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Como um gibi ajudou a diminuir os casos de AIDS no Carandiru?

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Pode parecer surpreendente, mas o gibi “O Vira Lata” foi um dos principais responsáveis pela luta contra a AIDS no presídio do Carandiru.

Nos anos 90, a população carcerária sofria com preconceitos, falta de estrutura e saneamento básico, além de não possuir informações para cuidar da sua saúde ao se relacionar com outros presos.

No entanto, graças a uma iniciativa do médico Drauzio Varella, um anti-herói mulherengo em uma revista em quadrinhos mudou a situação – para melhor.

O gibi “O Vira Lata” se tornou símbolo para os presos, trazendo imagens de sexo explícito e, com ele, recomendações para o uso de proteção adequada. A distribuição foi gratuita dentro do Carandiru, e chamou a atenção dos presos pela história.

Seu protagonista lutava com o crime e era desbocado, além de ter relações sexuais constantes com várias mulheres. Mesmo assim, não deixava de reforçar a importância do sexo seguro e os perigos de contaminação pelo uso de drogas injetáveis.

Sua relevância foi tão grande que, mais de vinte anos após a criação do personagem, a história do gibi “O Vira Lata”, criada por Paulo Garfunkel e Libero Malavoglia, irá virar uma série da Globo.

Conteúdo sexual e a luta contra a AIDS

Apesar do forte conteúdo sexual, foi isso que estimulou o uso dos preservativos entre a população carcerária. Isso porque a HQ exibiu esses elementos de maneira mais atrativa do que os folhetos originalmente distribuídos.

Segundo um dos criadores do gibi “O Vira Lata”, embora seja uma história com conteúdo adulto, foi o que ajudou no combate à Aids. Além disso, também traz o protagonista com mais realidade, em momentos como acontece na vida real.

Embora a história tenha surgido para apoiar a bandeira do combate à disseminação do HIV no Carandiru, esse elemento não estará tão forte nas adaptações futuras, pois não é mais uma realidade brasileira.

Mesmo assim, os criadores do gibi apoiam que o personagem continue com essa característica, e que a história chegue em mais pessoas, para promover uma educação sexual de qualidade, atrativa para homens, especialmente periféricos.

Conheça o gibi “O Vira Lata”

Via Amazon

A história do gibi “O Vira Lata” traz o personagem de mesmo nome, um ex-detento que luta contra malfeitores no submundo paulistano, enquanto se envolve com várias mulheres.

Esse perfil foi o que mais atraiu a atenção dos presos na época, pois se identificaram com seu estilo de vida, vendo um espelho na HQ.

Além disso, o protagonista Vira-Lata traz elementos de identificação como criação em lares adotivos, uso de palavras de baixo calão e personalidade forte. Ele foi desenhado para atrair o público do Carandiru, inclusive com traços físicos semelhantes.

A raça mestiça e a pose de durão são traços que permitiram ao Vira-Lata ser tão popular. Ao todo, foram 10 mil exemplares impressos.

Como tudo começou

A HQ que foi fundamental na luta com a disseminação de AIDS no presídio de Carandiru teve origem a partir do doutor Drauzio Varella.

Ele realizava atendimentos e palestres de conscientização para os detentos na época, mas notou que suas estratégias não chegavam até o público. Por conta disso, decidiu bolar outro plano para atingir sua audiência.

Como conta o médico, ele passou por uma banca de jornal e viu uma revista em quadrinhos. Foi quando teve a ideia e firmou parceria com Paulo Garfunkel e Libero Malavoglia.

O gibi “O Vira Lata”, então, ganhou vida, trazendo temas como prevenção contra o HIV, redução dos danos no uso de drogas e entretenimento educativo para os detentos.

A ideia da revista ter um teor erótico alto também foi de Drauzio Varella, pois, segundo ele, era sua arma para chamar a atenção dos detentos e usá-la para prevenir a AIDS no centro.

Os resultados foram surpreendentes, com redução significativa no índice de infectados, promovendo o engajamento dos detentos com a história e zelando pela sua saúde.

Durante os anos de produção, a maioria das tiragens foram encaminhadas para o Carandiru. No entanto, o gibi “O Vira Lata” foi relançado em 2012, e chegou ao conhecimento do diretor Luiz Fernando Carvalho, que se interessou em adaptá-la.

Nos próximos anos, é possível esperar que a HQ chegue nas telinhas, e não apenas seja um meio de disseminar informações, como também eduque e divirta o público.

 

Fonte: UOL

Imagens: Amazon

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