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Conheça a estranha história da montanha famosa por ‘comer homens’

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Perto da cidade de Potosi, no sul do planalto boliviano, está o localizado a montanha Cerro Rico, parte da cordilheira dos Andes. Com 4.800m de altura o monumento natural também é palco de lembranças da tragédia da conquista espanhola. Por séculos, escravos trabalharam na mineração de prata da montanha em condições brutais.

O nome Cerro Rico, que significa montanha rica em espanhol, foi dado pelos colonos espanhóis justamente por conta da grande quantidade de prata encontrada no local. Havia tanto do metal por ali, que os espanhóis acreditavam que a montanha inteira era feita de prata.

Hoje, os descendentes daqueles escravos ainda trabalham nas minas. Mas centenas de anos de mineração deixaram a montanha porosa e instável, com extremo risco de colapso, segundo especialistas. “Um colapso total é possível”, defende o engenheiro Nestor Rene Espinoza. “Nós esperamos que isso não aconteça em Cerro Rico.”

Em 1545, uma pequena cidade para mineradores foi criada sob Cerro Rico e cerca de três milhões de nativos foram forçados a trabalhar nas minas. Com a riqueza extraída, o local se transformou numa Cidade Imperial, como os espanhóis chamavam, tão rica e grandiosa como Madri. Apesar da riqueza ter sumido, ainda existem registros históricos disso em igrejas opulentas e velhas mansões que lembram dos dias gloriosos da cidade.

Pela prata retirada da montanha, a cidade conseguiu se tornar rica, mas não sem pagar um preço. Centenas de milhares morreram por acidentes, excesso de trabalho, fome e doenças. Quase cinco séculos depois, os colonos espanhóis já deixaram o local, mas as condições nas profundezas do interior da montanha parece ter mudado pouco.

Dezenas de jovens e adultos ainda morrem nas minas por conta de colapsos. Os vários anos de mineração deixaram as rochas repletas de buracos e com muita instabilidade, o que oferece um grave risco de desabamento da montanha inteira. Isso é tão verdade, que a montanha já perdeu algumas centenas de metros em altura graças à retirada da prata.

De acordo com o historiador Eduardo Galeano, estima-se que oito milhões de homem já morreram em Cerro Rico desde o século 16, apesar de alguns céticos acharem que o número é exagerado e inclui todas as pessoas que deixaram a região ao redor das minas, e não só os que morreram trabalhando. Apesar de ser difícil precisar o número correto, não há dúvidas de que ele é extremamente alto. A quantidade de mortes no local chegou a dar a Cerro Rico o apelido de “a montanha que come homens.”

Apesar de vários morrerem por conta de acidentes, o maior perigo vem da silicose, uma doença pulmonar causada pela respiração de muita poeira. Normalmente, nas minas modernas, as partículas são evitadas por um fio de água contínuo que evita a contaminação. Porém, o método não foi aplicado em Cerro Rico.

Uma vez dentro dos pulmões, as partículas de poeira se depositam nos alvéolos e são capazes de furar e romper células e tecidos, causando sintomas similares aos de bronquite crônica, como febre, dores no peito, perda de peso, fraqueza e, eventualmente, morte. Por causa disso, poucos vivem até os 40 anos. De acordo com uma associação local de viúvas, 14 mulheres perdem os maridos em cada mês.

Hoje em dia, as minas não produzem mais as mesmas quantidades de prata como no século 18. Desde o auge da cidade, Potosi tem vivido um lento declínio em sua economia. Ainda assim, as famílias mineradores seguem orgulhosas de seu papel na extração de minérios.

A dura verdade, no entanto, é que a mineração dentro da Montanha Rica representa encarar condições complicadas e praticamente infernais. Os mineradores precisam se arriscar em túneis rochosos e sem espaço, passando horas em trabalhos pesados e perigosos a mais de 4 mil metros de altitude.

Nessas condições, mesmo que os mineradores sobrevivam aos acidentes das cavernas, dificilmente chegam até depois dos 50 anos, graças às partículas mortais de poeira que respiram diariamente.

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