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Mulher se apaixona por um deepfake em aplicativo de namoro

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Apaixonar-se é uma das sensações mais incríveis e assustadores da experiência humana. Isso porque você está se apegando ao outro, depositando expectativas, construindo um futuro e, principalmente, entregando-se. Então, quando não dá certo ou quando a pessoa se decepciona, a dor emocional é intensa. Imagine como seria se a pessoa nem sequer existisse, sendo então um deepfake.

Atualmente, o cenário de relacionamentos possui algumas diferenças importantes quando comparado ao cenário de gerações passadas. Isso porque, agora, temos a internet. Embora relacionamentos virtuais possam resultar em lindas histórias de amor, também podem acabar de uma forma mais parecida com o documentário O Golpista do Tinder, disponível na Netflix.

No documentário, conhecemos a história de Simon Leviev, contada por meio de três mulheres que se dizem traídas por ele. Todos os relacionamentos começaram por meio de aplicativos de namoro e elas acabaram passando quantidades chocantes de dinheiro para ele.

Assim como essas mulheres, e diversas outras pessoas ao redor do mundo, a atriz e cineasta francesa Yzabel Dzisky foi uma das pessoas que se aventuraram pelo mundo do amor virtual e foi enganada. Isso porque, quando ela achou que estava apaixonada por uma pessoa incrível, tratava-se de um deepfake.

Dessa forma, em entrevista à BBC, Yzabel conta como caiu no catfishing, o termo que se refere às pessoas que criam perfis falsos na internet para se relacionar com outra pessoa, seja por motivos emocionais ou financeiros. Além disso, ela contou como a trapaça a afetou e como ela conseguiu seguir em frente.

A chance de um amor

Yzabel Dzisky

Reprodução

Na época, Yzabel tinha 46 anos, estava solteira e queria fazer um documentário sobre aplicativos de namoro. Assim sendo, a ideia era entrevistar as pessoas, mas ela sabia que essa ideia poderia resultar em um encontro com o amor. “Meus amigos solteiros estavam me contando sobre todas aquelas histórias engraçadas de amor e seus encontros nesses aplicativos. Primeiro, pensei que só entrevistaria as pessoas. Mas depois talvez eu também pudesse encontrar meu grande amor ali”, diz.

Yzabel se deparou com o perfil de um homem bonito. Era ‘Tony’ (Colby) — pelo menos esse era o nome de apresentação — um cirurgião que vivia em Los Angeles, mas planejando se mudar para a França em breve. O match foi imediato e os dois conversaram por mais de uma semana. Em seguida, ela sugeriu uma chamada de vídeo.

Em uma noite com as amigas, Yzabel ligou para ‘Tony” em seu celular e, durante essa videochamada de 10 minutos, mostrou o rosto dele para as amigas. Era uma cabeça que mal se movia emoldurada em uma pequena tela de celular.

“Quando você está em uma chamada de vídeo, na maioria das vezes você tende a olhar para si mesma e tentar ficar bonita em vez de focar na pessoa na chamada, então não estava prestando muita atenção aos detalhes”, lembra Yzabel.

Eles acabaram perdendo contato porque “Tony” parou de responder sem dar motivo. Quando finalmente respondeu, disse que não era “Tony”, mas que seu nome verdadeiro era ‘Murat’.

Murat

“Fiquei chocada, mais uma coincidência, porque o nome do meu ex-marido também é Murat. Ele disse que era turco e morava em Istambul. Nem fiquei brava, apenas surpresa”.

“Quando perguntei por que ele mentiu para mim, disse que era porque tinha origem do Oriente Médio (árabe), e achou que eu teria reservas por causa disso. Mas falei que não tinha problema nenhum com isso, pois meu ex-marido também tem ascendência árabe-francesa-turca. Falei que se tratava de uma grande coincidência e que ele não deveria se incomodar.”

