Mundo afora

O “buraco azul” no céu da Suécia que permite observar a aurora boreal

0

O céu da cidade de Abisko, localizado a 250 km ao norte do Círculo Polar Ártico, ao norte da Suécia, possui um “buraco azul”, um pedaço de céu limpo que oferece boa visibilidade permanente, independente dos padrões climáticos das vizinhanças. Ele se estende por 10 a 20 km² sobre o vilarejo, o lago Torneträsk e o Parque Nacional de Abisko. Isso faz com que a cidade seja um dos melhores locais para observar a aurora boreal.

“Abisko e o norte da Suécia formam realmente um lugar ideal para observação”, afirma Erik Kjellström, professor de Climatologia do Instituto Sueco de Hidrologia e Meteorologia. 

“Isso ocorre porque ela fica em uma região oval que existe em torno dos polos magnéticos da Terra e tem uma estação do ano escura muito longa (as observações da aurora ocorrem entre meados de agosto e o mês de abril), de forma que há forte ocorrência da aurora boreal. Só é necessário que não haja nuvens.”

Kjellström explica que Abisko deve essa vantagem à sua localização no lado oriental dos Alpes Escandinavos, que percorrem a fronteira entre a Suécia e a Noruega.

Håkan Grudd, coordenador de apoio à pesquisa e subgerente da Estação de Pesquisas Científicas de Abisko, aponta mais detalhes sobre o local:

“O vento dominante nessa região vem do oeste, o que significa que massas de ar úmido do oceano Atlântico precisam erguer-se até altitudes maiores (mais frias) para atravessar os Alpes Escandinavos. Quando isso acontece, formam-se nuvens, e o ar perde umidade com a precipitação. Em Abisko, no outro lado das montanhas, o ar fica seco e desce até altitudes menores – as nuvens se dissipam, e surge o ‘buraco azul’.”

Por isso, é comum que Abisko atraia fotógrafos profissionais e viajantes que desejam ver a aurora boreal.

Fotografando a aurora boreal

Foto: Getty Images/ BBC

O fotógrafo e empresário Chad Blakley se mudou para Abisko em 2018, quando era um jovem recém-casado. Ele e sua esposa sueca, Linnea, decidiram abandonar suas vidas profissionais nos Estados Unidos. 

Blakley conseguiu um emprego no setor de limpeza do popular hotel STF Abisko Turiststation, no Parque Nacional de Abisko. “Aprendi sobre o buraco azul por experiência própria”, afirma. 

No começo da sua carreira, ele passava todas as noites possíveis fotografando a aurora boreal no parque nacional.

“Você podia ver um buraco nas nuvens diretamente sobre a vila, enquanto o céu sobre o horizonte muitas vezes estava nublado e cheio de neve em todas as direções.”

O casal fundou uma agência de turismo especializada na aurora boreal chamada Lights Over Lapland. Para as pessoas que não conseguem viajar para aquela região remota da Suécia, eles instalaram uma câmera fixa que, há mais de uma década, tira uma fotografia. Em seguida, a empresa colocou uma câmera que transmite ao vivo, para que as pessoas possam assistir às luzes em tempo real.

“O buraco azul ajudou Abisko a estabelecer sua reputação”, afirma Blakley. 

Atualmente, Blakley está instalando a primeira câmera 8k em tempo real do mundo para visualizar a aurora boreal em 360 graus. Isso permitirá às pessoas ver o fenômeno ao vivo na próxima estação, utilizando óculos de realidade virtual.

Guias nativas

Foto: Getty Images/ BBC

A aurora boreal é a principal atração de Abisko nos meses de inverno. Mas além disso, o microclima também oferece outros eventos espetaculares, como o “arco-íris lunar”, também nomeado de halo lunar. Ele acontece quando a luz da Lua é refletida e refratada por gotículas de água e cristais de gelo suspensos no ar em volta do buraco azul.

No entanto, Anette Niia e Ylva Sarri, que fazem parte da comunidade Sámi, nativa da Suécia, afirmam que Abisko é muito mais do que o seu buraco azul. Existem aproximadamente 70 mil nativos Sámi vivendo na região ártica e subártica da Noruega, Suécia, Finlândia e na península de Kola, na Rússia.

“O buraco azul é algo apresentado pelas agências de turismo”, afirma Niia, que visita Abisko desde a infância. Ela acrescenta: “para nós, Sámi, Abisko é especial por outras razões”.

“Melhor emprego do mundo”

Foto: Getty Images/ BBC

O cientista que se tornou fotógrafo, Peter Rosén, se tornou pesquisador ambiental do Centro de Pesquisa de Impactos Climáticos da Universidade de Umeå, também no norte da Suécia. Em 1998, sua carreira o trouxe de volta para Abisko.

Após chegar em Abisko, Rosén aprendeu rapidamente sobre o buraco azul e ficou fascinado pela aurora boreal. Em 2001, ele fez as suas primeiras fotos da aurora boreal. Atualmente, elas fazem parte de exposições permanentes em galerias pelo norte da Suécia, incluindo o Hotel de Gelo, na cidade de Jukkasjärvi.

Já no ano de 2012, Rosén havia deixado seu emprego em Ciência Ambiental para ser fotógrafo em tempo integral e criou a Lappland Media, que ensina a forma certa dos visitantes de fotografar a aurora boreal.

“Ver como as pessoas expressam seus sentimentos depois de ver as luzes me faz sentir que tenho o melhor emprego do mundo”, disse Rosén. “Nunca me arrependi de abandonar minha vida como pesquisador, porque agora estou vivendo o meu sonho.”

Fonte: BBC

Pesquisa aponta que jovens que jogam videogame são mais rápidos para tomar decisões

Artigo anterior

Pescador se surpreende com nuvem de insetos às margens do Rio Araguaia

Próximo artigo

Comentários

Comentários não permitido