Recentemente, muitos pesquisadores passaram a questionar, qual o papel de nossos hábitos de consumo, em especial alimentares, no surgimento de novas pandemias. Desse modo, citamos o recém-lançado livro “Pandemias, saúde global e escolhas pessoais”, dos pesquisadores brasileiros Cynthia Paim e Wladimir Alonso. No livro, os pesquisadores analisam como a maioria dos surtos de doenças nas últimas décadas podem estar relacionados ao consumo de carne. Dito isso, o consumo de proteína animal também pode desencadear novas pandemias.
Durante a pesquisa, os pesquisadores analisaram surtos de doenças como Ebola, HIV, H1N1 e também, da Covid-19. Por exemplo, o Ebola e o HIV provavelmente tiveram origem na caça de morcegos e macacos, respectivamente. Além disso, no caso da H1N1, por exemplo, essa relação estaria nos sistemas intensivos de produção de carne, que favoreceram o surto.
“Quanto maior o consumo de carne, maior o risco de novas pandemias”
Os autores do livro possuem doutorado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. Mas, além disso, ambos possuem experiência com pesquisas sobre o doenças infecciosas e epidemiologia. “Uma pandemia pode fazer o progresso e o desenvolvimento humano voltarem sei lá quantos anos, deveríamos falar mais do tema e suas causas, de como evitá-las”, afirma Paim.
Porém, diante da atual pandemia, ainda estamos fazendo perguntas básicas. Afinal, como tudo aconteceu? Assim, ainda que não possamos responder essas perguntas, os pesquisadores afirmam que já podemos nos proteger para o futuro. Dito isso, um dos principais causadores e disseminadores de pandemias está relacionado ao consumo de animais. “No caso dos animais silvestres, existem mercados de animais vivos, os mercados úmidos“, afirma Paim. De acordo com a autora, esses lugares se comportam como verdadeiros “reservatórios para vírus de diversas características genéticas”. Isso porque, são ambientes precários e com muitos animais distintos.
Desse modo, “o consumo da carne diretamente não tem tanto impacto nas pandemias e epidemias”. Isso porque, “uma vez estabelecida a transmissão sustentada entre humanos, o contágio já se desligou da questão animal”, afirma Paim. Entretanto, com mais consumo, haverá mais sistemas de criação e mais animais. Logo, as chances de contaminação por possíveis vírus são multiplicadas muitas vezes. “É um perigo a gente ficar jogando essa roleta russa e, de repente, chegar uma pandemia que faça o progresso e o desenvolvimento humano voltarem sei lá quantos anos”, afirma a pesquisadora.
Outros problemas decorrentes do consumo de carne
Podemos afirmar que a evolução na resistência a antibióticos deriva diretamente do consumo de carne. Sendo assim, isso também acontece por conta de um uso irresponsável de automedicação. Mas, para além disso, se relaciona ao fato de que, “73% dos antibióticos vendidos no mundo são usados na pecuária”, afirma Paim. “Eles são uma forma de manter um animal vivo até a idade do abate”, completa.
E claro, podemos sentir os efeitos disso na atual pandemia. Mas também, em outras doenças. “Em termos diretos, no mundo já temos 700 mil mortes por infecções resistentes a antibióticos, no Brasil são quase 25 mil mortes por ano. Se nada for feito, estima-se que esse número possa chegar a 10 milhões de pessoas por ano, o que é mais que diabetes e câncer”, afirma Paim.
O livro “Pandemias, saúde global e escolhas pessoais” está disponível para download gratuito. Para saber mais, basta clicar aqui.