Há pouco mais de uma semana, um dos tigres-de-Bengala da Índia que estão em um zoológico da Nicarágua acabou de dar à luz a um filhote. De acordo com a agência de notícias AFP, o recém-nascido foi rejeitado pela mãe e, por isso, está sob os cuidados de profissionais que trabalham na instituição.
Conforme foi divulgado pela imprensa internacional, o filhote, que se chama Nieve – neve, em espanhol -, não foi aceito pela mãe por ter nascido completamente branco. Mas, afinal, como seus pais, que são tigres-de-Bengala da Índia, conseguiram gerar um bebê tigre com tal característica?
Tigres brancos
Os tigres brancos são uma ‘versão’ rara do tigre-de-Bengala (Panthera tigris tigris), uma subespécie de tigre encontrada na Índia, em Bangladesh, no Nepal e em Butão. Em suma, a cor branca é resultado de uma mutação recessiva em um único gene. A mutação, basicamente, ocorre quando esse gene, em específico, gera uma cópia de si mesmo, expressando, assim, a característica.
De acordo com uma publicação feita em 2013, pela revista Current Biology, o gene responsável que inibe a falta de pigmentação é o SLC45A2. Os tigres que nascem brancos carregam uma variação desse gene, que impede a produção de pigmentos característicos dos tigres-de-bengala. A variação do gene, curiosamente, não inibe os pigmentos pretos e é exatamente por isso que os tigres brancos acabam adquirindo listras pretas.
De onde vêm os tigres brancos?
Tigres-de-Bengala brancos raramente são encontrados na natureza. O último registro no subcontinente indiano data de 1500 e, segundo um estudo que feito em 2013 e publicado na Current Biology, o último tigre branco em liberdade foi morto a tiros em 1958.
Hoje, a maioria dos tigres brancos vivem em cativeiros, como, por exemplo, zoológicos ou parques, que são protegidos por leis ambientais. De acordo com uma publicação do portal Live Science, quase todos os tigres brancos em cativeiro descendem de um macho chamado Mohan, que foi capturado na selva indiana em 1951, quando ainda era um filhote.
Mohan e seus descendentes são consanguíneos, o que aumentam as chances de que a variação do gene, que carrega a mutação, seja transmitido. É a endogamia de tigres brancos, que manteve a mutação viva na população cativa em todo o mundo. Mas, infelizmente, essa prática de endogamia ocasionou uma série de problemas, como, por exemplo, morte prematura, natimorto e deformidades.
À medida que os zoológicos começaram a se concentrar mais na criação de espécies ameaçadas de extinção como uma forma de garantir uma maior proteção de populações selvagens, esses problemas – e a falta geral de diversidade genética entre os tigres brancos – continuam proliferando cada vez mais.
Por conta disso, em 2011, a Association of Zoos & Aquariums declarou que suas instituições credenciadas não deveriam criar intencionalmente tigres brancos. A mutação, entretanto, ainda existe em tigres que vivem em cativeiro e, como a característica é recessiva, mesmo indivíduos que não são brancos podem ser portadores da mutação.
No zoológico da Nicarágua, o bisavô de Nieve, o tigre recém-nascido que citamos logo no início da matéria, era branco, portanto, ambos os pais de Nieve carregavam o gene recessivo e, por ter herdado uma cópia da mutação de ambos os pais, Nieve nasceu com pelo branco.