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Abundância de água doce na desértica Dubai coloca em risco o Golfo Pérsico e o clima do planeta

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Apesar de muitos acharem que Dubai é um paraíso aquático, ele está no meio do deserto, e sua abundância de água doce pode prejudicar seriamente o Golfo Pérsico.

Diariamente, os visitantes têm a oportunidade de realizar mergulhos na piscina mais profunda do mundo ou esquiar em um gigantesco centro comercial, com neve artificial.

Além disso, possui uma grande fonte, famosa por ser a maior do planeta, lança mais de 83 mil litros de água no ar, acompanhando a música que ecoa pelos alto-falantes.

Para manter todo esse luxo, entretanto, a cidade enfrenta um desafio devido às condições climáticas da região: a escassez de água doce.

Para contornar essa situação, Dubai recorre à dessalinização da água do mar, utilizando tecnologias que consomem grandes quantidades de energia. Esse processo garante o abastecimento da metrópole em constante crescimento.

No entanto, há um custo associado a tudo isso: especialistas alertam que o Golfo Pérsico está sendo impactado por esse processo.

Os resíduos salinos, conhecidos como salmoura, combinados com os compostos químicos utilizados na dessalinização, estão aumentando a salinidade do golfo e elevando a temperatura das águas costeiras. Isso prejudica a biodiversidade, a indústria pesqueira e as comunidades litorâneas.

Via Ivony Grand Hotel

Impacto natural

O local também enfrenta os impactos das mudanças climáticas e das grandiosas iniciativas bilionárias de Dubai para criar ilhas artificiais por meio de aterros.

No arquipélago artificial, propriedades à beira-mar estão à venda, incluindo uma ilha privada em formato de cavalo-marinho, avaliada em US$ 34 milhões.

Se não forem implementadas medidas imediatas para reverter a situação, a combinação da dessalinização com as mudanças climáticas poderá resultar em um aumento de pelo menos 3 graus Celsius na temperatura das águas costeiras.

Além disso, terá um crescimento climático de mais de 50% da área do Golfo até 2050, conforme aponta um estudo de 2021 publicado na revista científica The Marine Pollution Bulletin, divulgado na plataforma online ScienceDirect, que disponibiliza artigos revisados por especialistas.

Medidas adotadas

Dubai, a cidade mais populosa dos EAU, tem adotado medidas para lidar com esses impactos por meio de iniciativas ambientais e novas tecnologias.

No entanto, a pressão por mais esforços só aumenta com a abundância de água doce. A cidade foi sede, desde 30 de novembro, da Conferência do Clima das Nações Unidas, conhecida como COP28.

Dessa forma, intensifica-se as tensões devido aos investimentos em combustíveis fósseis realizados pelos EAU e outros países participantes.

Abundância de água doce

Além de viabilizar as atividades recreativas luxuosas da cidade, a abundância de água doce na região desempenha um papel crucial na subsistência, e a dessalinização é responsável por fornecer água potável para uma cidade sedenta.

De acordo com um relatório de sustentabilidade de 2022, a Autoridade de Eletricidade e Água de Dubai supre recursos hídricos para mais de 3,6 milhões de residentes e 4,7 milhões de visitantes diários.

Projetos estimam um aumento nesse número até 2040, intensificando ainda mais a demanda.

O mesmo relatório indicou que, no ano anterior, a cidade dessalinizou aproximadamente 6 milhões de litros de água.

Para cada 3,7 litros de água dessalinizada produzidos no Golfo, cerca de 5,6 litros de salmoura são descartados no oceano.

Em Dubai, o Complexo de Energia e Dessalinização Jebel Ali, o maior do mundo em seu setor, extrai água do mar, submetendo-a a diversas etapas de tratamento antes de distribuí-la como água potável pela cidade.

Contudo, as 43 usinas de dessalinização em Jebel Ali operam majoritariamente com combustíveis fósseis.

Em 2022, os Emirados Árabes Unidos emitiram mais de 200 milhões de toneladas de carbono, registrando um dos maiores índices per capita do mundo.

Via Pexels

Influência

Além disso, vale pontuar que, agora, outras regiões costeiras, como Carlsbad, na Califórnia, estão adotando essa tecnologia para enfrentar secas severas.

Na liderança da dessalinização nos Estados Unidos está o estado da Flórida, enquanto o Arizona, mais afastado do oceano, está considerando a possibilidade de canalizar água dessalinizada do México.

Há muito tempo, outros países do Golfo recorrem a esse processo, incluindo o Bahrein, Kuwait, Arábia Saudita e Catar.

Ao contrário da economia baseada em petróleo de seus vizinhos, a economia de Dubai se concentra principalmente no turismo, no setor imobiliário e na aviação.

Embora seu breve boom petrolífero nas décadas de 1960 e 1970 tenha servido como base financeira para a grandiosa infraestrutura arquitetônica da cidade.

Iniciativas

Dubai já anunciou iniciativas ambientais para conter a abundância de água doce, incluindo esforços para reduzir em 30% a demanda por energia e água até 2030.

Além disso, deseja alcançar 100% de seus recursos energéticos a partir de fontes renováveis até 2050.

O país até buscou alternativas incomuns, como estimular quimicamente as nuvens para produzir chuva e incentivar os hotéis a gerar sua própria água por meio de recursos de captação atmosférica.

Faisal al-Marzooqi, professor associado da Universidade Khalifa especializado em estudos de dessalinização nos Emirados Árabes Unidos, tem advogado junto às autoridades governamentais para restringir o uso de água potável em atividades não relacionadas ao consumo, como em fábricas de metais e parques aquáticos.

Ele enfatiza que existem formas mais adequadas de manter as atividades de turismo.

Al-Marzooqi destaca a preocupação com os níveis crescentes de salinidade no golfo, alertando para os perigos que representam à biodiversidade da região, que já enfrenta hipersalinidade.

Via Wikimedia

Avanços

Entretanto, Dubai está avançando nesse aspecto. Em 2021, estabeleceu que todos os novos projetos de dessalinização na cidade devem adotar o processo de osmose reversa.

Por outro lado, a maioria das usinas de dessalinização no país ainda utiliza a técnica mais antiga, a destilação em batelada com múltiplos estágios.

Esse método, ao contrário da osmose reversa, que remove o sal e outros contaminantes por meio de uma membrana semipermeável, depende do calor.

Décadas atrás, quando os Emirados Árabes Unidos começaram a explorar a dessalinização, essa tecnologia era mais adequada para lidar com a alta salinidade do golfo.

Atualmente, a osmose reversa pode desempenhar a mesma função, sendo mais ecológica.

Mesmo que ambas gerem salmoura como subproduto, os resíduos da destilação em batelada com múltiplos estágios são consideravelmente mais quentes e, por conseguinte, mais prejudiciais ao ecossistema.

Apesar desses esforços, Dubai tem enfrentado críticas. Faisal al-Marzooqi observa que não vê muitas iniciativas em foco, mas continuarão lutando para controlar a questão da salmoura.

 

Fonte: R7

Imagens: Ivory Grand Hotel, Pexels, Wikimedia

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