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Por que o azeite extravirgem é caro? Produção complexa e ‘fakes’ explicam

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Muita gente concorda que o azeite é saudável, mas há pouco conhecimento sobre as diferenças entre azeite virgem e extravirgem, e por que este último é mais caro.

Segundo Ricardo Castanho, sommelier de azeites e instrutor da Associação Brasileira de Sommeliers, dentre todas as alternativas, o extravirgem é o que mais se destaca.

Ele utiliza apenas frutos saudáveis, que vêm de boas práticas de cultivo, além de uma colheita cuidada e de seleção rígida de azeitonas.

Por isso, espera-se um aumento nos custos de produção, além da influência de outros elementos.

Fatores como as características da oliveira, que leva anos para dar frutos, uma colheita anual cara e um processo de alta tecnologia contribuem para o preço mais elevado. A relação custo-benefício não fecha, o que alerta para possíveis adulterações e fraudes.

Via Freepik

Diferenciais do extravirgem

A produção de um azeite extravirgem notável traz consigo dois grandes pontos distintivos em relação às outras categorias.

O primeiro se destaca pela maior quantidade de compostos benéficos à saúde, incluindo substâncias antioxidantes e anti-inflamatórias.

Ricardo acrescenta que o segundo diferencial é a qualidade sensorial complexa, proporcionando uma experiência gastronômica superior para quem aprecia o azeite cru à mesa.

Contudo, nem todas as características são óbvias. O especialista explica que a diferença entre os azeites extravirgens autênticos e aqueles misturados com outros óleos, como o óleo composto, predominantemente feito com óleo de soja, ou que incorporam azeite refinado na composição, como nos óleos vendidos como “tipo único”, é mais facilmente perceptível.

Enquanto isso, as discrepâncias entre azeites rotulados como extravirgens e azeites virgens bem produzidos são mais sutis e difíceis de discernir, apesar das notáveis diferenças nas características sensoriais entre ambos.

Então, por que é tão difícil perceber essas diferenças?

Segundo o especialista, estamos acostumados ao aroma defeituoso e à ausência de picância e amargor em azeites extravirgens, que, na verdade, deveriam ser classificados como virgens. Essa familiaridade nos impede de notar as nuances distintas.

Mesma classificação, preços diferentes

Ao percorrer a seção de azeites no supermercado, é comum que o consumidor se depare com diversas opções de azeites extravirgens, acompanhadas por uma disparidade significativa de preços.

Isso ocorre porque, na realidade, a faixa mais econômica desses azeites anunciados como extravirgens não atende verdadeiramente a essa classificação.

Os parâmetros avaliados pelas análises laboratoriais, presentes nos rótulos de cada produto, estão em conformidade com as leis locais. No entanto, a fiscalização sensorial ainda não está plenamente desenvolvida no Brasil e não fornece uma orientação clara ao consumidor.

Isso resulta em um cenário injusto para os produtores que se esforçam para oferecer azeites de alta qualidade.

Para o consumidor comum, que não está ciente desses aspectos, não há justificativa lógica para pagar significativamente mais por um produto quando os rótulos indicam que um azeite de R$ 30 e outro de R$ 80 são exatamente iguais.

Brecha na legislação

O que poucos sabem é que a classificação de extravirgem é falha no país. Um azeite rotulado como extravirgem representa a categoria mais nobre, ou seja, a melhor qualidade possível extraída de uma planta. Para obter essa classificação em nível global, um azeite deve cumprir dois critérios:

  • Análise físico-química, que classifica a acidez, uma informação presente no rótulo de todos os produtos. Este aspecto é detectado apenas por meio de processos laboratoriais, uma vez que a acidez é baixa e pouco sensível ao paladar.
  • Análise sensorial, conduzida por um grupo de especialistas que avaliam possíveis “defeitos” que o azeite possa apresentar, como aspectos oxidativos ou de fermentação, como mofo, ranço, de borra, avinagrado, metálico, entre outros. A presença de qualquer um desses defeitos afeta a qualidade do azeite.

Portanto, segundo o especialista, é compreensível que o produto importado que chega ao consumidor brasileiro não seja necessariamente o de melhor qualidade.

Os produtores direcionam os azeites com classificação inferior para mercados cujos consumidores não têm um entendimento aprofundado do produto. Os azeites que chegam ao Brasil frequentemente são de safras anteriores, passam por um processo de importação com amplas transformações, sem critérios rígidos de qualidade e controle, incluindo temperatura. Em resumo, são azeites envelhecidos.

O consumo de azeite no Brasil é inferior a 0,5 litro por ano, enquanto gregos e italianos, por exemplo, consomem de 15 a 20 litros anualmente. Por isso, ainda estamos caminhando para aprender sobre azeite extravirgem de qualidade.

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Como escolher o melhor extravirgem

O frescor se destaca como o principal diferencial de um azeite extravirgem, tornando crucial que o consumidor preste atenção à safra e à data de envase no momento da compra.

Os azeites passam por evolução dentro da garrafa, perdendo intensidade e qualidade sensorial mesmo antes de serem abertos. Portanto, quanto mais rápido o consumo, melhor.

Ainda, vale se atentar para a sensibilidade dos azeites, que não se preservam bem durante viagens, especialmente ao atravessar o oceano em longas e muitas vezes quentes jornadas marítimas. Por essa razão, os azeites produzidos localmente têm a vantagem em termos de qualidade.

Embora existam azeites importados de alta qualidade, os extravirgens brasileiros ganham vantagem ao percorrerem distâncias menores e chegarem mais frescos ao mercado nacional.

 

Fonte: UOL

Imagens: Freepik, Freepik

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