Os pilotos da Ucrânia que salvam vidas com caças da Guerra Fria

Os céus da Ucrânia permanecem contestados. Vários meses após o início da guerra, a força aérea ucraniana não foi destruída e continua a competir com a Rússia pelo controle do ar. Com apenas 98 aviões de combate no início do conflito, contra mais de 1.400 aeronaves russas, a Ucrânia não teve capacidade de oferecer muita resistência.

No entanto, contra todas as expectativas e apesar da perda de algumas de suas aeronaves, a maioria das quais foi destruída no solo no início da ofensiva russa, a força aérea ucraniana ainda está operacional e seus pilotos impedem a Rússia de dominar completamente os céus.

“No ar, os russos têm muitas vantagens sobre nós: suas aeronaves, seus radares, seus mísseis, seus sistemas de guerra eletrônica são mais modernos que os nossos e têm a vantagem dos números”, diz “Juice”, um piloto ucraniano. “Estamos melhor treinados e temos motivação extra para defender nosso país, mas o simples efeito da superioridade numérica é sentido”, disse em uma entrevista em vídeo de uma base aérea ucraniana.

O Mig-29

Reprodução/Krasimir Grozev

No crepúsculo da Guerra Fria, o MiG-29 era o peso pesado dos caças soviéticos que os pilotos americanos desejavam combater. No entanto, desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro, toda a identidade do MiG-29 foi invertida.

Contra as probabilidades, os pilotos ucranianos conseguiram voar com sucesso seus MiG-29 mais antigos contra aeronaves de combate e defesas aéreas russas muito mais avançadas. Então, uma vez temido como uma ameaça ao mundo livre, o MiG-29 tornou-se um símbolo da resistência ucraniana.

Isso é uma grande metamorfose para o MiG-29, que pretendia destruir os caças dos EUA, da OTAN e de qualquer outro inimigo quando se tornou operacional na década de 1980. O avião fazia parte do que os soviéticos chamavam de quarta geração de caças a jato, que incluía F-15, F-16 e F/A-18 americanos.

Reviravolta

“No geral, o MiG-29 não é o monstro de 3 metros de altura que foi postulado durante a Guerra Fria”, disse o tenente da Força Aérea estadunidense, Fred Clifton. “É um bom avião, mas não muito de caça quando comparado aos caças de 4ª geração do Ocidente.”

E, no entanto, os ucranianos usaram seus MiG-29 da era soviética para impedir que os russos ganhassem superioridade aérea sobre seu país. Embora as histórias sobre o “Fantasma de Kyiv”, um piloto ucraniano que supostamente derrubou vários caças russos, tenham se tornado um mito, os pilotos ucranianos da vida real estão superando seu peso em suas aeronaves antigas.

Os ucranianos sabem como coordenar suas operações aéreas com suas defesas aéreas, como mísseis terra-ar S-300, para criar um sistema de defesa aérea integrado que apresenta desafios para qualquer adversário, o major da Força Aérea Drew Armey, um F. -15, disse a David Roza, da Task & Purpose, em março.

“Essas combinações de sistemas são muito difíceis para os russos lidarem”, disse Armey, que ajudou a treinar pilotos ucranianos como parte da 144ª Ala de Caça da Guarda Aérea Nacional da Califórnia. “Do ponto de vista da eficácia, os ucranianos estão aproveitando ao máximo o que têm.”

Os pilotos da Ucrânia

O treinamento dos pilotos ucranianos evoluiu desde que a Rússia invadiu seu país pela primeira vez em 2014 para enfatizar táticas flexíveis e manter suas aeronaves constantemente em movimento para evitar serem destruídas no solo, informou Thomas Newdick, do The War Zone, em abril. Durante os exercícios com a Força Aérea dos EUA, os F-15 desempenharam os papéis dos caças russos SU-30 e SU-35S para ensinar os pilotos ucranianos a derrotar as táticas russas.

“Todos os participantes desses exercícios ficaram muito mais prontos para enfrentar esse inimigo no ar e apenas saber às vezes não se envolver em certas condições, por exemplo, ou se envolver de algumas maneiras específicas”, disse um piloto ucraniano que se identificou por seu chamado sinal “Juice” ao The War Zone.

“Talvez seja por isso que nossos caras ainda estejam vivos”, acrescentou.

Fonte: DW