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Como Marcelo Rezende morreu?

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Autêntico, instigante, emocionante e ousado. Esse certamente é o jornalismo brasileiro. O jornalismo policial trabalha diretamente com fatos criminais, de segurança pública e em investigações policiais. Sabe aquelas coberturas impressionantes, de tirar o fôlego e feitas em tempo real envolvendo polícia e criminosos? Então, isso é jornalismo policial. No Brasil, os principais programas do gênero são o Brasil Urgente, da Band, e o Cidade Alerta, da Record. Além de outros, que chegaram ao fim inesperadamente, como o Linha Direta, Na Rota do Crime e Canal Livre.

Atrelado à história deste polêmico tipo de Jornalismo, não podemos deixar de falar do apresentador Marcelo Rezende. Conhecido primeiramente pelo tom de voz característico, humor ácido e críticas severas. Profissional que esteve à frente de importantes programas policiais. Linha Direta, da TV Globo, e, mais recentemente, Cidade Alerta, da Record. Você sabe como foi a vida de Marcelo? E mais do que isso, sabe como foi a morte? Nós te contamos. Confira conosco.

Marcelo Rezende

Marcelo Luiz Rezende Fernandes nasceu no Rio de Janeiro, em 12 de novembro de 1951. O jornalista era pai de Diego, Marcella, Patrícia, Carolina e Valentina – todos filhos de cinco mães diferentes. E também foi avô de duas meninas. Ao longo de sua carreira, integrou diversos programas. Alguns foram: o Domingo Espetacular, Fantástico, Globo Repórter e Jornal Nacional. Mas, desde que passou a trabalhar com jornalismo policial, em 1999, o jornalista lidava diretamente com crimes e criminosos. Muitas vezes de alta periculosidade para ele e para seus repórteres, assim correndo risco.

A descoberta no jornalismo como talento ocorreu de forma inusitada. Marcelo Rezende tinha 17 anos, havia então se matriculado em um curso técnico de mecânica. Ele foi visitar a redação do Jornal dos Sports, no Rio de Janeiro, com o primo Merival Júlio Lopes. Esse trabalhava no veículo. No local, ele se ofereceu para ajudar um senhor, que datilografava uma relação de clubes de Várzea. Este senhor, na verdade, era diretor do jornal e convidou Marcelo para um estágio. No Sports, Marcelo Rezende ficou menos de um ano, até ser convidado para a Rádio Globo, onde permaneceu até 1972. 

Tempos depois, o jornalista Otávio Nami o convidou, a fim de alguém para integrar a equipe do jornal O Globo. Lá, ele atuou como repórter esportivo até 1981. Após sete anos no O Globo, o jovem Marcelo migrou para uma das mais importantes revistas da área de esportes. Essa era a revista Placar, da Editora Abril. Por oito anos e meio na revista, atuou como repórter, editor e chefe da sucursal no Rio de Janeiro. No periódico, cobriu então a Seleção Brasileira em duas Copas do Mundo e Jogos Olímpicos. Além desses, os títulos mundiais de Flamengo e Grêmio, em 1981 e 1983, respectivamente. 

Globo

Em 1987, Marcelo Rezende se tornou repórter da Globo. Isso foi por meio de um convite do chefe de redação do departamento de Esportes, na época, Telmo Zanini. A princípio, Marcelo trabalhou no Globo Esporte. No local, fazia matérias sobre futebol para o Jornal Nacional e participava das transmissões de jogos esportivos. Também cobriu os clubes do Rio de Janeiro e participou das transmissões da Copa América de 1989. Ele atuou na equipe de Galvão Bueno e Chico Anysio

Ainda em 1989, a diretora-executiva de jornalismo da Globo, Alice Maria, e o diretor-geral, Armando Nogueira, tinham outros planos para Marcelo. Ele foi transferido para a editoria “Geral”. Nesta editoria, Marcelo fez sua primeira cobertura policial. Ele cobriu o assassinato de um dos empresários mais ricos da capital carioca José Carlos Nogueira Diniz Filho. De acordo com a investigação, teve a morte planejada pelo amante de sua esposa. Foi a partir deste momento, que o repórter despertou sua veia investigativa. 

