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A triste história de Ota Benga, o menino que foi mantido em um zoológico

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Todos nós conhecemos o passado racista de nossa sociedade, muito se fala sobre. Mas a verdade é que nós não sabemos de grande parte das histórias assustadoras de décadas atrás. A história de Ota Benga é uma dessas. O jovem foi retirado de seu lar e trancafiado em um zoológico como um animal, junto de outros animais. Aliás, Ota foi tratado como um animal e mesmo aqueles que tentaram defendê-lo passaram por um longo caminho até obter algum resultado.

Por quase um mês, Ota Benga foi exposto no zoológico de Nova York. Como uma atração, a principal do local. As pessoas diziam que Benga era um pigmeu, um tipo de raça muito distante dos humanos. Diziam que ele era o elo perdido entre os macacos e os humanos. Essa foi a principal justificativa utilizada para manter Ota no zoológico como um animal.

Captura de Ota Benga

Dr. Samuel P. Verner foi o responsável pela “captura” de Ota Benga e se autodeclarava como supremacista. Ou seja, ele acreditava na superioridade de uma raça sobre outra. O homem esperava realizar uma feira que celebrasse o imperialismo americano e que mapeasse o progresso humano. Desde os primórdios até as civilizações da época. E foi por essa razão, que o tal Samuel foi escolhido para participar da expedição em busca de material antropológico para a expedição. Naquela época, acreditava-se que os pigmeus pertenciam ao mais baixo degrau da escala evolutiva.

Quando na verdade, essa era apenas uma característica fenotípica de algumas tribos africanas. No entanto, a crença racista acreditava que essa era uma característica de uma raça inferior. Samuel então partiu para o Congo, a fim de encontrar um pigmeu para a exposição. Pouco tempo depois, o homem enviou uma carta aos seus superiores informando de seu progresso, ele teria conseguido o pigmeu. Ota Benga, de acordo com o homem, estava sendo mantido em cativeiro por uma tribo que ficava a “12 dias de caminhada de qualquer colonização branca”.

Por coincidência, essa era a mesma região de Bassongo, local conhecido por ser um mercado de escravos, onde o tráfico humano era frequente. No entanto, essa é apenas uma das inconsistências da versão de Samuel. Na verdade, a história mudava cada vez que ele contava outra vez. Numa das versões dizia-se que o garoto foi negociado com o líder de sua tribo. Outra dizia que Benga foi capturado em uma batalha com inimigos de sua tribo. A única coisa que não mudava entre as histórias era que Samuel teria “salvado” a vida de Benga.

Exposto como animal

Mas o pessoal do Jardim Zoológico de Nova York não estava interessado nas versões de como Ota Benga foi capturado, mas sim em sua exposição. Logo no início do mês de setembro de 1906, Ota foi colocado em uma jaula junto de macacos. Sua presença estava atraindo vários visitantes, cerca de 500 pessoas estavam indo vê-lo de perto. Ao perceber que Benga chamava a atenção dos visitantes, logo o transferiram para um local maior, onde ficaria mais exposto, dessa vez junto de um orangotango. A placa próxima da jaula trazia a seguinte descrição:

Ota Benga, o Pigmeu Africano
Idade: 23 anos. Altura: 1 metro e 52 centímetros
Peso: 46 quilos.
Trazido do Rio Kasai, Estado Livre do Congo, Centro­-Sudeste da África
Exibição organizada pelo Dr. Samuel P. Verner. Todas as tardes de setembro

Exposto como um animal. Ao ver a cena, um pastor negro se indignou com a situação e buscou apoio para pôr fim aquela situação. Buscou amparo dos diretores do zoológico, do prefeito de Nova York, de todas as autoridades possíveis. Todos alegavam que a exposição de Benga era apenas etnológica e puramente normal. Até mesmo o The New York Times concordava com a exposição do homem e após receber críticas por divulgar notícias sobre, o jornal publicou um editorial onde dizia não compreender a comoção contra a exposição. “Ota Benga, de acordo com nossas informações, é um espécime normal de sua raça ou tribo, com um cérebro tão desenvolvido quanto os cérebros de seus outros membros (…) ou sejam eles vistos como os descendentes degenerados de negros comuns, eles são de igual interesse para o estudante de etnologia, e podem ser estudados com lucro”.

Liberdade

Levou quase um mês para que finalmente conseguissem tirar Benga do zoológico. O homem foi levado para o Orfatato-­Asilo Howard Para Órfãos de Cor e depois foi enviado para a Virgínia, onde viveu com Mary Hayes Allen, a viúva do ex-presidente de um seminário e seus sete filhos. No início, Ota parecia feliz, ensinava aos outros tudo o que sabia sobre as florestas e seu dons de caça, mas depois de um tempo começou a se entristecer.

Benga parecia ter vontade de voltar para casa, para seu lar. Uma das músicas que aprendeu na igreja e que sempre cantava, dizia: “Eu acredito que irei para casa / Senhor, tu não me ajudarás?”. Com o tempo, deixou de ser falante, não gostava mais de ensinar sobre o que fazia e nem mesmo de realizar seus rituais. Até que no dia 19 de março de 1916, Benga fez uma fogueira e dançou ao seu redor, mais triste que o normal.

Naquela noite, enquanto os outros dormiam, Benga foi até um galpão de cinza que ficava em frente onde morava, pegou a arma que havia escondido e deu um tiro em seu próprio peito.

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