“Decidi pesquisar no Google, havia muitas coisas sobre ele. Podia ver as fotos, vídeos em turco. Ele estava em todos os lugares — até na TV. Não tinha dúvidas sobre ele — ele era real e um cirurgião conhecido.”

Então, Murat disse que queria vê-la em Paris, mas antes, precisava visitar Xangai. “Ele me ligou dizendo que estava em Xangai para comprar equipamentos médicos. Contou que seu cartão de crédito não estava funcionando e pediu minha ajuda — queria que eu lhe enviasse 3 mil euros (R$ 18 mil)”. Depois disso, disse ‘Murat’, ele voaria para Paris para finalmente conhecer Yzabel pessoalmente.

Ela ficou surpresa que um cirurgião conhecido estava pedindo-lhe dinheiro e falou com um amigo sobre isso. Vale destacar que os dois ficaram desconfiados, mas ainda assim, ela decidiu enviar 200 euros (R$ 1,2 mil) a “Murat” por meio de uma plataforma de transferência de dinheiro internacional.

“Não sei por que fiz isso — pensei que talvez os cartões de crédito emitidos na Turquia tivessem problemas lá. Ele me agradeceu e me mostrou sua passagem de avião de Xangai para Paris. Estaria aqui em três dias. Então, fui ao aeroporto para encontrá-lo. Esperei e esperei… e ele não apareceu”, conta.

“Tentei contatá-lo novamente, ele não respondeu. Depois houve dias de silêncio. Fiquei extremamente irritada — por que ele não respondia? Apesar disso, fui gentil com ele, queria que ele respondesse. Precisava de respostas”. Foi nesse momento que Yzabel suspeitou que estava sendo enganada.

Deepfake

“Pensei ‘É impossível, eu o vi em videochamadas — ele era real. Meus amigos o viram, meus filhos o viram’. Achei que estava tendo um problema neurológico. Isso não poderia estar acontecendo”, acrescenta. A cineasta já tinha conhecimento dos chamados deepfakes e ao ver Murat em um vídeo, que congelava com regularidade, aceitou que foi enganada.

“Eu me senti envergonhada, estúpida, ingênua. Sou uma mulher com espírito rock’n’roll, nunca me deixei ficar para baixo. Mas me senti roubada com essa história — meus sentimentos foram roubados e minha alma e meu espírito, estuprados. Estávamos escrevendo coisas lindas um para o outro — acreditei nele. Mostrei a ele meus filhos.”

Ao confrontar o homem por trás da tela, ela descobriu que era um hacker de 20 anos chamado David, da Nigéria. “Perguntei por que ele estava fazendo aquilo. ‘Você me fez apaixonar por você, você pediu meu dinheiro’. Ele disse que tinha conseguido muito dinheiro de pessoas e que fazia parte de uma rede muito grande especializada nesse tipo de crime. Até fizemos uma videochamada. Eu o vi com um amigo. Ele me disse que ficou rico com essas contas falsas, queria ser jogador de futebol e estudar no Canadá.”

Yzabel chegou a conhecer o verdadeiro Murat, que estava farto dos perfis falsos que usava sua identidade, mas o contato eventualmente chegou ao fim. Yzabel estava com o coração partido. Agora, ela quer um desfecho para sua história e espera conseguir isso com seu filme.

Ela aproveita para deixar uma mensagem para quem é enganado por deepfakes ou catfishing.

“Temos que lutar. Precisamos processar esses amantes fantasmas. Acho que não falamos o suficiente sobre isso porque temos vergonha”, diz ela. “Temos que encarar a realidade de frente. Estamos nesses aplicativos porque queremos ser amados e queremos amar. São como drogas, você quer mais e mais. Você acaba se perdendo nesse afeto virtual.”

“Essas plataformas são boas para conhecer novas pessoas, mas você deve conhecê-las pessoalmente o mais rápido possível. A conexão real não deve ser perdida, porque se for, você começa a se sentir muito solitária.”

Fonte: BBC

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