História

Conheça a história de Allan Kardec, o “pai” do espiritismo

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Allan Kardec, que nasceu como Hippolyte Léon Denizard Rivail em 3 de outubro de 1804, morava em Lyon, na França. Ele era filho de Jean-Baptiste Antoine Rivail e Jeanne Louise Duhamel, e foi criado seguindo os preceitos do protestantismo.

Desde muito cedo, demonstrou interesse em estudar principalmente assuntos relacionados à filosofia e às ciências naturais.

Após concluir a educação básica, ele se mudou para Yverdun, na Suíça, onde frequentou o Instituto de Educação Pestalozzi. Rivail se formou em 1824, obtendo o título de bacharel em Ciências e Letras. Com isso, aprendeu várias línguas, como alemão, inglês, holandês e italiano, além de falar espanhol e francês.

Ele atuou profissionalmente como tradutor, professor e pedagogo, retornando a Lyon e trabalhando na tradução de várias obras consagradas da educação para o alemão.

Em 6 de fevereiro de 1832, ele se casou com Amélie Gabrielle Boudet, uma professora e artista plástica francesa, com quem mais tarde fundou uma instituição de ensino própria.

Como entusiasta da democratização da educação, ele chegou a oferecer aulas gratuitas sobre tópicos de química, física, anatomia e astronomia para pessoas com dificuldades financeiras.

Durante suas atividades, ele assinou a autoria de um manual de aritmética, que foi adotado por décadas nas escolas francesas, e um quadro mnemônico da história da França.

Com isso, visava facilitar a memorização das datas dos acontecimentos de maior importância e as descobertas de cada reinado do país.

Por seus feitos, ele foi aceito como membro de diversas sociedades acadêmicas, como o Instituto Histórico de Paris, a Academia Real de Arras e a Real Academia de Ciências Naturais.

Via Globo

Primeiro contato médium

Foi somente na década de 1850 que Allan Kardec tomou conhecimento dos encontros mediúnicos. As chamadas “mesas girantes” estavam ganhando destaque naquela época, e um amigo apresentou-as a Kardec.

Inicialmente cético, ele atribuiu os supostos fenômenos não a uma força espiritual, mas sim a uma influência do “magnetismo animal”.

Essa teoria afirmava a existência de uma espécie de força natural invisível que todos os seres vivos possuíam, permitindo a manifestação de eventos sobrenaturais, como a cura de enfermidades.

Movido pela curiosidade, Kardec começou a frequentar essas reuniões, onde também aprendeu mais sobre a psicografia, a habilidade mediúnica de transcrever mensagens de espíritos.

Ele observou que as mensagens traziam linguagens distintas daquelas usadas pelos médiuns no dia a dia, e continham um grau surpreendente de conhecimento sobre a vida privada dos visitantes.

Cada vez mais convencido de que essas práticas não eram fraudulentas, Kardec adotou uma nova abordagem. Começou a sistematizar as sessões com base em um método científico, formulando perguntas de maneira consistente para buscar coerência nas supostas obras dos espíritos.

De Hippolyte Rivail a Allan Kardec

Durante vários meses, Allan Kardec dedicou seu tempo livre a entrevistar dez diferentes espíritos.

Como ele próprio não possuía mediunidade avançada, conduziu essas entrevistas por meio de três jovens. Tratava-se de Ruth Japhet e as irmãs Julie e Caroline Baudin.

O experimento se deu porque achava que esses contatos ajudariam a entender a natureza , o propósito da vida e a possível vida após a morte.

Foi durante uma dessas sessões que, supostamente, um dos espíritos revelou a Kardec que o conhecia de uma vida passada.

De acordo com essa comunicação, Hippolyte Rivail teria sido um druida celta que viveu na região da Gália e seu nome era Allan Kardec. Foi a partir dessa revelação que ele adotou esse pseudônimo pelo resto de sua vida.

Embora seja conhecido como o “pai” do espiritismo, já existia um movimento chamado “espiritualismo” que estudava eventos mediúnicos.

Segundo o professor de ciência da religião Everton de Oliveira Maraldi, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o espiritualismo era um movimento heterogêneo, sem uma doutrina definida.

