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Entenda a demissexualidade, a orientação sexual que intriga muitas pessoas

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Poucas pessoas reconhecem a demissexualidade, a falta de atração sexual por outras pessoas sem forte conexão emocional, como algo “real”. Mas apesar de ela não ser amplamente conhecida, trata-se de uma orientação sexual válida como todas as outras, que se aplica a pessoas em todo o mundo.

A demissexualidade se enquadra no espectro da assexualidade. Ela se assemelha mais à experiência de ser assexual até que se forme esse tipo de conexão, quando a atração sexual se estende somente para aquela pessoa.

Já para os alossexuais (as pessoas que não estão no espectro assexual), esperar até que se forme uma conexão profunda para ter sexo é mais sobre preferencia do que necessidade.

Para Kayla Kaszyca, demissexual cocriadora do podcast Sounds Fake But Okay (“Parece mentira, mas tudo bem”, em tradução livre), que o apresenta com a colega assexual e arromântica Sarah Costello, Michaela Kennedy-Cuomo, quando a filha do ex-governador de Nova York, nos Estados Unidos, Andrew Cuomo, assumiu-se demissexual, a orientação se tornou popular e incentivou “mais diálogo sobre o assunto”.

No entanto, a ampliação das discussões também trouxe consigo detratores e espalhou desinformação. Por isso, Kaszyca e outros demissexuais que compartilham conteúdos relacionados à sua orientação estão trabalhando ativamente para esclarecer essa definição.

Origem do termo

Foto: Getty Images

As pessoas costumam rastrear a origem do termo demissexual até 2006, em uma postagem no fórum Visibilidade Assexual & Rede de Educação (Aven).

“Acho que é uma palavra que surgiu principalmente no site Aven e entre ativistas assexuais”, explica Anthony Bogaert, pesquisador da sexualidade humana e professor da Universidade Brock, em Ontário, no Canadá.

Naquela época, os membros do Aven estavam descobrindo como poderia ser diverso o espectro assexual. Com isso, novos termos começaram a surgir conforme as pessoas que se identificavam anteriormente como assexuais observavam circunstâncias específicas em que poderiam sentir atração sexual.

“Existe uma tradição de permitir que pessoas com diferentes tipos de identificação e muita variabilidade entrem no site Aven”, afirma Bogaert.

Essas pessoas ajudaram a fomentar as discussões sobre assexualidade, identificando diversos aspectos do espectro assexual. Com isso, elas forneceram informações que não estavam disponíveis em outros lugares na internet.

No entanto, a sexualidade era, e ainda é, mais discutida que a demissexualidade. Um dos motivos é que a primeira é conceitualizada mais facilmente pelas pessoas que não são assexuais.

De acordo com Kaszyca, as pessoas assexuais “experimentam pouca ou nenhuma atração sexual”. “É um rótulo fácil de ser usado”.

Porém, ela acrescenta “exceto quando desenvolvem profunda conexão emocional”, às vezes isso pode deixar os alossexuais coçando a cabeça.

Representação

Foto: Getty Images

Elle Rose, uma jovem demissexual, de 28 anos, moradora de Indiana, nos Estados Unidos, aponta que parte das posturas de negação da demissexualidade no país se dá por causa da “cultura puritana”, na qual as mulheres são altamente sexualizadas nos meios de comunicação, mas também se espera que elas se “resguardem” para a pessoa certa (ou para o casamento).

Essa ideia se alinha à abstinência sexual até que se forme uma ligação profunda com um parceiro. No entanto, ainda é uma preferência, com a qual os demissexuais não se identificam. Essa falta de compreensão, muitas vezes, gera solidão.

Cairo Kennedy, uma jovem com 33 anos de idade de Saskatchewan, no Canadá, explica que quando ela descobriu, apenas alguns anos atrás, que havia um nome para sua orientação sexual, sentiu-se “bem, mas na época não havia informação”

De acordo com elas, existiam postagens suficientes no Aven para que ela lesse e pensasse “veja, esta sou eu”, mas não tantas para que ela dissesse “veja, existem muitas pessoas como nós”.

Por isso, Kennedy decidiu criar um blog sobre o “estilo de vida demissexual”. Por meio dele, muitos outros demissexuais entraram em contato com ela, desde adolescentes até pessoas com mais de 50 anos de idade.

Popularização nas redes sociais

Foto: Getty Images

Já Janet Brito, terapeuta especializada em sexualidade humana, afirma que acredita que o termo se popularizou por causa das redes sociais. Ela escutou sobre demissexualidade pela primeira vez em 2014, durante os estudos para seu pós-doutorado.

Apesar de Brito reconhecer que a demissexualidade está presente em todas as faixas etárias, ela afirma que seus clientes costumam ter pouco mais de 20 anos de idade.

“Eles são mais expostos às redes sociais, [onde] é mais aceitável falar sobre esse espectro”, afirma ela.

Essa exposição cria validação. “As redes sociais abrem as portas para muitas outras vozes que não teriam se exposto no passado”, acrescenta Brito. “[As pessoas] finalmente podem se ver representadas.”

“Compreender melhor a natureza da sexualidade”

Foto: Getty Images

Kaszyca e sua colega Sarah Costello expandiram o podcast para outros países de língua inglesa e para a Europa. Kaszyca estima que Sounds Fake But Okay agora atinge 7 mil ouvintes por semana.

De acordo com ela, seus ouvintes não são apenas as pessoas do espectro assexual, mas seus pais, parceiros e amigos também ouvem o podcast para aprender. Essa educação ajuda os demissexuais a transitar por outras partes da sociedade, como os encontros. 

Além disso, Kaszyca aponta que os aplicativos facilitam os encontros para os demissexuais porque tem como incluir sua orientação no seu perfil. Isso evita conversas que seriam desconfortáveis no primeiro encontro.

Para finalizar, Bogaert aponta que falar e aprender sobre a “variabilidade existente na comunidade assexual mais ampla” é necessário para evitar a alienação das minorias sexuais.

Ela acrescenta que também é fundamental porque “nos permite compreender melhor a natureza da sexualidade” como um todo.

Fonte: BBC

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