Curiosidades

O relato de um homem que conheceu os canibais brasileiros

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Hans Staden foi um aventureiro alemão que ficou mundialmente conhecido graças às suas viagens ao Brasil, no século XVI. Staden nasceu em Homberg, na Alemanha, em 1525. Ainda jovem, aos 23 anos, ele embarcaria na maior aventura de sua vida: viajar para a América. Em 1548, ele partiu da Alemanha rumo ao Brasil, mas a viagem não ocorreu como ele planejou, já que navio acabou naufragando nas proximidades da praia de São Vicente. Foi quando ele foi capturado por povos nativos. Eram os conhecidos tupinambás, que o mantiveram em cativeiro durante nove meses.

Após ser libertado, Staden retornou ao seu país natal e relatou sua experiência como prisioneiro. O relato, que foi transformado em um livro, acabou ficando muito famoso na Europa da Idade Moderna. O seu relato é um dos registros mais detalhados e completos sobre a cultura dos tupinambás e sobre a prática de canibalismo. Embora o relato esteja carregado do ponto de vista do autor, com claras observações de uma forte moral religiosa e visão etnocêntrica, não deixa de ser um registro importante.

O livro escrito por Hans Staden foi lançado em 1557, na Alemanha. Hoje ele é conhecido no Brasil como as Duas Viagens ao Brasil, embora seu nome original, quando lançado no século XVI, fosse bem maior. Era o longo História Verídica e descrição de uma terra de selvagens, nus e cruéis comedores de seres humanos, situada no Novo Mundo da América, desconhecida antes e depois de Jesus Cristo nas terras de Hessen até os dois últimos anos, visto que Hans Staden, de Homberg, em Hessen, a conheceu por experiência própria, e que agora traz a público com essa impressão. Sim, era esse ´parágrafo’ o título original do relato.

A viagem ao Brasil

O mercenário alemão saiu de sua cidade, Homberg rumo à América no primeiro semestre de 1548. Ele se dirigiu primeiro para Kampen, na Holanda, de lá seguiu para Setúbal, e finalmente, Lisboa, em Portugal. Com os portugueses, ele conseguiu um navio, chamado Penteado, que partiu rumo ao Brasil com o propósito de fazer comércio.

A frota da expedição contava ainda com outros dois navios. Quando o navio em que estava Staden se aproximou da costa da região de São Vicente, um imprevisto aconteceu: o navio principal naufragou. No relato, o alemão não conta detalhes de como isso aconteceu. Depois de perderem o navio, ele e os seus companheiros viveram na ilha de Santa Catarina durante dois anos. Um período do qual ele se refere como tendo sido muito difícil, devido aos perigos e à fome.

Depois desse tempo, a expedição se dividiu em dois grupos. Um deles iria para Assunção, no Paraguai, e o outro iria rumo a São Vicente. Porém, durante o trajeto, uma tempestade afundou o navio onde Staden estava. Ele e os outros sobreviventes avistaram uma vila de cristãos chamada Itanhaém, nas proximidades de São Vicente.

A convite dos portugueses, Staden começou a trabalhar como artilheiro em um forte que dava proteção a São Vicente. Certo dia, Staden foi surpreendido por vários indígenas que o cercaram e o capturaram. Ele foi levado pelos nativos e mantido como prisioneiro para que fosse morto e devorado pelos tupinambás. Esses indígenas eram conhecidos por serem canibais, eles acreditavam que, ao comer carne humana, eles adquiriam as qualidades do seu adversário.

Durante nove meses, Staden foi mantido como prisioneiro, e nesse período, foi espancado diversas vezes. Além de ser constantemente ameaçado de morte. Após esse tempo, ele foi finalmente libertado graças aos franceses que negociaram a sua liberdade.

O relato

No livro, Staden relata em detalhes como foram os seus noves meses como prisioneiro dos canibais. Sobre a captura: “Quando eu estava andando na floresta, eclodiram grandes gritos dos dois lados da trilha, como é comum entre os selvagens. Os homens vieram na minha direção e eu reconheci que se tratavam de selvagens. Eles me cercaram, dirigiram arcos e flechas contra mim e atiraram. Então gritei: ‘Que Deus ajude minha alma!’. Nem tinha terminado estas palavras, eles me bateram e empurraram para o chão, atiraram e desferiram golpes sobre mim”.

Quanto aos costumes e ameaças sofridas: “Seus costumes ainda não me eram tão conhecidos como os foram depois, e, portanto, pensei que agora estavam se preparando para matar-me. Mas logo chegaram os irmãos Nhaêpepô-oaçu e Alkindar-miri, que me haviam aprisionado, e disseram que me haviam presenteado ao irmão do pai deles, Ipiru-guaçu, em sinal de amizade. Ele me guardaria e mataria quando quisesse me comer, o que faria, graças a mim, ganhar mais um nome”.

Ele descreve também as terras, vegetação e os nativos: “A América é uma terra extensa. Existem lá muitas tribos de homens selvagens com diversas línguas e numerosos animais estranhos. Tem um aspecto aprazível. As árvores estão sempre verdes. Lá não crescem madeiras parecidas com as nossas madeiras de Hessen. Os homens andam nus. Naquela terra, existem também algumas frutas de vegetação rasteira e arbórea, das quais homens e animais se alimentam. As pessoas têm o corpo de cor marrom avermelhada. Isso vem do sol, que as queima assim. É um povo hábil, maldoso e sempre pronto para perseguir e comer os inimigos”.

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