Ciência e Tecnologia

Fenômeno das redes, terraplanismo perde adeptos e está em crise no mundo

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Se você está na internet há tempo suficiente, provavelmente já ouviu falar sobre o terraplanismo. No entanto, apesar da popularidade, essa teoria está ficando cada vez mais fraca.

No passado, o conhecimento científico era diferente, e a Terra era colocada em prova. Há cerca de 2,5 mil anos, Pitágoras observou que o contorno do terminador, a linha que demarca a divisão entre a parte iluminada e a parte escura da Lua, indicava sua natureza esférica.

Embora o matemático grego não tenha recebido grande atenção na época, dois séculos mais tarde, isso mudou.

Aristóteles apresentou uma série de argumentos empíricos e teóricos para demonstrar que a Terra não era plana.

Por exemplo, ele explicou que se a Terra não fosse esférica, os eclipses lunares, resultantes da sombra projetada pelo planeta na Lua, não teriam a forma que observamos.

Embora astrônomos gregos, indianos e chineses tenham inicialmente sustentado a visão de uma Terra plana, os argumentos filosóficos como os de Aristóteles, juntamente com o avanço da ciência ao longo do tempo, deixaram claro que nosso planeta não é um plano bidimensional, mas sim uma esfera.

Mesmo em momentos notáveis em que a Igreja tentou conter os progressos científicos, como quando provaram que a Terra não ocupava o centro do Universo, o terraplanismo ficava em segundo plano. Mas tudo mudou.

Via Canaltech

Movimento renasceu com as redes

Séculos de conhecimento voltaram a ser questionados no século 19, quando a ideia da Terra plana ressurgiu. No século 21, esse conceito recebeu uma revitalização por meio de textos bíblicos e teorias, além de somar as redes sociais.

Fóruns, mídias sociais e perfis de terraplanismo, com apoio de celebridades e influenciadores, trouxeram mais vida para o movimento.

Até mesmo figuras proeminentes, como o jogador de basquete Shaquille O’Neal, manifestaram apoio. O rapper B.o.B. chegou a lançar uma campanha de financiamento coletivo para enviar um satélite ao espaço, buscando provar que a Terra não é redonda.

No ano passado, Leandro Batista, criador do canal Inteligência Natural no YouTube, promoveu sua própria campanha pró-Terraplanismo.

Inicialmente criado em 2017 para difundir a teoria, Batista conseguiu financiamento de parte dos mais de 150 mil seguidores para uma viagem à Noruega, com o objetivo de comprovar a planicidade da Terra.

No entanto, dependendo do ponto de vista, a empreitada acabou sendo considerada um fracasso.

Não apoia mais o terraplanismo?

Via PXHere

Devido à inclinação do eixo de rotação da Terra em relação ao Sol, em certos períodos do ano, o sol nunca se põe nos extremos norte ou sul do planeta.

Enquanto a Terra continua girando, as áreas próximas aos polos permanecem iluminadas, mesmo durante a noite.

E Leandro teve o privilégio de testemunhar essa espetacular lição de ciência ao vivo, durante o verão norueguês.

Ele contou que foi como “tirar um fardo das costas”, pois não queria mais duvidar de tudo e todos. Ele comprovou, pessoalmente, o fenômeno circular da Terra.

Convicto, o youtuber decidiu compartilhar sua experiência com seus seguidores. Muitos, naturalmente, não receberam bem a notícia, pois haviam investido na expectativa de ver um dos maiores defensores do terraplanismo na internet finalmente comprovar sua teoria.

Entretanto, ao invés disso, receberam uma revelação surpreendente: Leandro reconheceu seu erro com humildade, e por isso foi alvo de hate pelos mais radicais.

Onde surgiu o terraplanismo?

A maioria dos mais de 3 mil vídeos publicados por Leandro em seu canal são uma extensão da teoria proposta pelo escritor inglês Samuel Rowbotham.

Em 1849, Rowbotham lançou um livreto intitulado “Astronomia Zetética”, que o estabeleceu como o pioneiro do terraplanismo moderno.

Neste livro de pouco mais de 200 páginas, repleto de gráficos, cálculos e comparações, o autor também abordou questões religiosas.

Ele questionou, por exemplo, como Jesus poderia subir em uma montanha e visto todos os reinos do mundo se a Terra fosse um globo em constante movimento.

Após a morte de Rowbotham em 1884, seus ensinamentos continuaram a ser difundidos pela Sociedade Zetética Universal e sua sucessora, a Sociedade da Terra Plana, ambas originárias do Reino Unido, terra de Isaac Newton e Stephen Hawking.

Esses grupos frequentemente argumentam que a teoria da Terra plana já foi muito mais popular, mas sofreu boicotes.

No entanto, estudos realizados nos anos 1980 por historiadores da ciência americanos, como David Lindberg e Ronald Numbers, e nos anos 1990 pelo historiador alemão Klaus Vogel, refutaram a ideia de que a crença em uma Terra plana era comum na Europa medieval.

Por exemplo, um mapa atribuído ao escritor romano Macróbio, do século 5º d.C., mostra claramente as zonas climáticas da Terra, dividida em hemisférios.

Portanto, a noção de que os navegadores portugueses e espanhóis temiam cair em um precipício infinito é falsa, pois eles sempre se basearam em mapas e conceitos de um planeta esférico.

Via UOL

Teoria em crise

Leandro revela que está atualmente em processo de produção de vídeos para desmentir todo o conteúdo que ele postou nos últimos anos, uma tentativa de se redimir.

Ele explica que alguns desses vídeos são feitos por ele mesmo, enquanto em outros conta com a participação de professores de física como convidados, promovendo debates com o objetivo de esclarecer aqueles que foram enganados.

Para Leandro, persuadir os incrédulos requer habilidade argumentativa. Ele ressalta que conceitos como eclipses lunares, as Grandes Navegações, matemática e física são impossíveis em uma Terra plana.

No entanto, Leandro reconhece que muitos terraplanistas simplesmente se recusam a aceitar ou a enxergar os fatos. Ele identifica essa resistência como o cerne do problema.

Embora o movimento seja muitas vezes visto como uma excentricidade inofensiva da internet, ele se espalha em ambientes onde o negacionismo é prevalente.

Radicais e conspiracionistas

Pesquisas conduzidas pela Sociedade Psicológica Americana indicam que pessoas propensas a acreditar em teorias da conspiração possuem uma combinação específica de traços de personalidade e motivações.

Elas confiam fortemente em sua própria intuição, têm uma postura de antagonismo e superioridade em relação aos outros, e frequentemente percebem ameaças em seu ambiente.

Além disso, é comum que aqueles que acreditam em uma teoria da conspiração estejam mais inclinados a aderir a outras teorias semelhantes.

Portanto, o terraplanismo pode servir como uma porta de entrada para crenças mais extremas, como a ideia de que vacinas são perigosas, que todas as eleições são fraudes ou que a imprensa divulga apenas mentiras.

Embora a teoria esteja em crise, vale a pena ter atenção para grupos como esses, radicais e antagonistas. Eles formam uma massa poderosa de pessoas convictas e que se recusam a mudar de ideia, mesmo com tantas provas.

 

Fonte: UOL

Imagens: Canaltech, PXHere, UOL

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