Análise do DNA de Beethoven traz revelações surpreendentes sobre sua saúde

Uma análise do DNA de Beethoven ajudou a descobrir revelações surpreendentes sobre sua saúde e até mesmo sobre uma possível relação extraconjugal na sua família.

Um grupo de 33 cientistas liderados por centros de pesquisa ingleses e alemães sequenciou o genoma do compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827). Eles usaram DNA extraído de cinco mechas de cabelo.

Os resultados revelaram que Beethoven tinha uma propensão genética a doenças no fígado. Isso, junto da infecção por hepatite B e consumo regular de álcool, provavelmente contribuiu para sua morte.

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Além disso, a pesquisa trouxe revelações da família do compositor, mostrando que algum de seus ancestrais pode ter sido fruto de um caso extraconjugal.

Uma das possibilidades é que o pai do compositor, Johann van Beethoven, não fosse filho biológico de seu avô, já que não há registro de seu batismo.

A princípio, oito mechas de cabelo atribuídas ao músico passaram por análise, sendo que três delas não eram autênticas.

Uma das mechas, que já havia sido objeto de análise química mais detalhada, concluiu que o compositor sofrera intoxicação por chumbo.

Causa da surdez

Os cientistas descartaram a hipótese de que a intoxicação por chumbo tenha sido a causa da surdez do compositor, conforme afirmavam algumas teorias anteriores.

Isso se deve ao fato de que a mecha de cabelo anteriormente usada para testes de intoxicação pertencia na verdade a uma mulher, como foi descoberto após a análise do DNA de Beethoven.

No entanto, a perda de audição que Beethoven começou a experimentar em seus 20 anos não parece ter uma base genética clara e permanece um mistério.

As descobertas são fruto de um projeto de dez anos com direção do geneticista Tristan Begg, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra.

Além disso, o trabalho também contou com a participação do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, de Leipzig, na Alemanha, que ganhou notoriedade por sequenciar o DNA de múmias egípcias e hominídeos pré-históricos.

Begg destacou que a investigação sobre os problemas de saúde no DNA Beethoven incluía episódios frequentes de crise intestinal.

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Depoimento

Segundo os cientistas, em um estudo publicado na revista “Current Biology” hoje, Beethoven expressou o desejo de que sua doença fosse descrita e divulgada após sua morte, em 1802.

A pesquisa não identificou uma explicação genética clara para seus distúrbios auditivos e gastrointestinais. No entanto, constataram que o compositor possuía uma predisposição genética a doenças no fígado.

Infelizmente, seu médico, J. Adam Schmidt, faleceu antes de poder realizar o desejo de Beethoven.

Além disso, o pedido do compositor só foi descoberto cinco anos após sua morte, em uma carta que ele havia escrito a seus irmãos, mas nunca enviada.

Antes de sua morte, apenas algumas pessoas próximas a ele sabiam de sua surdez, mas Beethoven continuou a escrever suas obras.

Investigação genética

As amostras de cabelo supostamente de Beethoven vieram de diversas coleções. Isso inclui o Centro de Estudos Beethoven de San Jose (Califórnia), o museu Casa de Beethoven de Bonn (Alemanha) e um colecionador particular chamado Kevin Brown, membro da Sociedade Beethoven Americana.

Em um comunicado à imprensa, Begg revelou que vinha tentando sequenciar essas amostras há pelo menos uma década.

No entanto, devido à sua idade e condição, foi necessário aguardar o avanço de técnicas de amplificação e leitura genética para realizar a análise.

Assim, como cinco das oito mechas encontradas pertenciam à mesma pessoa, com uma ancestralidade que remonta à população atual do oeste da Alemanha, os pesquisadores acreditam ter encontrado evidências convincentes do DNA de Beethoveen, sem precisar exumar seu corpo.

“Consideramos que essas amostras coerentes entre si sejam quase certamente autênticas”, é o que escreveram os pesquisadores participantes desse projeto. O depoimento saiu na revista “Current Biology”.

Cromossomo Y

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Os pesquisadores sequenciaram o DNA de Beethoven fragmentado das mechas de cabelo e submeteram a um procedimento de leitura repetido 24 vezes.

A informação genética foi remontada em um computador, revelando semelhanças étnicas. Também tem um grau maior de afinidade com pessoas que carregam o sobrenome Beethoven, exceto pelo cromossomo Y.

Os pesquisadores postulam um caso extraconjugal para explicar a discrepância.

Das três mechas que não se revelaram autênticas, uma pertencia ao maestro Ferdinand Hiller. Assim, ele provavelmente não cortou pessoalmente o cabelo de Beethoven.

Embora a análise do DNA não tenha revelado a causa da surdez do compositor, Begg acredita que os cientistas tenham realizado parte do desejo de Beethoven em seu leito de morte.

Fonte: O Globo

Imagens: Estado de Minas, EBC Rádios, Toda Matéria