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Como era a vida dos índios gays do Brasil?

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Ainda que a visibilidade LGBTQ esteja crescendo em todo mundo, muitas pessoas parecem ainda se importar com quem os outros estão dividindo o seu afeto. Surpreendentemente, mesmo na modernidade, ainda existe um preconceito muito grande seja por causa das religiões, por esteriótipos ou até por conta da falta de conhecimento.

Em pleno século XXI, ainda é complicado ser uma pessoa LGBTQ. Agora, pense nos tempos mais remotos. Em 1614, aos pés do Forte de São Luís do Maranhão, onde hoje é o Palácio dos Leões, o missionário francês, Yves D’Évreux, ordenou que o índio, chamado Tibira, fosse preso. Além de preso, o índio seria torturado e executado, sob o pretexto de “purificar a terra do abominável pecado da sodomia”.

Ademais, o índio tentou se esconder na mata, por uns dias, mas sem muito sucesso, sendo capturado logo depois. Nesse ínterim, ele foi amarrado, pela cintura, na boca de um canhão e teve seu corpo destroçado. Uma parte de seu corpo caiu aos pés do forte, e a outra desapareceu no mar.

Em suma, esse extermínio foi documentado pelo próprio executor de Tibira. D’Evreux fez um capítulo inteiro para contar o caso do índio, em seu livro, chamado Viagem ao Norte do Brasil, feito nos anos de 1613 e 1614.
Antes de sua sentença de morte, o índio teve seu último desejo concedido. Ele fumou tabaco, ou petum na língua tupinambá. Esse era um costume indígena. Quando eles saíam para caçar, levavam consigo o petum. E se os mantimentos se esgotassem, eles mastigavam as folhas do fumo para saciar a fome.

Últimas palavras

As últimas palavras de Tibira foram: “Vou morrer. Não tenho mais medo de Jurupari. Agora, sou filho de Deus”. E para não matarem um inocente e terem essa culpa consigo, os franceses deixaram que outro tupinambá executasse Tibira.

“Morres por teus crimes, aprovamos tua morte e eu mesmo quero pôr fogo no canhão para que saibam e vejam os franceses que detestamos as sujeiras que cometeste”, disse o cacique, Caruatapirã, que era inimigo mortal de Tibira.

Execução

Desde a execução, realizada em praça pública, o cacique usava o feito de ter matado o outro índio, para ganhar o respeito dos outros nativos.

Mesmo depois de quatrocentos anos, a morte de Tibira ainda causa espanto. O doutor em Antropologia pela Unicamp, Luiz Mott, diz que foram duas as razões pela qual a execução foi tão cruel. Foi o medo do castigo divino e o receio de contágio.

“Ao castigar um adepto da sodomia com a pena capital, os religiosos aplicavam a pedagogia do medo. Não só para erradicar essa abominação da terra selvagem, como para inibir sua prática nefanda entre os colonos”, explicou.

Nos países do velho mundo, como França, Portugal e Espanha, os sodomitas, hereges e bruxos eram condenados à fogueira. Isso para que não deixassem vestígios. Em suma, o uso do canhão, no Brasil colonial, pode ser explicado como sendo um artifício, para espetacularizar a morte do pecador.

De acordo com Mott, o extremismo homofóbico, em São Luís do Maranhão, infringia até mesmo o próprio Direito Canônico da Igreja Católica. Isso porque a entidade não autorizava que os missionários condenassem os suspeitos de sodomia à morte.

“A execução de Tibira foi totalmente arbitrária. Só o tribunal do Santo Ofício tinha jurisdição papal para queimar sodomitas”, conclui Mott.

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