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São 170 anos que ninguém sabe como a anestesia geral funciona. Mas pode-se estar chegando perto

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A anestesia geral envolve uma mistura de drogas para tornar as pessoas inconscientes, tirar a sua dor e induzir a amnésia. Frequentemente, um paralítico é adicionado a esse coquetel para facilitar a inserção de um tubo de respiração, impedir que os pacientes se movam e permitir que os cirurgiões operem em áreas em que são inacessíveis quando os músculos estão tensos.

Por mais de 100 anos, os hospitais usam a anestesia geral para fazer cirurgias de rotina. E por mais que seja sabido que ela nocauteia todos que a usam e que mexe com a consciência das pessoas, o mecanismo real por trás dela era desconhecido quando ela foi usada pela primeira vez. E até hoje, não se tem uma explicação completa.

“Esse é um grande mistério há cerca de 170 anos. A resposta direta é ‘ninguém realmente sabe'”, disse Paul Myles, pesquisador de anestesia Alfred Hospital e Monash University.

Mas isso não impediu que os cientistas pensassem em hipóteses nesses últimos 170 anos. Não basta somente colocar as pessoas para dormir sem entender o que acontece em um nível biológico mais profundo.

Funcionamento

Em 1847, dois pesquisadores propuseram uma ideia chamada de “teoria lipídica”. Segundo ela, a anestesia afeta as membranas gordurosas das células do cérebro para assim suprimir a atividade neuronal normal.

Mas com o passar das décadas essa teoria foi perdendo força para outras ideias. Como a de que certos receptores cerebrais se ligam aos anestésicos e isso que causa a perda de consciência.

“Pesquisadores de todo o mundo isolaram certos tipos de receptores no cérebro e mecanismos subcelulares que criam esse estado de hipnose reversível ou inconsciência. Estamos chegando perto de descobrir como os anestésicos gerais funcionam e por que eles funcionam, mas há muito mais que não se sabe até o momento”, disse Myles.

Mesmo assim, somente em 2019 se viu um número de artigos afirmando que o mecanismo da anestesia geral foi resolvido de formas completamente diferentes. Por mais que os artigos possam parecer que eles tem respostas, as coisas não são tão simples.

Uma pesquisa que foi publicada no PNAS deu uma explicação sobre onde os anestésicos agem, se é nos canais iônicos, que são os portões incorporados nas membranas celulares. Ou então na membrana de alguma forma que ainda não é entendida.

O que a equipe concluiu foi que, por mais que os anestésicos atuem nos canais de íons, existe uma etapa intermediária que envolve lipídios. O estudo é interessante, mas ainda não é uma resposta final. Assim como todos os artigos anteriores.

“O artigo destaca algumas pesquisas muito elegantes que demonstram um mecanismo de como os anestésicos podem afetar o cérebro”, disse Myles.

“Provavelmente faz parte da história, mas claramente não será toda a história, porque é inconsistente com alguns outros tipos de pesquisa que são muito mais mecanismos baseados em receptores ou poros”, continuou.

Certa e errada

A pesquisa sobre anestesia geral parece estar certa e errada ao mesmo tempo. Isso parece improvável, mas existe uma explicação para isso. Na hipótese lipídica, a ideia era que todos os anestésicos funcionassem da mesma forma em uma perspectiva molecular.

Mas hoje existem vários anestésicos gerais que são usados na medicina. E todos tem estruturas moleculares diferentes. E seria uma coincidência se todos funcionassem da mesma forma.

“É isso que intriga os pesquisadores há muito tempo, porque os medicamentos anestésicos (gases ou vapores ou medicamentos intravenosos) com tipos completamente diferentes de estruturas, todos parecem criar esse estado final que parece idêntico”, explicou Myles.

“Mas eles claramente não podem estar trabalhando através de um único mecanismo, porque simplesmente não faria sentido, existem muitos tipos diferentes de chaves passando por uma única trava”, ressaltou.

O mais provável é que a falta de consciência seja produzida por vários mecanismos moleculares diferentes e não apenas uma coisa única.

“Esses bloqueios provavelmente estão conectados entre si dentro da célula e você provavelmente pode entrar e ‘desbloquear’ essa célula através de um dos vários mecanismos diferentes. É por isso que isso ainda é muito intrigante. Ainda não sabemos a extensão completa do que são ou como está acontecendo”, concluiu Myles.

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