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Clã Kingston, a seita que é acusada de estupros, incesto e escravidão

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O clã Kingston é uma seita endogâmica, que prega a união entre pessoas da mesma família, e poligamia gerada por uma cisão da igreja mórmon. O grupo foi denunciado em setembro deste ano por 10 vítimas.

No clã, os desejos sexuais masculinos no matrimônio devem ser acatados e não podem ser considerados violações, mesmo que a mulher não consinta.

Na denúncia, as mulheres vítimas do clã Kingston afirmaram que foram doutrinadas e submetidas a abusos físicos, trabalho infantil e obrigadas a ter relações incestuosas.

Além disso, foram apontadas condições análogas ao trabalho escravo, já que suas tarefas eram atribuídas a empresas da seita, e elas não recebiam pagamento. O clã também foi acusado de usar artifícios para fraudar o Estado, o que seria chamado dentro da comunidade de “sangrar a besta”.

O grupo Kingston, conhecido internamente como “a Ordem”, negou as acusações.

A origem do clã Kingston

Foto: Getty Images/ BBC

Charles Kingston foi morador de Salt Lake City e membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também conhecida como igreja mórmon. Ele foi excomungado da igreja em 1929 pela prática de poligamia, que foi erradicada da igreja no final do século 19, como uma condição imposta pelos EUA para outorgar o caráter de Estado a Utah.

Seis anos depois de ser excomungado, um dos filhos de Kingston, Elden, entendeu que sua família deveria continuar a ser regida pelas leis religiosas. Por isso, ele fundou a Sociedade Cooperativa do Condado de Davis, o nome oficial do clã Kingston. O culto religioso deles é denominado Igreja de Cristo dos Últimos Dias.

Eles são regidos por um sistema hierárquico. Na parte superior da pirâmide, está o “profeta”, um homem que deve ter “sangue Kingston puro” e que é considerado pelos fiéis como descendente direto de Jesus Cristo.

Desde 1987, o cargo de profeta é ocupado por Paul Elden Kingston, neto de Charles e sobrinho de Elden Kingston. A estimativa é que ele teve aproximadamente 500 filhos com 34 esposas. Todas as decisões do clã devem receber sua aprovação.

As regras do clã Kingston

Foto: Getty Images/ BBC

Para manter o controle da comunidade, todos devem seguir um superior, mesmo que ele ordene algo ilegal ou imoral. Isso é “lei de um sobre o outro”, uma interpretação de Elden Kingston sobre uma passagem da Bíblia evangélica. De acordo com ele, “ser um com os demais significa que cada um de nós é um com o de cima”. Dessa forma, questionar seu superior seria questionar a Deus.

Além disso, os membros do clã entendem que as leis estaduais e federais não se aplicam a eles. Eles afirmam que devem ser orientados pelos desígnios de Deus, que é quem os irá julgar.

Abaixo do “profeta” estão os “Sete Irmãos”. Para eles, respondem os chamados “Homens Numerados”, uma posição superior dentro da comunidade que indica sua hierarquia dentro do clã. Abaixo deles estão os homens casados “não numerados” e, por fim, as mulheres e as crianças.

Acima das crianças, o superior é o pai. Já quando as meninas se casam, seu marido passa a ser o seu superior. Também vale destacar que a todo homem casado não numerado, é atribuído um “Homem Numerado” como superior, que costuma ser seu pai ou um familiar próximo.

As mulheres

As mulheres são obrigadas a casar-se com alguém dentro da comunidade, sem que se pergunte a elas se estão de acordo. Na maioria das vezes, elas são menores de idade, já o marido é um familiar próximo, como um irmão, primo-irmão ou tio.

Enquanto os homens podem ter mais de uma esposa, as mulheres devem ter apenas um marido e a maior quantidade possível de filhos, mesmo que contra a vontade, para garantir o crescimento da seita. Abortos espontâneos são considerados pecados cometidos pela mulher, que é castigada.

De acordo com as autoras da denúncia, o objetivo é que as adolescentes fiquem grávidas já com pouca idade e tenham muitos filhos, para que não possam fugir do clã Kingston.

Esses filhos servirão de mão de obra infantil para o conglomerado de empresas da Ordem. Entre eles estão lojas, supermercados, fazendas e até escolas financiadas com fundos estatais.

Segundo informações da BBC, no passado, seus membros tiveram minas de carvão e uma companhia de energia que fraudou o fisco americano em pouco mais de US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,6 bilhões), conforme um julgamento finalizado em setembro de 2022.

Dentro da comunidade, os membros utilizam sua própria moeda, o scrip, sendo proibido o uso de dólares.

O número de integrantes do clã Kingston não é conhecido por causa do sigilo imposto, mas estima-se que seja de 5 mil a 10 mil pessoas.

Sectarismo

David Ortell Kingston foi condenado em 1999 pelos delitos de incesto e conduta sexual ilegal (Foto: Getty Images)

Parte do motivo para membros do clã Kingston não se relacionarem muito com pessoas de fora é para responder o menos possível às perguntas feitas por estranhos. A ordem é que o mundo externo saiba o mínimo possível sobre a comunidade.

Ainda de acordo com o relato de uma das autoras da denúncia, o clã tem uma empresa onde “são impressos os anúncios e convites de casamento da ‘Ordem’, pois as fotos do casamento de crianças pequenas com homens em matrimônios incestuosos ou plurais não podiam ser impressas no Walmart (rede de supermercados americana)”.

Os casamentos são realizados por integrantes do clã habilitados pelo Estado para essa função. No entanto, algumas vezes os sobrenomes do casal são mudados nos documentos para ludibriar possíveis investigações pelas autoridades estaduais.

Além disso, o pai de um recém-nascido muitas vezes não é mencionado na certidão de nascimento. Segundo a denúncia, “é prática comum e intencional na ‘Ordem’ que os pais não sejam mencionados na certidão de nascimento dos seus filhos para criar confusão, evitando processos penais pela geração de filhos em casamentos de menores de idade, plurais ou incestuosos”.

Vale destacar que o clã Kingston está na mira da justiça há pelo menos 25 anos. Anteriormente, alguns dos seus integrantes foram condenados por delitos sexuais, fraudes ao Estado e lavagem de dinheiro.

Fonte: BBC

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