O espiritualismo teve início no século XIX, com os primeiros registros de fenômenos mediúnicos.

Um exemplo disso foi o caso da família Fox, no estado de Nova York, nos Estados Unidos, em que duas irmãs relataram ocorrências de manifestações sobrenaturais e a capacidade de se comunicar com os mortos através de sons.

Por isso, Kardec se considerava apenas o “codificador” da doutrina. Ele foi o primeiro a reunir as comunicações dos médiuns em um sistema filosófico estruturado, dando origem ao espiritismo.

O kardecismo mundo afora

Via Globo

Os trabalhos de Allan Kardec incluem O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese (1868).

Todas essas obras contribuíram para fundamentar a filosofia espírita. O autor também produziu títulos complementares à codificação, como a Revista Espírita, um periódico mensal dedicado a estudos psicológicos.

Apesar disso, nem todos os espiritualistas aderiram às ideias de Kardec. Segundo o professor da PUC-SP, havia muita controvérsia. Por exemplo, em relação à noção de reencarnação, que é central para a doutrina espírita, mas era rejeitada por alguns espiritualistas, como o famoso médium Daniel Dunglas Home.

No entanto, o kardecismo conseguiu ganhar um grande espaço e atrair muitos seguidores, expandindo-se para além da Europa.

O antropólogo Emerson Sena, professor de ciência da religião na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais, destaca que, na segunda metade do século XIX, a França e a Inglaterra exerciam uma grande influência cultural, social e econômica.

Muitos países mantinham laços comerciais, linguísticos e humanos estreitos com a França, e migrantes franceses espalharam suas crenças pelo mundo.

Kardec dedicou os últimos anos de sua vida à divulgação da doutrina espírita. Ele faleceu em 31 de março de 1869, aos 64 anos, devido à ruptura de um aneurisma cardíaco.

Seu corpo foi sepultado no Cemitério de Père-Lachaise, em Paris. Após sua morte, o movimento espírita na França enfrentou muitas dificuldades, com conflitos entre seus representantes e até desvios em relação à doutrina estabelecida por Kardec.

Via Globo

A ciência na religião ou a religião na ciência?

De acordo com o docente da UFJF, Kardec foi responsável por criar ou codificar, de acordo com a visão nativa dos espíritas, uma doutrina que não se enquadra completamente nas categorias de ciência, religião ou filosofia moral.

Isso porque ela possui elementos de cada uma delas, mas não é integralmente definida por nenhuma dessas áreas.

O movimento espiritualista e o espiritismo surgiram a partir da observação de fenômenos que eram atribuídos à intervenção de espíritos de pessoas falecidas ou desencarnadas.

Durante as sessões, era comum relatarem-se batidas ou ruídos estranhos na sala, assim como a movimentação espontânea de objetos inertes.

Segundo Maraldi, a prática das “mesas girantes e falantes” ganhou grande destaque e muitas pessoas participavam dessas sessões por entretenimento ou como eventos sociais.

No entanto, acadêmicos da época também se interessaram pelo que ocorria nessas sessões e decidiram investigar mais a fundo.

Alguns estudiosos, como Michael Faraday e William Benjamin Carpenter, concluíram que eram as próprias pessoas que moviam a mesa, mesmo que involuntariamente.

Além disso, havia muitos casos de fraude, o que gerava controvérsias entre os espiritualistas.

Apesar disso, cientistas renomados como Alfred Russel Wallace, William Crookes, Pierre e Marie Curie e William James se convenceram de que nem todos os fenômenos apresentavam explicações “normais”.

Alguns argumentavam a existência de uma nova força na natureza, enquanto outros acreditavam que os fenômenos demonstravam a vida após a morte.

Essas discussões foram responsáveis pelo surgimento da parapsicologia, observa Maraldi.

Portanto, não se pode afirmar que Kardec foi o primeiro a identificar os aspectos “científicos” das alegações relacionadas aos fenômenos espíritas.

Na verdade, ele foi o responsável por integrar esses elementos a aspectos filosóficos, morais e religiosos.

 

Fonte: Globo

Imagens: Globo, Globo, Globo

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