Natureza

Dois peixes que ‘caem do céu’ são descobertos por pesquisadores na caatinga

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Em uma descoberta surpreendente, pesquisadores brasileiros apontam duas novas espécies de peixes na caatinga, onde se pensava que estavam em extinção.

Ambos fazem parte da categoria chamada “peixes das nuvens”, e foram localizados no Rio Grande do Norte e no Ceará. O encontro foi amplamente divulgado entre estudiosos da área, e a publicação ganhou as páginas da revista científica Zootaxa.

O que são peixes das nuvens?

Via Wikimedia

Os peixes das nuvens, como as duas espécies foram catalogadas, refere-se a animais que se reproduzem exclusivamente em poças de chuva durante uma determinada época do ano.

Além disso, esse nome se tornou popular por conta de uma crença popular de que eles cairiam do céu, sempre aparecendo nas poças de chuva e, teoricamente, vindo “da chuva”.

Essa associação com as nuvens surgiu da observação de sua presença durante o período chuvoso em áreas previamente secas e isoladas, levando as pessoas a imaginar que esses organismos poderiam estar caindo junto com a chuva.

O biólogo Yuri Abrantes, pesquisador da UFRN e autor principal do artigo, esclarece que essa percepção foi o motivo pelo qual receberam tal denominação.

Além de Yuri Abrantes, o artigo também é assinado por Telton Pedro Anselmo Ramos, Diego de Medeiros Bento e Sérgio Maia Queiroz Lima.

Na linguagem científica, ao invés de “das nuvens”, essas espécies são designadas como peixes anuais ou “killifishes” em inglês.

Posteriormente, Abrantes destacou que, em geral, o habitat desses peixes da caatinga se concentra próximo aos rios. Ele explica que durante as chuvas, os níveis dos rios aumentam, permitindo que a água alcance diferentes regiões da várzea do rio.

Três novas espécies

A pesquisa revelou também que, ao invés de uma única espécie, como se imaginava, são, na verdade, três espécies distintas de peixes na caatinga.

Inicialmente, acreditava-se que existiam somente o Hypsolebias antenori, que se encontra nos dois estados em questão. No entanto, as diferenças entre as regiões se associam com mais de uma categoria de animais.

As novas espécies receberam seus nomes em homenagem à cangaceira Maria Bonita e à divindade Nkisi Gongobira, do candomblé, que possui ligação com a sensualidade, riqueza, fartura, pesca e caça.

Os avanços científicos resultantes dessa descoberta são significativos no âmbito da conservação, contribuindo para aumentar o número de espécies em um grupo ameaçado em uma região da Caatinga que historicamente foi subamostrada, conforme ressalta Yuri Abrantes.

No Brasil, existem mais de 150 espécies de peixes das nuvens, com 57 delas catalogadas no gênero Hypsolebias, incluindo as duas recém-identificadas.

Reprodução dos peixes na caatinga

Via UOL

Com a nova descoberta, os pesquisadores poderão descobrir mais sobre essas espécies, que aproveitam as oportunidades para aumentar suas chances de sobrevivência.

O peixe deposita seus ovos, que permanecem em terra quando as poças secam. Após o processo de reprodução, os peixes colocam os ovos no substrato da poça, onde aguardam durante o período de seca.

Em seguida, eles permanecem lá até a próxima estação chuvosa, quando eclodem, se desenvolvem e continuam o ciclo de vida.

Uma vantagem desse ciclo é a possibilidade de outros animais “transportarem” alguns desses ovos para diferentes locais. Isso porque existe a hipótese de que aves desempenhem um papel na dispersão desses peixes.

Isso porque os ovos possuem estruturas adesivas que podem se fixar nas patas das aves enquanto procuram alimentos dentro da poça, conforme destacado por Yuri Abrantes.

Uma descoberta recente revela que os ovos desses peixes conseguem resistir por até 30 horas no estômago das aves, sugerindo ainda mais a possibilidade de dispersão.

Extinção

Além disso, existem outros motivos que celebram o encontro dessas espécies de peixes na caatinga.

Isso porque, conforme apontado pelo pesquisador, a maioria das espécies de peixes das nuvens no Brasil encontra-se listada como ameaçada de extinção na lista vermelha.

Ele destaca que esses organismos apresentam uma distribuição geográfica restrita a ambientes temporários, os quais, cada vez mais, estão sendo ocupados pela intervenção humana.

O fato de viverem e se reproduzirem exclusivamente em poças de chuva durante uma época do ano, aliado ao desconhecimento sobre seu ciclo de vida, coloca os peixes das nuvens em uma verdadeira corrida contra a extinção, conforme salientado por Yuri Abrantes.

O biólogo explica que os principais fatores humanos que contribuem para a perda de habitats dos peixes incluem a expansão urbana, desmatamento para plantações agrícolas, duplicação de rodovias e atividades de mineração.

Dessa forma, encontrar novos animais e estudar sobre eles aumenta as chances de ter estratégias bem-sucedidas nos cuidados desses peixes tão importantes para a região.

 

Fonte: UOL

Imagens: UOL, Wikimedia

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