Um estudo recém-publicado na revista Nature trouxe informações sobre o momento incrível em que o coração começa a pulsar nos embriões de peixe-zebra (Danio rerio). Essa é uma espécie notável pela sua capacidade de regeneração cardíaca.
Pesquisadores da Escola Médica de Harvard e da Universidade de Harvard lideraram a investigação, revelando que as células cardíacas do peixe-zebra iniciam seus batimentos de maneira súbita e coordenada, formando um movimento cardíaco sincronizado.
O processo de pulsação celular acontece à medida que os níveis de cálcio e os sinais elétricos aumentam.
Curiosamente, cada célula tem a capacidade de pulsar de forma independente, e os batimentos podem iniciar em locais distintos, conforme destacado pelos pesquisadores.
Compreender a biologia fundamental dos batimentos cardíacos desses peixes pode trazer luz sobre os distúrbios do ritmo cardíaco humano.
Adam Cohen, coautor sênior do estudo e professor de biologia química em Harvard, enfatiza: “O coração bate cerca de 3 bilhões de vezes em uma vida humana típica e nunca deve fazer uma pausa. Queríamos entender como essa incrível máquina entra em funcionamento pela primeira vez”.
A pesquisa começou com a busca por uma questão científica intrigante, com o objetivo de unir a experiência do laboratório de Cohen em imagens de atividade elétrica com o interesse em células de peixe-zebra, apresentado pelo laboratório de Sean Megason, professor de biologia de sistemas na Escola Médica de Harvard.
Mistério
Os pesquisadores se depararam com um mistério intrigante. Diversas hipóteses foram consideradas: talvez algumas células embrionárias iniciassem os batimentos, e a zona pulsante se expandisse gradualmente, ou talvez o coração começasse com batimentos suaves que ganhassem força ao longo do tempo.
Contudo, a revelação foi surpreendente: todas as células cardíacas dos peixes-zebra passaram a bater de forma sincronizada e repentina.
Esse fenômeno foi identificado pelos cientistas por meio do uso de proteínas fluorescentes e imagens microscópicas de alta velocidade. Adam Cohen descreveu a descoberta como se alguém tivesse acionado um interruptor.
Experimentos adicionais indicaram que, a cada batimento, uma região específica do coração disparava primeiro, desencadeando uma onda elétrica que se propagava rapidamente pelo restante das células. Curiosamente, o processo iniciava em pontos diversos nos diferentes peixes-zebra.
Bill Jia, pós-graduando em conjunto nos laboratórios de Cohen e Megason e autor principal do estudo, destacou a singularidade do coração embrionário.
Isso porque, ao contrário do coração adulto, em que uma população especializada de células marca-passo conduz os batimentos cardíacos, a maioria das células cardíacas embrionárias tem a capacidade de pulsar independentemente, tornando imprevisível a localização dos primeiros batimentos.
Cobaia ideal
O peixe-zebra, devido à sua transparência, crescimento rápido e desenvolvimento cardíaco em apenas 24 horas, é um modelo valioso para estudar o coração.
Sean Megason sugere que o processo de desenvolvimento descoberto pode ser conservado em todas as espécies, incluindo os humanos.
Assim, a esperança é que, no futuro, essa descoberta contribua para a compreensão das origens de irregularidades cardíacas, como arritmias, em seres humanos.
Observando como o coração se desenvolve, será possível entender mais sobre diferentes mecanismos de controle, o que pode fornecer percepções valiosas sobre o que acontece quando esses mecanismos falham, explica Megason.
Sobre o peixe-zebra
O peixe-zebra (Danio rerio) é originário do sul da Ásia, mais especificamente de regiões como Índia, Paquistão, Bangladesh e Nepal.
No entanto, tornou-se uma espécie comum em aquários ao redor do mundo devido à sua resistência, fácil reprodução e ao fato de ser um organismo modelo valioso em pesquisas científicas.
Esses peixes pequenos e listrados são frequentes alvos de estudo por conta da sua aparência que fica translúcida na água durante a fase embrionária. Assim, facilita a observação de desenvolvimento e processos biológicos.
Fonte: Revista Galileu
Imagens: Jornal da USP, Zooplus
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