Curiosidades

Alexa, Siri, Lu, Bia: por que assistentes virtuais são geralmente associadas ao gênero feminino?

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Com o avanço da tecnologia, a IA começou a ganhar ainda mais espaço, mas uma curiosidade que poucas pessoas se atentam é que sempre existem assistentes virtuais femininas.

Atualmente, nomes como Alexa da Amazon, Siri da Apple, Lu do Magalu e Bia do Bradesco, entre outros, simbolizam uma nova geração de assistentes robóticos.

O que as define não é mais uma forma física reconhecível, mas suas vozes suaves e nomes femininos.

Em 2005, antes da existência dos exemplos citados, Clifford Nass, professor de Comunicação da Universidade Stanford, publicou o livro “Wired for Speech: How Voice Activates and Advances the Human-Computer Relationship” (Conectado por discurso: como a voz ativa e avança a relação humano-computador, tradução livre).

Nele, documentou dez anos de pesquisa sobre os elementos psicológicos e de design das interfaces de voz.

Nass concluiu que a voz sintética feminina é percebida como mais apta para ajudar a resolver nossos problemas, enquanto a voz sintética masculina é vista como uma figura de autoridade.

Via Adobe

Sexismo tecnológico

Gisela Castro, coordenadora do grupo de pesquisa em Subjetividade, Comunicação e Consumo e do Comitê de Direitos Humanos da ESPM, destaca que considerações mercadológicas influenciam na escolha das empresas por assistentes virtuais femininas.

Ela afirma que os usuários têm preferência por vozes e nomes femininos. As empresas estão focadas no lucro e, portanto, optam por vozes que sejam amplamente aceitas, visando aumentar suas vendas.

Isso reforça a ideia de que as mulheres estão sempre disponíveis para ajudar. Daí a importância de oferecer mais opções, como vozes masculinas, para diversificar padrões.

Além disso, outra questão relevante é a maneira como as assistentes virtuais femininas lidam com situações de machismo e assédio.

Um relatório divulgado pela Unesco em 2019 classificou como sexista a prática de desenvolver uma assistente virtual que, por padrão, adote voz e comportamentos de interação femininos.

As respostas fornecidas por essas assistentes foram consideradas sexistas e perpeturbadoras de estereótipos de subserviência.

Projeto de denúncia

Com o título “I’d blush if I could” (“Eu ficaria vermelha se pudesse”), o estudo aborda a subserviência “feminina” das assistentes virtuais femininas/IAs e o assédio expresso por outras assistentes digitais.

Desde então, houve mudanças perceptíveis. Um exemplo recente foi a campanha realizada pelo Bradesco em 2021, que incluiu iniciativas para fornecer respostas mais assertivas a mensagens de assédio e preconceito de gênero dirigidas ao seu chatbot, a Bia.

Segundo comunicado do banco, perceberam, em 2020, que a Bia, a Inteligência Artificial do Bradesco, recebeu cerca de 95 mil mensagens contendo ofensas e assédio sexual.

Embora as ofensas persistam, obtiveram uma redução de mais de 40% nos casos de assédio, insultos e outras formas de ofensa.

Via Pexels

O que está errado?

As agressões enfrentadas pela Bia não são casos isolados. O “assédio cibernético” ocorre contra todos os tipos de assistentes virtuais femininas, independentemente de possuírem inteligência artificial ou não.

Desde 2018, a Lu, assistente virtual do Magazine Luiza, tem compartilhado em suas redes sociais as interações recebidas em posts, muitas delas contendo frases de conotação sexual.

Siri e Alexa homens

Em comunicado, a assessoria da Amazon no Brasil esclareceu que, quando alguém dirige comentários impróprios à Alexa, não há qualquer resposta ou manifestação por parte do dispositivo.

Além disso, é possível escolher outros formatos de voz. Por exemplo, selecionar o timbre masculino, que atende pela palavra de ativação “Echo” ou “Amazon”.

A Apple afirmou que seus usuários podem personalizar a Siri de acordo com suas preferências, incluindo a escolha entre voz feminina, masculina ou tratamentos sem gênero.

Papel misógino

De acordo com dados revelados pela Unesco, 73% das mulheres em todo o mundo já foram vítimas de algum tipo de assédio online.

Uma possível consequência é a tecnologia reforçar a ideia de que as mulheres devem ocupar principalmente papéis assistenciais.

Via Pexels

A Nat, da empresa de cosméticos Natura, foi introduzida em 2016 exclusivamente dentro do Facebook, inicialmente para exibir opções de presentes para os consumidores comprarem online.

Em 2018, evoluiu para uma assistente virtual destinada a ajudar consumidores e revendedores a resolverem dúvidas com rapidez.

Atualmente, de acordo com a própria empresa, a Nat se transformou em uma influenciadora digital e porta-voz da marca no X (antigo Twitter) e no TikTok.

Em comunicado, a Natura destacou que a Nat contribui para humanizar o discurso da marca e aproximá-la do público jovem. Ela participa ativamente de conversas para incentivar diálogos que promovam saúde, bem-estar e autoestima das pessoas, especialmente das mulheres negras.

Mesmo assim, ainda existe a ideia enraizada de que as mulheres devem servir. Nesse ambiente, é preciso equilibrar as igualdades de gênero e lutar por uma conscientização, mesmo que seja para robôs.

 

Fonte: Globo

Imagens: Pexels, Pexels, Adobe

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