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Após 200 anos, escravo que projetava igrejas é reconhecido como arquiteto

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Joaquim Pinto de Oliveira pode até não ser lembrado como nome importante ao falar da história de São Paulo. Mas isso não apaga a sua notável contribuição, para o acervo arquitetônico da capital paulista. Nascido em 1721, na cidade de Santos, no litoral do estado, Joaquim foi escravizado por Bento de Oliveira Lima, um português, conhecido como um dos maiores mestres-de-obra da região. Foi com ele, que Tebas, como era mais conhecido, teve os seus primeiros ensinamentos como pedreiro. Com o tempo e a falta de oportunidades em Santos, os dois partiram para a capital, em busca de serviços melhores. E foi aí, que começou a história de Tebas, o escravo arquiteto.

Foi nessa época, que Tebas passou a fazer parte da história da cidade de São Paulo. Era 1750, Tebas tinha 29 anos e teve um ascensão meteórica em seu ofício de construtor. Para se ter uma ideia, ele foi responsável por vários empreendimentos importantes, como a construção da torre da primeira Catedral da Sé. Também o fronte do Mosteiro de São Bento e os elementos decorativos da fachada da Igreja da Ordem Terceira do Carmo. E esses foram apenas algumas das obras que tiveram um toque do escravo.

A história do escravo arquiteto

Há mais de 200 anos atrás, um escravo fazia história em São Paulo, por dominar a arte da cantaria. Uma técnica que trabalha pedras em formas geométricas, para construção de edifícios. Tebas foi o responsável pela restauração da fachada de várias igrejas da cidade, muitas que existem até hoje.

Ele também é o creditado como o responsável pelo primeiro chafariz público da capital paulista, o Chafariz da Misericórdia. Esse que é localizado na Rua Direita, conhecida por ter sido um ponto de encontros entre os escravos durante a escravidão.  Em 1811, após a sua morte, o nome, Joaquim Pinto de Oliveira foi gravado no monumento.

Mas 70 anos depois, a peça foi retirada do local após o processo de canalização de água na cidade. E assim, ao longo dos séculos, o nome de Tebas foi sendo apagado da História, mas não completamente. O jornalista Abílio Ferreira lançou um livro em sua homenagem, “Tebas: Um Negro Arquiteto de São Paulo Escravocrata”. A obra busca dar a devida notoriedade ao trabalho de Joaquim.

Reconhecimento

Apesar de tudo o que ele fez, e a sua marca deixada na arquitetura da cidade, Tebas só foi reconhecido como arquiteto no ano passado, mais de 200 anos após a sua morte. O título e reconhecimento veio pelo Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (Sasp). “Ele fez a parte mais visível e valorizada de edificações católicas em uma época na qual o Brasil era muito religioso”, diz Ferreira. “E não o conhecíamos. Que outros personagens não foram ocultos nos escombros da história?”, completou.

Tebas era de propriedade de Bento de Oliveira Lima, e devido ao seu talento, ele valia muito. De acordo com o inventário de Lima, Tebas valia o equivalente a três escravos comuns. Ele teve em seu currículo como obra mais emblemática, a reforma da antiga Catedral da Sé, que foi demolida em 1991.

Quando Lima morreu, sua família endividada vendeu o escravo para a Igreja. Depois de terminar a restauração da mesma, Tebas foi incentivado, pelos religiosos, a processar a viúva de Lima. Foi assim que ele conseguiu a sua alforria, aos 58 anos de idade. Joaquim Pinto de Oliveira viveu até os 90 anos de idade, ainda trabalhando no ramo de construção.

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