Outra reportagem marcante realizada por Marcelo foi a prisão de três sequestradores. O trio fazia parte do grupo que arquitetou o sequestro do empresário Roberto Medina, no Rio de Janeiro, em 1990. A partir da informação de que a divisão de entorpecentes da Polícia Civil, chefiada pelo delegado Elson Campello, tinha localizado os três líderes no Paraguai, a equipe de reportagem da Globo, liderada por Marcelo, como repórter, com o cinegrafista José Lúcio Rodrigues e o operador de videotape Luís Roberto Pinto, viajou para o Paraguai. Eles foram então juntos com policiais brasileiros e cercaram os sequestradores no aeroporto de Assunção, capital do país. Um fato curioso é que, por falta de aviso prévio entre as autoridades dos dois países, a polícia paraguaia prendeu os policiais brasileiros e os jornalistas. Eles ficaram detidos por dois dias.

Marco na Carreira

Outra reportagem importante em sua carreira foi feita em 1993. Nesse meio tempo, Marcelo ajudou a localizar o homem que planejou e executou o plano para retirar Paulo César Farias, o PC Farias, do Brasil, e o chileno, José Ramon Irribarra Moreno, que estava em Buenos Aires. 

Para quem não conhece a história, PC Farias era um empresário brasileiro. Ele ganhou notoriedade por atuar como chefe de campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello. E também por seu envolvimento no escândalo de corrupção, que levou ao impeachment de Collor. Devido aos ocorridos e ao tenso cenário político da época, PC tentou uma fuga do país. No entanto, acabou sendo encontrado morto em sua casa, ou seja, deu errado.

Além desta reportagem, Marcelo posteriormente esteve à frente, em 1996, de uma série especial em que ele, junto de sua equipe, identificou hospitais que realizavam transfusões com sangue contaminado. Após a exibição das reportagens, mais de 300 postos de saúde então foram fechados no país. 

No ano seguinte, em 1997, Marcelo realizou reportagens sobre o espancamento e assassinato de moradores e frequentadores da Favela Naval, em Diadema, interior de São Paulo. No mês seguinte, foi a vez do escândalo da venda de arbitragem na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Ambas também exibidas pelo Jornal Nacional. A última reportagem lhe rendeu o Prêmio Líbero Badaró, na categoria telejornalismo, daquele mesmo ano, assim dando destaque a ele.

O Maníaco do Parque

Em 1998, Marcelo realizou um dos trabalhos mais polêmicos de sua carreira. Entrevistou Francisco de Assis Pereira, conhecido como o “maníaco do parque”, que confessou ter matado 11 mulheres, na cidade de São Paulo. A reportagem foi um programa piloto, exibido no ano seguinte, no Linha Direta, assim estreando na programação da Globo, em maio de 1999, com Marcelo à frente. O programa era uma segunda versão do Linha Direta, exibido em 1990, e apresentado por Hélio Costa. Esse fazia a reconstituição de crimes, unindo jornalismo investigativo, depoimentos e dramaturgia. Marcelo ficou à frente da segunda versão até os anos 2000. 

Após se afastar do Linha Direta, o jornalista manteve a função de repórter especial de investigação da Globo, onde permaneceu até 2002. Depois que trabalhou em três outras emissoras – Record, Bandeirantes e Rede TV, onde apresentou o telejornal Rede TV! News. Entre os anos de 2004 e 2005 e depois de 2012 a 2017, apresentou o Cidade Alerta, na Record.

No Cidade Alerta, conseguiu se manter na TV e se popularizar até entre jovens com bordões como “Corta pra mim!” e “Bota exclusivo, minha filha, dá trabalho pra fazer”, que viraram memes na internet. 

