Saúde

Estudo histórico confirma que a síndrome da fadiga crônica é biológica

0

Um estudo inovador, que começou há quase dez anos, traz análises históricas sobre a fadiga crônica, doença que, até então, pouco se conhecia.

Em 2016, antes mesmo do surgimento da COVID-19, o Instituto Nacional de Saúde dos EUA, reconhecido como o principal financiador público de pesquisa médica global, iniciou uma pesquisa sobre essa condição negligenciada.

A síndrome da fadiga crônica (SFC), também conhecida como encefalomielite miálgica, ou ME/CFS, atinge milhões de pessoas em todo o mundo, mas não possui uma cura ou tratamento definitivo.

Após oito anos de trabalho, os resultados desse estudo foram finalmente revelados.

Em uma das investigações mais abrangentes até o momento, os pesquisadores se aprofundaram em um pequeno grupo de 17 indivíduos que desenvolveram fadiga crônica após uma infecção, comparando o grupo com 21 controles saudáveis.

Em suma, a equipe conseguiu demonstrar que a ME/CFS é inequivocamente de origem biológica, afetando múltiplos sistemas de órgãos.

Via Freepik

Revelações sobre fadiga crônica

Por décadas, muitos médicos descartaram a EM/SFC como uma condição psicossomática, alegando que estava “tudo na cabeça dos pacientes”. Hoje, há poucas dúvidas: uma série de alterações biológicas sustentam a EM/SFC.

Trata-se de uma doença sistêmica, e os pacientes precisam ser levados a sério em suas queixas.

Durante uma semana de testes intensivos, os participantes do estudo foram submetidos a exames cerebrais, estudos do sono, testes de força muscular e desempenho cognitivo, biópsias de pele e músculos, exames de sangue e análises do microbioma intestinal e do líquido espinhal.

Eles também seguiram uma dieta controlada e passaram algum tempo em câmaras metabólicas, onde o consumo de energia e nutrientes foi medido em condições estáveis.

Assim como em estudos anteriores, pessoas com EM/SFC apresentaram frequências cardíacas em repouso mais altas, marcadores de uma resposta imunológica prolongada e hiperativa que esgota as células T e uma menor diversidade de bactérias intestinais em comparação com os controles.

Resultados

O grupo ME/CFS não demonstrou sinais de fadiga muscular e apresentou desempenho normal nos testes cognitivos, embora relatasse sintomas cognitivos mais intensos.

No entanto, as mudanças no microbioma imunológico e intestinal claramente afetaram o sistema nervoso central de várias maneiras.

Indivíduos com fadiga crônica apresentaram níveis mais baixos de substâncias químicas chamadas catecolaminas. Elas ajudam a regular o sistema nervoso.

Ainda, também tiveram variação no líquido cefalorraquidiano, e menos atividade em uma região do cérebro conhecida como junção temporal-parietal (TPJ) durante tarefas motoras.

A TPJ desencadeia o córtex motor, uma área do cérebro responsável por coordenar os movimentos do corpo. Isso sugere que sua disfunção pode influenciar a forma como o cérebro decide executar atividades físicas, conforme argumentam os pesquisadores.

Essas alterações podem, por sua vez, impactar a tolerância dos pacientes ao esforço e sua percepção de fadiga.

Ainda, os cientistas indicam que podem ter identificado o ponto focal fisiológico mais importante para a fadiga.

Em vez de atribuir os sintomas à exaustão física ou falta de motivação, a fadiga crônica pode surgir de uma discordância entre as expectativas individuais sobre o que se pode alcançar e o desempenho real do corpo.

Via Freepik

Mudanças no estudo

Apesar de acolherem positivamente os esforços de pesquisa, os grupos de defesa da EM/SFC levantaram questões sobre a seleção de algumas avaliações de fadiga no estudo e a exclusão de outras características essenciais da doença, como o mal-estar pós-esforço.

Alguns podem também questionar como o grupo inicial de 217 pacientes, que iniciou o estudo, passou a ser de apenas 17 pessoas, que um painel de médicos confirmou como tendo EM/SFC pós-infecção.

Ao selecionar um grupo reduzido de pacientes, o estudo visava realizar uma avaliação minuciosa para aumentar a probabilidade de identificar diferenças significativas que os pesquisadores pudessem então explorar em amostras maiores.

Isso foi crucial, pois, como é o caso com a COVID prolongada e a doença de Alzheimer, compreender as causas dessas condições pode ser desafiador, o que, por sua vez, dificulta a descoberta de tratamentos eficazes.

Inicialmente, os pesquisadores planejavam recrutar 40 pacientes com EM/SFC, mas interromperam os esforços na pandemia de COVID-19.

Além disso, optaram por não incluir indivíduos que estivessem doentes há mais de 5 anos ou que não estivessem em condições de viajar. Ainda, também evitaram impor testes físicos prolongados aos participantes, preocupados em não sobrecarregar os pacientes.

Mas apesar dos resultados promissores, apenas com mais pesquisas será possível determinar se as alterações nesses 17 pacientes são consistentes em uma amostra maior de pessoas com fadiga crônica. No entanto, este estudo estabelece uma base sólida para pesquisas futuras nesse sentido.

 

Fonte: Science Alert

Imagens: Freepik, Freepik

Cientistas revelam uma maneira mais saudável de cozinhar brócolis – mas tem um problema

Artigo anterior

Era uma vez um tipo diferente de golfinho na Amazônia, e ele era gigante

Próximo artigo

Comentários

Comentários não permitido