O mundo está vivendo uma nova pandemia, dessa vez, causada pelo novo coronavírus. O que começou como um surto na cidade Wuhan, na China, logo se espalhou por todo o país. Ele não parou por lá e novos casos puderam ser notados na Ásia, dia após dia. O vírus chegou então à Europa e até então, ninguém imaginava que seria o maior terror em alguns países, como Itália, que registrou mais mortes todos os dias.
O vírus já está presente em todos os continentes e cresce o número de infectados e mortos por ele, a cada momento. E por ser um vírus mortal, as autoridades de todo mundo estão se mobilizando com a situação.
O contágio acontece pelo ar e tendo contado com alguém infectado. É até estranho de se pensar que alguém que se infecte com o coronavírus peça desculpas por isso, mas no Japão isso acontece. Se a pessoa doente for famosa então, o pedido de desculpas é quase uma obrigação.
Conceito
De acordo Daisuke Onuki, professor do Departamento de Estudos Internacionais da Universidade Tokai, no Japão, é costume que as pessoas infectadas se desculpem. Isso porque é subentendido que elas estão provocando um transtorno ou incômodo, e em japonês, a palavra que descreve isso é “meiwaku”.
“É muito importante seguir essa regra para sobreviver em nosso país. Não podemos causar meiwaku, expondo as outras pessoas a situações inconvenientes ou provocando ansiedade nelas”, explica.
O ator Junichi Ishida, de 66 anos, foi alvo dos defensores da vergonha moral exatamente por isso. Em meados de abril ele estava na ilha japonesa Okinawa e começou a se sentir mal. Ele então foi para Tóquio com suspeita de pneumonia e foi internado quando recebeu o diagnóstico positivo para COVID-19.
O ator escreveu uma cara se desculpando publicamente por todo o transtorno que ele diz ter causado se infectando. Mas mesmo assim ele ainda foi criticado nas redes sociais. As pessoas queriam um roteiro detalhado da viagem de Ishida. E também o chamaram de irresponsável por ter saído de Tóquio, mesmo com a orientação do governo para permanecer isolado.
Pressão social
Até terça-feira dessa semana, o Japão tinha 16.581 casos de infecção confirmados e 830 mortes. E desde o começo da pandemia, o país nunca implementou medidas como o lockdown.
Em abril, o governo central decretou estado de emergência mas não impôs uma quarentena obrigatória. As autoridades das províncias do país recomendavam que seus moradores não saíssem da sua região e também estimulou as empresas a fecharem suas portas por um tempo.
Mesmo que o estado de emergência tenha sido suspenso em 39 províncias, as orientações de isolamento continuam no país todo. E segundo Onuki, o que fez com que as pessoas continuassem em casa não foi a força policial, mas sim a pressão social.
Yuta Tomikawa era o âncora de um telejornal que ignorou alguns sintomas relacionados ao coronavírus e foi trabalhar. Quando a confirmação do teste dele saiu, a TV onde ele trabalhava anunciou medidas de proteção e comunicou a infecção do seu principal âncora.
Depois de uns dias eles falaram de novo sobre o assunto e leram o pedido de desculpa de Tomikawa. Mas as críticas ao profissional continuaram e ficaram mais fortes quando mais outros dois casos foram confirmados na mesma emissora.
Desculpas
O pesquisador do Departamento de Psicologia da Universidade Meiji Gakuin, Sosuke Miyamoto, enfatiza mais ainda o conceito de meiwaku. Ele explica que mesmo que a pessoa não provoque dano direto a uma outra pessoa, o pedido de desculpas é esperado pelo simples fato de desencadear um efeito psicológico de desconforto. Ou então uma preocupação extra.
Nós, que não somos acostumados com a cultura japonesa, temos um pouco de dificuldade de entender porque uma pessoa infectada teria que pedir desculpas. Miyamoto explica que, quando alguma figura pública fica doente, ela atrai a atenção de várias pessoas que ficam preocupadas e ansiosas por causa do estado de saúde delas.
Enquanto no Brasil, o mais comum é que as figuras públicas agradeçam pelo interesse e solidariedade, no Japão, elas pedem desculpas pelo incômodo com uma questão de saúde pessoal.
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