Um grupo de cientistas conduziu uma análise detalhada de estudos prévios que tratavam de uma família quadrúpede residente na Turquia, que utiliza um método de locomoção muito peculiar.
Vários dos seus filhos precisaram se adaptar a andar com as mãos no chão devido a condições congênitas na coluna vertebral.
Esse modo de andar, popularmente conhecido como “rastejo de urso”, afeta cinco dos 19 filhos da família Ulas, que vive no sul da Turquia e enfrenta diversas adversidades de saúde.
Além dos cinco filhos quadrúpedes, sete deles sofrem de deficiências intelectuais e outros apresentam problemas de equilíbrio e distúrbios cognitivos.
Isso torna difícil para eles manterem-se em pé e faz com que muitos se acostumem a engatinhar ou a andar de bruços, depois de anos sem assumir a postura ereta.
A descoberta desse curioso fenômeno tem gerado debates acerca de questões relacionadas a genética, ética e cuidados de saúde para pessoas que enfrentam problemas de saúde crônicos.
Evolução ao contrário?
O pesquisador Üner Tan, da Universidade de Medicina de Çukurova em Adana, Turquia, foi o primeiro a observar e descrever os membros da família quadrúpede.
Ele concluiu que o seu modo de locomoção se assemelha ao de ancestrais dos Homo sapiens antes de adotarem a postura bípede. Também afirmou polêmica e controversamente que a característica seria uma “evolução reversa”, criando a chamada Síndrome de Üner Tan.
Anos depois, um documentário da BBC apresentou uma abordagem mais biológica e empática em relação à condição da família.
Com um estudo não publicado de Tan em mãos e uma equipe de filmagens, o documentário acompanhou a rotina de quatro irmãs – Safiye, Hacer, Senem e Emine – e um irmão, Hüseyin.
Eles levam vidas normais, apesar do seu curioso modo de andar. O pai da família quadrúpede, Resit, relatou que não gosta quando se comparam a “macacos”, como a pesquisa original de Tan sugere.
A casa da família tem barras paralelas instaladas para ajudar os filhos afetados pela condição a se locomoverem e praticarem exercícios físicos.
Além disso, em alguns momentos do documentário, Hüseyin aparece andando ereto ao longo de uma estrada.
Embora Tan tenha acompanhado os dois cientistas que visitaram a família, suas opiniões sobre o caso são bastante diferentes.
Condições congênitas e éticas da família quadrúpede
O texto fala sobre a revisão dos estudos da família Ulas, que apresenta problemas de saúde que afetam sua locomoção.
Enquanto o primeiro pesquisador a descrever a condição, Üner Tan sugeriu que o andar quadrúpede era uma “evolução reversa”, os pesquisadores atuais acreditam que é resultado de duas condições diferentes. No caso, uma biológica e outra de desenvolvimento.
Cinco dos filhos apresentam ataxia cerebelar congênita, uma condição herdada recessivamente que afeta o equilíbrio, e todos os 19 filhos da família se locomovem usando o “rastejo de urso”.
Diversas mutações recessivas foram identificadas, mas é difícil descrever todos os aspectos recessivos herdados e estabelecer um mecanismo subjacente para a doença.
O texto pede por estudos mais profundos e respeito à família Ulas e suas condições de saúde.
Posteriormente, um documentário da BBC acompanhou a vida de alguns dos filhos afetados e apresentou uma abordagem mais simpática à condição da família.
Seria uma regressão evolutiva?
Não é apropriado dizer que a condição dos familiares quadrúpedes seria uma regressão evolutiva. Isso porque essa afirmação sugere que a evolução sempre se move em uma direção linear e progressiva, o que não é o caso.
Além disso, a evolução não possui um objetivo final. No entanto, sofre influência por fatores ambientais e genéticos que moldam a sobrevivência e a reprodução das espécies ao longo do tempo.
A condição dos familiares quadrúpedes é um resultado de mutações genéticas específicas que afetam sua capacidade de locomoção, e não representa um estágio anterior de evolução da espécie humana.
Fonte: Terra