A pandemia do covid-19 já existe há mais de três anos e durante todo esse tempo mais coisas são descobertas sobre o vírus, seja como ele age, como pode ser prevenido ou quais as consequências que ele traz para aqueles que já foram infectados. Uma nova consequência foi vista pelos pesquisadores.
O caso aconteceu com Annie, nome fictício, que depois de ter pegado covid e ter se curado, ela foi encontrar com sua família pela primeira vez e viu que, para ela, a doença ainda não tinha terminado. “A voz do meu pai saiu do rosto de um estranho”, disse ela para os pesquisadores.
Antes de ser diagnosticada com covid-19, Annie conseguia reconhecer rostos normalmente. Ela contraiu o vírus em março de 2020 e depois de alguns dias ela começou a se recuperar, mas logo teve uma recaída depois de vários meses. Através do estudo do caso dela, é sugerido que se pode adicionar na lista de consequências trazidas pelo vírus a “cegueira facial”.
Estudo
Esse novo estudo foi feito com mais 50 pessoas que lutaram contra o covid longo. Com isso, foi visto que a maior parte deles estavam achando difícil identificar os rostos que lhes eram familiares desde que eles contraíram o vírus.
“Os rostos são como água na minha cabeça”, explicou Annie.
Annie é uma artista de 28 anos que, antes do covid, olhava para aquilo que ela pintaria talvez uma vez a cada 15 e 30 minutos. Agora, ela precisa olhar frequentemente para se lembrar daquilo que está pintando.
No estudo, os neuropsicólogos do Dartmouth College, Marie-Luise Kieseler e Brad Duchaine, deram a ela vários testes para que ela fizesse. Com isso eles conseguiram confirmar o problema de reconhecimento facial e dizer que ele é proveniente de defeitos específicos de memória facial, e não causados por problemas mais amplos.
Contudo, além desse reconhecimento facial, Annie também está com problemas com relação à sua locomoção em ambientes familiares e tem dificuldades com direções. Tanto é que ela precisa colocar sempre um pin no mapa para se lembrar onde deixou o carro. Essa dificuldade de navegação também é um outro problema comum nas pessoas com prosopagnosia.
“A combinação de prosopagnosia e déficits de navegação que Annie tinha é algo que chamou nossa atenção porque os dois déficits geralmente andam de mãos dadas depois que alguém teve danos cerebrais ou déficits de desenvolvimento. Essa co-ocorrência provavelmente se deve às duas habilidades que dependem de regiões cerebrais vizinhas no lobo temporal”, explicou Duchaine.
Consequências do covid
Quando estava com covid, Annie perdeu seu olfato e paladar, teve dificuldades para respirar e também teve febre alta durante alguns dias. E desde sua recaída, ela teve problemas com o reconhecimento facial e a navegação, junto com outros sintomas de covid, como por exemplo, problemas de concentração, fadiga e nevoeiro cerebral. Além desses, Annie também desenvolveu enxaquecas e problemas com equilíbrio.
“Portanto, um derrame não pode ser excluído como a causa de seus sintomas, especialmente devido às evidências de aumento do risco de derrame com COVID-19”, disseram os pesquisadores.
Seja qual for a causa, tudo isso mostra que o covid pode sim causar problemas neurológicos. “Nosso estudo destaca os tipos de problemas de percepção com reconhecimento facial e navegação que podem ser causados pelo COVID-19 – é algo que as pessoas devem estar cientes, especialmente médicos e outros profissionais de saúde”, pontuou Duchaine.
Nesse estudo, a maior parte das pessoas que tiveram covid longo analisadas pelos pesquisadores relataram dificuldades neurológicas perceptíveis quando faziam coisas que antes do vírus elas achavam fáceis.
“Sabe-se que existem amplos problemas cognitivos que podem ser causados pelo COVID-19, mas aqui estamos vendo problemas graves e altamente seletivos em Annie. E isso sugere que pode haver muitas outras pessoas que têm déficits bastante graves e seletivos após o COVID”, concluiu Duchaine.
Fonte: Science alert
Imagens: Allergy & asthma network, Neuroscience news
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