressão… Você pode dizer o que você quiser. Nós só vamos jogá-lo em um forno.”
Peter, você terá que jogar nossos corpos no forno também. Por favor filho, renuncie ao ódio, aceite e ame a todos.
Pearce Tefft.
Qual a sua opinião sobre a carta do pai para o filho? O que você pensa sobre o crescimento e as manifestações dos grupos da extrema-direita?
Não esqueça de deixar o seu comentário e aproveite para compartilhar a matéria.
Comentários