Curiosidades

1ª empresa a dar licença menstrual no Brasil tem bons resultados

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A menstruação é a descamação das paredes internas do útero quando não há fecundação. Essa descamação faz parte do ciclo reprodutivo da mulher, e acontece todo mês. E somente quem passa por esse processo sabe o quão doloroso o ciclo menstrual pode ser.

Justamente por isso que o Grupo MOL anunciou, em uma reunião, a licença menstrual par suas funcionárias. Essa decisão emocionou Carol Mucidda, a gerente de negócios de 30 anos. Ela trabalha na empresa há dois anos e lembrou de outras experiências profissionais em que teve que trabalhar mesmo com incômodos e dores da menstruação.

“É um acolhimento. Por mais que não estejamos doentes, temos reações que nos impedem de exercer nossas funções com uma melhor performance porque naquele momento estamos sentindo desconfortos”, disse ela.

A licença menstrual começou a ser dada na empresa no Dia Internacional da Mulher, oito de março, do ano passado. Ela vale por um período de dois dias e é remunerado. O Grupo MOL foi a primeira empresa do Brasil que fez isso. E seu quadro de colaboradores é 90% formado por mulheres.

De acordo com Carol, essa novidade fez suas amigas ficarem curiosas. E no grupo do WhatsApp delas, em que todas são engenheiras, a licença menstrual dividiu opiniões. “Para mim, era uma coisa óbvia que todas as mulheres deveriam levantar essa bandeira, fiquei surpresa pela divisão de opiniões. Muitas aprovaram, mas outras ficaram em dúvida sobre a viabilidade da iniciativa”, contou.

Inspiração em legislação espanhola

Ricardo Alvarez

No começo desse mês, as servidoras públicas do Distrito Federal que sofrem com intensas dores no período menstrual começaram a ter o direito a licença de até três dias por mês.

Além disso, a licença menstrual é discutida como um direito trabalhista em âmbito nacional pelo PL 1249/2022. De acordo com o texto do projeto, é prevista uma licença de até três dias sem descontos no salário. Até o momento, isso ainda está sendo discutido na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, na Câmara dos Deputados, e não tem previsão para ser votado no plenário.

Em 2023, o primeiro país europeu a aprovar uma lei sobre esse tema foi a Espanha. E de acordo com Roberta Faria, cofundadora e CEO da empresa, o Grupo MOL se inspirou na experiência do país europeu para implementar a licença menstrual.

“Li a notícia que saiu em todos os grandes portais. Não conhecia esse termo, mas já fazíamos algo parecido sem chamar por esse nome. Por ser um ambiente de trabalho e um segmento em que temos controle sobre os nossos prazos de entrega e em como organizamos o trabalho, já fazia parte da nossa cultura a liderança liberar para descansar alguém que não estivesse se sentindo bem porque está na TPM ou no período menstrual. Só que a gente não tinha nem um nome nem uma conduta oficial para isso”, contou ela.

Então, Roberta pesquisou junto com o departamento de recursos humanos da empresa sobre o tema para implementá-lo. “Encontramos projetos de lei no Brasil, mas não referências de outras empresas que já fizessem isso por aqui, então desenhamos nossas próprias regras”, disse.

Licença menstrual na prática

UOL

Essa licença funciona como se fosse uma licença de saúde. Por isso, as pessoas que menstruam podem pedir para tirar até dois dias em cada mês se ter um desconto no seu pagamento ou precisar repor o horário.

“Menstruação não é doença, mas sabemos que pode ocasionar de forma temporária sintomas que são incapacitantes, dolorosos e impedem pessoas que menstruam de realizar plenamente suas funções. Isso merece ser reconhecido e respeitado”, pontuou Roberta.

O Grupo MOL também quis desburocratizar todo o processo para as pessoas que quiserem tirar a licença menstrual. Por conta disso, não é preciso um atestado médico.

“Ter que marcar uma consulta, ir ao hospital ou emergência para então passar por um médico, perderia o sentido. Sabemos que os sintomas são passageiros. Vimos que as legislações trazem isso, mas decidimos que seria uma licença baseada na confiança”, explicou a CEO.

“Não é que se você estiver menstruada, não vai trabalhar. Se você está assintomática, nada te impede. Mas se sentindo mal temporariamente, pode fazer essa pausa para se recuperar”, continuou.

Impactos da licença

Factorial

Depois de um ano em vigor, o Grupo MOL disse que a licença menstrual não afetou a produtividade da empresa. Ao todo, até janeiro desse ano, foram 29 licenças dadas, e mais de 65% foi somente de meio período.

Esse benefício vai ao encontro de estudos a respeito do tema que recomendam que as empresas ofereçam acolhimento e alternativas de cuidado a funcionárias com dores incapacitantes.

Segundo Roberta, dar o benefício para todas as pessoas que menstruam e não apenas para as que tinham alguma condição de saúde não impactou negativamente na produtividade. “Entendemos que produtividade não equivale a tempo na frente do computador, mas a qualidade de entrega. Quando você não está no seu melhor momento, você não está entregando muito mesmo”, defendeu.

“Temos uma relação madura com as pessoas. Cada um sabe o que tem que fazer, os prazos e que se achar que não vai dar conta, vai renegociar, redistribuir, conversar com a equipe. O trabalho vai ser entregue, só que vai ter essa pausa”, continuou.

Fonte: UOL 

Imagens: Ricardo Alvarez, UOL , Factorial

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