Saúde

Legalizar maconha estimula consumo de álcool em adultos, diz estudo nos EUA

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Uma pesquisa conduzida nos Estados Unidos ao longo de um período de onze anos revelou que a legalização do uso da maconha recreativa pode ter influenciado o aumento do consumo problemático de álcool entre adultos com 31 anos ou mais.

Os resultados desse estudo foram disponibilizados online em 15 de junho por meio do periódico International Journal of Drug Policy.

O estudo, realizado por especialistas da Escola Mailman de Saúde Pública da Universidade de Colúmbia, analisou as mudanças nos padrões de consumo de álcool de cerca de 800 mil indivíduos após a implementação de leis que legalizaram o uso recreativo da maconha.

A equipe de cientistas utilizou dados da Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde dos EUA, referentes ao período de 2008 a 2019, para comparar os comportamentos de consumo de álcool entre residentes de diferentes estados que adotaram leis para regulamentar a produção e venda da maconha.

Via Globo

Pesquisa compara 2008 e 2018

Iniciando pela avaliação das tendências de consumo problemático de álcool em diferentes faixas etárias, os pesquisadores então compararam as prevalências desse comportamento antes e depois da legalização da maconha, por meio de modelos estatísticos.

Os resultados apontaram que, em 2019, 33,3% dos usuários de maconha recreativa na faixa etária de 31 a 40 anos também faziam uso problemático de álcool.

Essa proporção era significativamente menor em 2008, quando 28,1% das pessoas nesse grupo etário apresentavam esse comportamento.

Observou-se também um aumento no consumo problemático de álcool entre pessoas mais velhas que consumiam maconha.

Aqueles com idade entre 41 e 50 anos tiveram um aumento de 2,5%, enquanto os indivíduos com mais de 51 anos registraram um crescimento de 1,8%.

Por outro lado, o estudo também examinou as mudanças nos padrões de consumo entre os mais jovens, constatando uma redução no consumo problemático de álcool.

Entre os adolescentes com menos de 20 anos que faziam uso de maconha recreativa, a proporção de consumo excessivo de álcool caiu de 17,5% para 11,1% após a legalização. Na faixa etária de 21 a 30 anos, a porcentagem diminuiu de 43,7% para 40,2%.

Possibilidades

Priscila Dib Gonçalves é pós-doutoranda no programa de Epidemiologia do Abuso de Substâncias do Departamento de Epidemiologia da Escola Mailman de Saúde Pública e é a primeira autora do estudo.

Ela declarou em um comunicado que a literatura científica atual apresenta duas hipóteses plausíveis para o que pode acontecer após a legalização da maconha.

A primeira hipótese sugere que a interação entre o consumo de cannabis e álcool pode aumentar após a promulgação das leis, “uma vez que as pessoas tendem a usar essas substâncias simultaneamente”.

A outra hipótese aponta para um possível aumento na substituição, ou seja, o consumo de álcool poderia diminuir.

Isso porque as pessoas podem optar por usar cannabis em vez de álcool quando ambas as opções estão prontamente disponíveis, informou.

No entanto, Gonçalves destaca que as evidências em relação a essas hipóteses ainda não são conclusivas. Isso ocorre especialmente no que diz respeito ao impacto da legalização da cannabis no consumo excessivo de álcool em diferentes faixas etárias.

A pesquisadora ressalta que a equipe acredita que futuros estudos deveriam investigar a influência de outros fatores ambientais e individuais.

Afinal, itens como a percepção do risco associado ao uso de substâncias, atitudes de desaprovação, disponibilidade e influência do grupo social também afetam.

Cenário complexo

Via Globo

Além disso, Silvia S. Martins, professora de epidemiologia na Escola Mailman e autora sênior do estudo, enfatiza que é importante observar que a regulamentação da cannabis é um assunto complexo.

Afinal, ela envolve diversas decisões políticas, incluindo regulamentações na cadeia de suprimentos e operações, como monopólio estatal e vendas no varejo.

Ainda, também inclui cultivo legal para consumo doméstico, publicidade, variedade de produtos comercializados, preços e impostos.

Por isso, cada estado pode adotar políticas distintas ao regular o uso recreativo da cannabis.

No Brasil

O Brasil passa por um momento histórico ao votar pela legalização da maconha recreativa para uso pessoal. O julgamento passou por adiamento três vezes em 10 anos. Agora, está com 4 votos a favor, precisando de apenas mais um no Supremo Tribunal Federal.

O ponto de partida foi um caso que aconteceu há alguns anos, quando um homem recebeu condenação por estar com três gramas de maconha dentro da cela onde estava preso, em São Paulo. Ele foi condenado por porte de drogas.

A Defensoria Pública defendeu o caso no STF alegando que a lei é inconstitucional, pois fere o direito à liberdade individual. Além disso, a quantidade seria insignificante para compreender tráfico ou algo mais danoso.

Atualmente, temos o artigo 28 da Lei 11.343/2006, conhecida como Lei Antidrogas. Ele diz que quem possui drogas para consumo próprio passará por advertência, prestação de serviços e inscrição em curso educativo.

Agora, os juízes argumentam sobre a quantidade limitada de maconha recreativa e se isso poderia se aplicar a outras drogas. O julgamento ainda está acontecendo e a próxima sessão foi adiada.

 

Fonte: Revista Galileu, Globo

Imagens: Globo, Globo

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