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Os pais que espionam os filhos pela internet

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Se preocupar com os filhos é algo comum na paternidade ou na maternidade. No entanto, enquanto antigamente os pais precisavam confiar que seus filhos estavam onde prometeram estar e voltariam no horário combinado, hoje, os responsáveis podem acompanhar o paradeiro dos filhos pela internet.

Elaine Spector é uma dessas mães. Ela estava ansiosa por saber se seu filho havia chegado bem em seu apartamento no Texas, Estados Unidos, após uma visita à família. Porém, ela não esperou receber a ligação e nem uma mensagem de texto dele. Em vez disso, a mãe, que mora em Baltimore, estava realizando algumas tarefas domésticas quando recebeu uma notificação em seu celular, que a tranquilizou.

Isso porque ela está entre as 32 milhões de pessoas do mundo todo que têm o aplicativo Life360 instalado em seus telefones. Assim sendo, o aplicativo monitora de forma constante o paradeiro de seus três filhos, informando quando estão em trânsito, quando estão em casa, se estão em um lugar que não deveriam estar e mais informações.

“Se eles chegam à escola, o celular faz plim. Se eles chegam em casa, plim”, conta Spector, que é advogada de patentes. “É apenas uma forma de a família saber onde todos estão.”

Espionagem por internet

A família já usa a internet para monitorar os filhos há vários anos e Spector afirma que, embora os filhos mais jovens possam desligar a localização às vezes, o mais velho nunca teve esse problema. Mesmo morando do outro lado do país e já maior de idade, a mãe confessa que a ideia dele desinstalar o aplicativo a deixa “estressada”.

“Não quero ser a mãe que chega de helicóptero para salvá-los, mas nós já temos isso há algum tempo e uma parte de mim hesita em desligar”, ela conta. “Eu gosto de ser sutil e pensar que ‘ele está seguro e não preciso incomodá-lo’.”

O aumento de famílias que usam aplicativos de rastreamento aumentou de forma notável na última década. Não é novidade que os pais se preocupam com a segurança dos filhos. No entanto, contar com a internet para vigiar os filhos aumenta com a crescente preocupação dos pais que acreditam que o mundo, online e offline, possui cada vez mais riscos.

Dessa forma, especialistas defendem que os pais que optam por usar esses aplicativos precisam pensar muito sobre como usá-los e como conversar com seus filhos sobre o uso. Isso considerando que os aplicativos também estão coletando informações de forma cada vez mais sofisticada, o que levanta a questão da segurança pessoal. Uma vez adultos e responsáveis por si, quando é a hora de desligar?

Monitoramento

Foto: Shutterstock

O Life360 é o aplicativo de monitoramento familiar mais presente nos telefones mundiais, mas é o sexto aplicativo mais instalado na loja de aplicativos iOS, tanto no Reino Unido quanto nos Estados Unidos. Existem vários softwares disponíveis, cada um oferecendo um nível diferente de monitoramento.

Ghislaine Bombusa, diretora da área digital da organização Internet Matters, que possui sede no Reino Unido e assessora os pais sobre segurança na internet, afirma que há, basicamente, dois tipos de opções de rastreamento. Para ela, sua escolha “depende do tipo de pai que você é, em termos do rigor com que você quer monitorar seu filho”, segundo ela.

Assim, os aplicativos mais simples são de compartilhamento de localização, que já vêm baixados em telefones, como o Find My Friends ou Google Family. Além disso, existem os aplicativos de terceiros que permitem a coleta de quase todas as informações de um aparelho.

Já aplicativos como FindMyKids permitem ao responsável ativar o microfone do telefone do filho e até gravar áudio. Um outro aplicativo, TeenSafe, ativa um “modo discreto” em que o filho “nunca descobrirá que seus pais o estão rastreando”. Bombusa afirma que, além do rastreamento físico, os aplicativos também podem gerenciar a vida digital da criança, “seja sobre os seus gastos se você der uma mesada online, ou como e quando eles usam os consoles de jogos”.

OurPact envia capturas de telas das interações online dos filhos enquanto Bark rastreia as mensagens e alerta os pais sobre “interações preocupantes”. Bombusa explica que a quantidade de investimentos nesse setor da internet indica uma demanda alta. Uma pesquisa de 2019 entre pais e responsáveis no Reino Unido concluiu que 40% deles estavam usando algum tipo de rastreamento por GPS diariamente.

Segurança

A premissa desses aplicativos é que, quanto mais os pais souberem, menos seus filhos correm riscos. Mas Sonia Livingstone, professora do departamento de comunicação da London School of Economics and Political Science, acredita que “não há evidências de que nenhum desses aplicativos aumente a segurança das crianças. Procuro todas as evidências e nunca vi nenhuma”.

Desse modo, a especialista em segurança e direitos digitais das crianças defende que, a longo prazo, os aplicativos de rastreamento podem ter “consequências indesejadas, e também prejudiciais”, especialmente para o relacionamento entre pais e filhos. Para Livingstone, “o mais importante para o desenvolvimento é que a criança aprenda a confiar nos pais – e os pais, na criança”.

Monitorar os filhos com tamanha intensidade e alcance, ainda mais sem seu conhecimento, pode prejudicar a confiança familiar, levando os filhos a fazer escolhas cada vez mais arriscadas ou então a aprender a escapar do rastreamento. Além disso, com a maturidade dos filhos, levanta o questionamento sobre o controle parental.

Na comunidade do Reddit chamada Insane Parents (“Pais Insanos”, em tradução livre), uma postagem recente diz: “Minha mãe viu que minha localização estava desligada no Life360, ameaçou desligar meu telefone e ainda disse que não posso mais dirigir o carro… Ah, eu já mencionei que tenho 20 anos de idade???”.

Livingstone argumenta que é “fundamental para nossa autonomia e nossa integridade pessoal que ninguém observe todos os nossos pensamentos pessoais. É isso que significa privacidade“.

Fonte: BBC

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