Curiosidades

Heinrich Ratjen, o atleta olímpico que foi criado como menina

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Intersexo é o termo que abarca um grupo de variações congenitais de anatomia sexual ou reprodutiva. As pessoas que são enquadradas dentro deste espectro não se encaixam “perfeitamente” nas definições tradicionais de “sexo masculino” ou “sexo feminino”. Isso significa que não é possível determinar seu gênero de imediato, uma vez que as características sexuais dessas pessoas diferem da estrutura típica. Por exemplo: a pessoa pode ter nascido com um mosaico genético em que parte das células possui cromossomo XX e a outra parte possui cromossomo XY. Parece complicado de compreender? Bom, saiba que é importante ao menos ter noções básicas sobre o assunto. Até porque aproximadamente 2% da população mundial é formada por intersexuais. Uma dessas pessoas, inclusive, é o Heinrich Ratjen, o atleta olímpico que foi criado como menina.

As características fisiológicas podem se manifestar no nascimento e, às vezes, apenas na puberdade. Imagina o que se passa na cabeça de uma criança que não se encaixa nem lá e nem cá? Não podemos esquecer o fato de que estamos em uma sociedade que valoriza a estética e os padrões pré-determinados. O “diferente” pode ser visto como “errado”, “estranho” ou qualquer discriminação do tipo. Como lidar com tudo isso ao mesmo tempo em que você precisa se “definir” na caixinha azul ou rosa? Às vezes, a vida nos usurpa até mesmo a possibilidade de nos reconhecermos como pessoas acima de tudo.

Crescimento conturbado

Na cidade alemã de Brémen, ao tardar do dia 20 de novembro de 1918, uma criança nascera como intersexual. Ou seja, não foi possível reconhecer o órgão genital de imediato: não era nem feminino e nem masculino. Por isso, na confusão, a parteira acabou induzindo a feminilidade na criança recém-nascida, a qual recebeu o nome de Dora.

Apenas um ano depois, o pediatra examinou cuidadosamente o bebê e deu o veredito final, muito semelhante ao julgamento da parteira: “Bem, então é menina!”. De qualquer forma, a família Ratjen já tinha três filhas. Dora seria apenas mais uma dentre elas.

Os anos se passaram. Dora amadureceu e, por sua vez, não se reconhecia nas roupas apertadas e nas tranças de seu cabelo longo. Lá dentro, bem lá dentro, ela sempre se sentira como um garoto, embora não falasse sobre isso com seus pais. Mesmo com os problemas de identidade, Dora continuou seguindo os seus sonhos. Ela (ou ele) sempre tivera vontade de se tornar atleta e até ganhou o campeonato local de salto em altura. Foi um triunfo, mas existia algo fora de contexto.

Aos poucos, um desconforto psicológico fora surgindo em seu consciente. Isso se deu principalmente pela dificuldade em esconder sua masculinidade: Dora nunca se despia no chuveiro. Mesmo em sua roupa íntima, não se atrevia a aparecer diante das meninas-atletas.

Ruptura

Os sonhos continuaram falando mais alto, apesar de tudo. Aos 18 anos, Dora foi selecionada na reserva olímpica de atletas germânicos. A partir daí, as coisas só foram ganhando cada vez mais proporções em nível profissional. Em 1936, ela se apresentou nas Olimpíadas e ficou em 4º lugar, sendo recordista mundial depois de somente dois anos. Dora finalmente se encontrara e estava feliz com todos os novos e prestigiosos acontecimentos.

Enquanto voltava para casa em um dia qualquer, após competição na Europa, ela só conseguia pensar em todos os frutos que já estava colhendo. Os problemas continuavam, mas ela estava bem. Contudo, de repente, a sua vida virou de cabeça para baixo. Um funcionário da ferrovia denunciou-a para a polícia por ter a plena certeza de que Dora era um “homem” com “vestimentas de mulher”.

Um processo criminal foi movido contra a jovem atleta. Após exames, a comissão médica constatou que Dora pertencia ao gênero masculino, mesmo com a grande cicatriz na virilha. Muitas teorias conspiratórias surgiram a partir da polêmica e a maioria delas não tinha fundamento algum. No fim das contas, Dora nunca se sentira como Dora. Ela instantaneamente mudou seu nome, recebeu novos documentos e, a partir de 11 de janeiro de 1939, oficialmente se “entendeu” como Heinrich Ratjen.

O sonho em ser atleta ainda estava lá, mas se reconhecer dentro do gênero masculino já era o primeiro passo para realmente estar bem consigo mesmo. E aí, o que achou da história sobre o atleta olímpico que foi criado como menina? Não se esqueça de deixar o seu comentário.

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