Uma das ideias mais polêmicas sobre o pós-vida envolve a clonagem digital, uma espécie de tecnologia que imita, com precisão, a personalidade de alguém que já se foi.
Na prática, isso proporciona àqueles que ficaram a possibilidade de manter a companhia da pessoa falecida.
Atualmente, essa proposta ganha destaque devido aos avanços na inteligência artificial generativa.
No entanto, surgem diversas dúvidas e dilemas éticos relacionados a essa prática, já que a clonagem digital impacta não apenas os interesses dos vivos, mas também os do indivíduo clonado.
Em uma recente pesquisa, o professor Masaki Iwasaki, da Universidade Nacional de Seul, investigou as opiniões das pessoas sobre a clonagem digital.
Surpreendentemente, a ideia se revelou mais aceitável nos casos em que a pessoa falecida havia concedido permissão antecipadamente, com 58% dos entrevistados concordando.
O que seria a clonagem digital?
A clonagem digital se refere à criação de uma réplica virtual ou digital de uma pessoa, incluindo sua personalidade, memórias e características distintivas. O processo envolveria a utilização avançada de tecnologias como inteligência artificial, aprendizado de máquina e processamento de linguagem natural.
Para criar uma clonagem digital, seria necessário coletar uma quantidade significativa de dados sobre a pessoa em questão, incluindo registros de suas interações online, conversas, vídeos, fotos e outras informações relevantes.
Em seguida, empregaria-se algoritmos de IA para analisar e entender o padrão comportamental, preferências e até mesmo nuances emocionais da pessoa.
A clonagem digital buscaria replicar a forma como a pessoa se expressa, toma decisões e interage, criando uma representação virtual que se assemelha de maneira convincente à personalidade original.
Isso poderia incluir a reprodução de padrões de fala, estilo de escrita e até mesmo a capacidade de responder a situações de maneira semelhante à pessoa real.
Já existem alguns projetos que imitam essa necessidade, no caso de redes sociais e perfis que utilizam informações para gerar avatares. Contudo, nada se compara ao que a tecnologia planeja, especialmente após a morte.
Receio com a clonagem digital
Após a revelação do projeto, a ideia de uma “ressurreição virtual” provocou divergências de opiniões. Muitos demonstraram relutância em relação a qualquer procedimento desse tipo, mesmo com o consentimento prévio do falecido.
Quando a pessoa não havia concedido consentimento, ou até mesmo havia expressado discordância em relação à clonagem enquanto estava viva, apenas 3% dos entrevistados aceitaram a proposta. Quando questionados sobre aceitar ser clonados, 59% das respostas foram negativas.
Iwasaki sugere que uma abordagem cautelosa envolve documentar os desejos relacionados à própria morte. Assim, estabelece uma comunicação clara com a família para ser considerada em momentos futuros.
Essa prática faz sentido, especialmente considerando o avanço significativo de ferramentas e aplicativos de inteligência artificial, especializados em chatbots personalizados e na geração de avatares.
Geração passada
A relutância em relação a clonagem digital apresenta uma série de motivos, destacando-se, entre eles, a resistência de gerações passadas pouco familiarizadas com as tecnologias avançadas.
Muitos indivíduos mais velhos podem encontrar dificuldade em compreender e aceitar a ideia de uma replicação digital de si mesmos. Isso pela falta de familiaridade e experiência com essas inovações.
Além disso, questões de natureza religiosa ou alinhamentos pessoais também desempenham um papel significativo nessa relutância.
Diversas crenças e tradições podem colidir com a noção de clonagem digital, levantando questionamentos éticos e morais sobre a preservação da identidade após a morte.
A perspectiva de interferir no curso natural da vida após a morte pode ser vista como contrária a certas convicções religiosas, contribuindo para a resistência observada.
Por isso, embora seja uma alternativa em crescimento, esse projeto enfrentará algumas barreiras até se consolidar no cenário atual.
Fonte: Olhar Digital
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