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Os campos de concentração brasileiros que confinaram 90 mil pessoas

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Não eram espaços de extermínio – pelo menos não diretamente. Eles vieram antes dos dos campos de concentração nazistas. Estavam espalhados pelo Ceará no início do século XX e tinham um objetivo equivalente ao nazista: isolamento. Os flagelados eram vistos como “gente imunda” que tentava sobreviver à seca do sertão fugindo para a capital. Esses campos de concentração brasileiros confinaram a fome, a miséria e doenças. No entanto, os rastros foram apagados completamente. O município de Senador Pompeu, a 270 quilômetros de Fortaleza, é o único que ainda guarda ruínas da época. De qualquer maneira, os campos existiram por “pouco” tempo – do início de 1932 ao início de 1933 – quando voltou a chover. Entretanto, o saldo de desgraças foi grande.

Os “flagelados” encontraram nos trens a chance para fugir da seca em todo o Nordeste. Por isso, de maneira estratégica, o governo entendeu que os campos de concentração brasileiros deveriam estar situados próximos às estações ferroviárias. O Campo do Buriti, em Crato, chegou a receber 16.200 pessoas. Com a passagem do tempo, o bairro mudou de nome para Muriti.

Alagadiço

O primeiro dos campos de concentração brasileiros surgiu em Fortaleza, no ano de 1915. Junto à eufórica burguesa da época, chegavam à cidade retirantes da fome. Tudo fora ainda mais potencializado pela grande seca de 1877. O crescimento de habitantes fez com que Fortaleza se tornasse bastante populosa, especialmente na virada do século XIX para o XX. Subsequentemente, vieram também medidas higienistas.

O governador Benjamin Liberato Barroso construiu o primeiro campo. Era chamado de Alagadiço, com localização ligada à zona oeste da cidade. A proposta inicial era aparentemente abrigar os refugiados. Mínimas condições de sobrevivência seriam disponibilizadas.

Esse processo durou o ano todo de 1915, até ser desativado em dezembro. Seria o fim da estratégia higienista? Infelizmente não. Uma nova estiagem acometeu o Nordeste em 1932. Com isso, o projeto fora retomado com mais intensidade.

Outros sete campos se espalharam estrategicamente em rotas de migração pelo Estado do Ceará. Nas estações de trem, eram encaminhados para os campos. O pretexto era o “trabalho garantido” nas regiões.

De acordo com Frederico de Castro Neves, professor de História da Universidade Federal do Ceará (UFC), os campos também eram instalados ao redor de alguma obra estrutural. Isso atraía a mão-de-obra. “O campo estava vinculado a uma obra pública, a uma situação de trabalho”, explica para a BBC Brasil.

Estrago inafiançável

Os campos de concentração brasileiros existiram ao longo de um ano. Funcionaram do início de 1932 ao início de 1933, quando voltou a chover. Porém, os estragos já haviam sido feitos. Mesmo sendo difícil confirmar a quantidade de pessoas que morreram naquela época, é possível traçar linhas.

Neves calcula que, em janeiro de 1933, quando havia apenas quatro dos sete campos, 90.000 pessoas viviam espalhadas por eles. “O maior de todos foi o de Buriti, no sul do Estado, na região do Crato. Ali chegou a ter 60.000 pessoas”, informa para a BBC Brasil.

A historiadora Kênia Sousa Rios, também da UFC, relata outros dados em seu livro “Isolamento e poder – Fortaleza e os Campos de Concentração na seca de 1932” . Somente no campo de Ipu, a oeste do Estado, houve registros de mais de 1.000 mortos. Todos entre 1932 e 1933.

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