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As pessoas reais que vivem nos porões de Seul retratados em “Parasita”

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O filme Parasita (2019), dirigido por Bong Joon-ho, se tornou um sucesso de bilheteria e da crítica. A obra ficou conhecida por mostrar a vida dos moradores dos porões da Coreia do Sul.

O longa narra a história de duas famílias sul-coreanas: uma pobre, vivendo um pequeno e escuro porão; e uma rica, em sua luxuosa residência na cidade de Seul.

Enquanto Parasita é apenas uma obra de ficção, esses apartamentos semissubterrâneos não são. Eles são chamados de banjiha, e abrigam várias pessoas que vivem na capital da Coreia do Sul.

Julie Yoon, da BBC News Korean, explicou como é a vida nessas unidades.

Os porões de Seul

Foto: Julie Yoon/ BBC

Nesses porões quase não há luz solar. Oh kee-cheol, morador de um banjiha, também conta que o pequeno banheiro não tem pia e fica cerca de meio metro acima do nível do chão. O teto do cômodo é tão baixo que ele precisa ficar com as pernas abertas para que não bata sua cabeça.

“Quando me mudei para cá, tinha marcas roxas nas pernas de tanto bater a canela no degrau (que leva ao banheiro) e arranhões de tanto alongar meus braços contra as paredes de concreto”, diz Oh, de 31 anos, que trabalha no setor de logística.

Os banjihas servem de casa para milhares de jovens, enquanto trabalham duro e buscam um futuro melhor. Esses porões também são um produto da história da cidade. 

A história desses espaços minúsculos remonta ao período de conflito entre as Coreias do Sul e do Norte, décadas atrás. No ano de 1968, soldados norte-coreanos se infiltraram em Seul com a missão para assassinar o presidente sul-coreano Park Chung-hee.

Após isso, por temer uma escalada do conflito, o governo sul-coreano atualizou, em 1970, as regras para a construção civil. Em seguida, passou a ser exigido que todos os edifícios residenciais com quatro andares ou menos tivessem porões que pudessem servir como abrigos em caso de emergência nacional.

No começo, alugar esses espaços era ilegal. No entanto, por causa da crise imobiliária dos anos 1980, dada a falta de espaço na capital, o governo foi obrigado a legalizar a residência nesses porões.

A falta de habitação acessível na Coreia do Sul 

Foto: Julie Yoon/ BBC

Em 2018, as Nações Unidas apontaram que a falta de habitação acessível na Coreia do Sul era um obstáculo importante para a população, principalmente para os jovens e mais pobres.

Por isso, esses apartamentos subterrâneos se tornaram uma alternativa viável em um mercado em que os preços não param de crescer.

Porões como os de “Parasita” devem desaparecer da Coreia do Sul

Foto: Chung Sung-Jun/ Getty Images

Os apartamentos sul-coreanos parecidos com porões devem deixar de existir em Seul gradativamente devido ao esforço do governo para eliminá-los da capital.

Por causa do recorde de chuvas na capital sul-coreana no começo de agosto, foram expostas as dificuldades enfrentadas pelos moradores das banjihas.

Logo depois das chuvas, o governo de Seul reavaliou a decisão sobre as construções.

No dia 08 de agosto, a capital sul-coreana foi atingida pela chuva mais forte registrada em 115 anos, responsável por inundar apartamentos, encher estações de metrô e afogar quatro pessoas que viviam nos porões.

De acordo com o The Guardian, com informações das mídias locais, duas irmãs de 40 anos e uma menina de 13 anos, filha de uma delas, morreram em seu porão no distrito de Gwanak. Elas teriam chegado a pedir ajuda, mas não foram alcançadas por equipes de emergência. Outra pessoa que vivia em uma banjiha também morreu afogada.

A recente tragédia fez com que grupos cívicos exigissem mudanças no regulamento. Em um comunicado publicado no Korea Herald, a Coalizão de Cidadãos pela Justiça Econômica condenou “a negligência do governo em relação aos marginalizados em moradias por esta tragédia”.

“À medida que as chuvas se tornam mais fortes e frequentes como resultado das mudanças climáticas, deve embarcar em uma mudança fundamental de sua abordagem aos moradores do semi-subsolo”, acrescenta a nota.

Em seguida, o governo declarou que não deve conceder mais licenças para construções de apartamentos semi-subsolo. Além disso, foi informado que os já existentes serão convertidos ao longo do tempo. O prazo dado aos proprietários para a cobertura das banjihas para uso não residencial será de 10 a 20 anos.

Fonte: BBC, Aventuras na História

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