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E se todos os animais fossem inteligentes como o homem?

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Você já assistiu ou conhece um pouco sobre o Planeta dos Macacos, não é? Na parte principal da trama, um homem se encontra em um mundo governado por primatas superinteligentes que dão ordens para humanos escravizados. Pierre Boulle é o idealizador do livro de 1963, que deu origem à franquia do cinema. Ele dizia que se tratava de uma “fantasia social” fomentada pela curiosidade em razão dos valores invertidos. No entanto, e se a fantasia se expandisse para incluir todas as outras espécies da Terra? Ou seja, e se todos os animais fossem inteligentes como o homem? Será que alguma criatura acabaria dominando as outras ou teríamos paz em meio ao “caos”?

Apesar da possibilidade de isso acontecer ser improvável, explorar a questão traz a tona detalhes interessantes sobre a natureza humana. Dado o nosso longo histórico de exterminar outras espécies, assim como a nossa própria, não há razão para pensar que nós ou os animais se comportariam de maneira adversa. A Terceira Guerra Mundial, provavelmente, aconteceria.

Imagine as consequências do conflito em “O Planeta dos Macacos”. Agora multiplique por cem e pronto: teríamos o cenário ideal – pensando no contexto ampliado. “Se isso acontecesse, caos seria pouco para definir as consequências”, afirma Innes Cuthill para a BBC. Ele é ecologista comportamental da Universidade de Bristol, na Grã-Bretanha.

“Nós acabaríamos por exterminar uns aos outros”, concorda Robin Dunbar, psicólogo evolucionista da Universidade de Oxford. “O ser humano não é particularmente elogiado pela curiosidade e pela maneira pacífica de agir quando se trata de conhecer novas pessoas”.

Cenário hipotético e bastante amistoso

E se todos os animais fossem inteligentes como o homem? Quem venceria o confronto das espécies superinteligentes? Muitos animais, claro, não teriam chance. Herbívoros precisam passar a maior parte do tempo comendo grama para adquirir energia suficiente para funcionar. Isso limita o tempo que eles poderiam investir em comunicação, fabricação de ferramentas, construção de cultura ou engajamento em combate. Ademais, comedores de proteína teriam uma certa vantagem.

Tubarões, golfinhos e baleias assassinas estariam fora da guerra civil, já que estão enclausurados no oceano. Entretanto, nada impede que as criaturas oceânicas possam se engajar em suas próprias lutas pelo poder aquático. Da mesma forma, animais que não podem sobreviver fora de seu nicho específico – o pântano, o dossel da floresta tropical, o deserto – não seriam capazes de conquistar o mundo. Cada um estaria em seu nicho (ou “reino”) particular.

Já os grandes predadores terrestres (leões, tigres, ursos, lobos e até mesmo não-predadores como elefantes e rinocerontes) poderiam ter sucesso no confronto com a humanidade. Em curto prazo, eles provavelmente representariam a maior ameaça ao nosso domínio. Se fôssemos despidos e jogados na savana ou floresta, eles definitivamente nos derrotariam.

Porém, temos artimanhas ao nosso favor: armas modernas e grande quantidade de indivíduos da espécie “humana”. “Em última análise, acho que os derrotamos no chão. Nós venceríamos”, diz Alex Kacelnik, um ecologista comportamental da Universidade de Oxford.

Batalha entre primos

Com os carnívoros fora do confronto, um novo competidor emergiria: nossos parentes primatas. A nossa tecnologia, segundo Cuthill, nos permitiu chegar aonde estamos atualmente. Em contrapartida, os primatas compartilham muito da mesma fisiologia que nos permite usá-la.

Chimpanzés, orangotangos, bonobos e gorilas podiam acessar nossos computadores e usar nossas armas enquanto desfrutavam dos benefícios de corpos mais fortes e mais ágeis que a forma humana. Eles também poderiam definir rapidamente a criação de tecnologias exclusivas cooptando ferramentas humanas para seu próprio uso.

No entanto, nós temos muito conhecimento acumulado. Para superar a espécie humana, os primatas teriam que entender toda a estrutura tecnológica e não só o resultado já alcançado previamente.

“Se eles recebessem todo esse conhecimento, então teríamos um empate entre humanos e primatas”, diz Josep Call, um psicólogo comparativo da Universidade de St. Andrews. “Se não, apesar de serem um forte candidato, eles não se tornariam a espécie dominante.”

Quem, de fato, venceria a batalha final?

E se todos os animais fossem inteligentes como o homem? Quem venceria a grande guerra entre as espécies? “Não me surpreenderia se algo pequeno ganhasse”, afirma Robin Dunbar. “Meu palpite é o de que provavelmente seríamos vítimas de formas de vida muito mais primitivas; de bactérias e vírus“.

Contudo, mesmo se a humanidade fosse dizimada, os conflitos continuariam. Não há razão para acreditar que qualquer animal com inteligência de nível Homo sapiens teria um comportamento diferente do nosso.

Da mesma forma, o conflito intra-espécie também entraria em jogo. “Lembre-se que os animais não resolvem problemas para o bem de suas espécies”, diz Kacelnik. “Eles competem dentro da espécie em benefício de sua própria”.

Tudo dito, a situação provavelmente acabaria mal para quase todas as espécies. Os ecossistemas entrariam em colapso, deixando apenas os sobreviventes mais corajosos: as bactérias, as baratas e talvez os ratos. Mesmo assim, o mundo provavelmente não voltaria para o estado pacífico. Como diz Cuthill, qualquer espécie que fosse deixada “provavelmente estragaria o planeta como nós estamos fazendo”.

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