Na segunda versão do programa, em 2012, ao lado do colega comentarista de segurança, Percival de Souza, Marcelo então deu um novo tom ao formato, inédito nesse tipo de programa: intercalou as notícias de violência cotidiana com falas irônicas e brincadeiras com integrantes do programa, inclusive dos bastidores. A transmissão do programa chegava a ter quase 4 horas de duração, diariamente. E isso foi fundamental na estratégia de audiência do canal, que alcançou altos índices de audiência no Ibope

A doença

Durante a apresentação do programa, Marcelo se destacou na cobertura da onda de protestos pelo país, em junho de 2013, que aconteciam, justamente, no horário em que o programa era exibido. Devido aos fatos em tempo real e à sua forte personalidade, o jornalista fez declarações polêmicas no ar, demonstrando apoio às manifestações. Também declarou, ao vivo, ser contra a reforma da previdência proposta pelo governo Temer e revelou ser favorável à pena de morte para crimes graves e à diminuição da maioridade penal

Em maio de 2017, Marcelo foi diagnosticado com câncer no pâncreas e no fígado, sendo afastado da televisão para se submeter às sessões de quimioterapia. Em entrevista ao Domingo Espetacular, o jornalista afirmou não ter medo de morrer, por ter fé, e ainda mostrou bom humor durante a luta contra a doença. Inclusive, disse que saia com amigos. O jornalista também revelou que abandonou o tratamento convencional e que tinha passado a investir em terapia alternativa e complementar. 

Mas não foi o suficiente, Marcelo morreu em 16 de setembro de 2017, um sábado, por volta de 17h45, aos 65 anos. A data ficou marcada ali, como o último dia de Marcelo Rezende nesse mundo. O diagnóstico médico concluiu que, devido ao câncer, o jornalista foi vítima de falência múltipla dos órgãos. E, além do laudo principal, os médicos informaram que Rezende também estaria com um quadro de pneumonia grave, o que teria deixado sua saúde mais debilitada.

Seu último dia de vida foi internado no Hospital  Moriah, localizado na Zona Sul de São Paulo, onde tinha dado entrada há alguns dias. Infelizmente, Marcelo faleceu numa tarde de outono, muito doente, mas contando com o apoio e oração dos familiares, que sempre estiveram perto, dos amigos e dos colegas de profissão. 

Últimos dias

Ativo nas redes sociais, Marcelo, devido suas complicações, fez seu último post nas redes sociais no dia 3 de setembro e falou sobre os altos e baixos do tratamento contra o câncer. Após o comunicado da morte, a Rede Record emitiu uma nota de pesar sobre o falecimento e salientou o quanto Marcelo contagiava milhões de brasileiros com sua maneira única de fazer jornalismo. 

No mesmo dia e também no domingo, a emissora reservou toda sua grade de programação para a cobertura do ocorrido. Jornalistas como Luiz Bacci, Geraldo Luís e Fabíola Gadelha prestaram homenagens ao vivo, inclusive, se emocionaram durante a cobertura noturna. Seu velório foi marcado por muita emoção entre as pessoas próximas e também por parte dos fãs. De branco, os filhos Diego Esteves e Marcella se despediram do pai ao lado de outros parentes. Em uma última homenagem, fizeram um brinde com uma taça de vinho, dedicado a ele. 

Em 13 de setembro de 2018, o filho de Marcelo Rezende, o jornalista Diego, apresentou o último episódio da série em homenagem ao apresentador, exibida pela Record, no mesmo ano. Nas gravações, Diego ganhou a companhia da irmã Marcella de Oliveira e, ao vivo, os dois se emocionaram ao falar do pai. A morte de Marcelo gerou comoção e foi noticiada por quase todas as emissoras do país. Em seu velório, jornalistas, atores e famosos se solidarizam com a família e expressaram a importância do apresentador para o jornalismo. Marcelo partiu, mas deixou para a imprensa brasileira um importante legado de competência, que será visto e passado por gerações. 

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