Afinal humanos são naturalmente violentos?

Entre três e quatro mil anos atrás surgiram as primeiras civilizações humanas, e desde então os humanos, como espécie, ficaram em paz durante cerca de 268 anos. Contudo, logo essa paz acabou. Claro que a violência não é um fenômeno moderno, mas será que ela é uma parte inerente dos seres humanos? Nós evoluímos para sermos agressivos?

A resposta para isso não é uma coisa simples. De acordo com um estudo de 2014, a violência letal é comum nas comunidades de um de nossos parentes primatas vivos mais próximos: os chimpanzés. Isso sugere que a violência pode ter sido parte dos humanos pelo menos desde o último ancestral compartilhado com os chimpanzés, que teria vivido cerca de oito milhões de anos atrás.

Segundo os especialistas, é claro que a violência prevalece desde que os humanos existem. “A violência é um condutor de grande parte da história humana. Todos os primeiros impérios da humanidade foram construídos por meio de intimidação e violência”, disse David C. Geary, um cientista cognitivo e psicólogo evolutivo da Universidade de Missouri, em Columbia.

“Também há evidências de agressão antes da história registrada: ossos com evidências de morte violenta, como pontas de flechas embutidas ou crânios cravados.  Isso sugere que a violência é anterior a sociedades complexas e ao surgimento da civilização”, ressaltou Pat Barclay, um psicólogo evolutivo da Universidade de Guelph, em Ontário.

“Mas, por outro lado, as taxas de violência variam (e têm variado historicamente) descontroladamente entre culturas e comunidades. Isso sugere que a violência pode aumentar ou diminuir dramaticamente em nossa espécie”, continuou Barclay.

Um exemplo disso são os nômades que tendem a ter níveis baixos de violência humana interpessoal letal.

“Há uma grande variação nas taxas de violência, diferença de ordem de magnitude. Em algumas sociedades registradas específicas, até metade de todos os homens morrem violentamente nas mãos de outros homens. Em outras sociedades, a violência física é muito rara, como no Japão moderno”, disse Barclay.

Por que humanos se tornam violentos?

The Guardian

“A violência tende a gerar violência, o que significa que as culturas onde o conflito é comum são mais propensas a sofrer violência geração após geração”, disse Geary. Por isso que, de acordo com Gary Slutking, epidemiologista da Universidade de Illinois, a violência é transmitida da mesma forma que uma doença contagiosa.

Entretanto, Brad Evans, professor de violência política da Universidade de Bath, no Reino Unido, ressaltou que mesmo as pessoas em comunidades mais progressistas e pacíficas são capazes de atos violentos.

“Pessoas comuns e legais podem rapidamente se transformar em monstros quando as condições mudam. Da mesma forma, algumas pessoas que são muito antipáticas podem acabar mostrando atos notáveis ​​de bondade. Não há uma fórmula clara para explicar por que uma pessoa age de maneira violenta. E é por isso que é um problema tão complexo”, disse Evans.

Na visão de Barclay e Evans, é muito mais fácil que os humanos cometam atos violentos se a pessoa que está cometendo estiver longe das vítimas. Isso porque é bem mais fácil apertar um botão para lançar um míssil do que dar um golpe físico e direto em alguém.

Tipos de violência

Live science

Quando o assunto é violência, podem existir dois tipos de agressão na evolução humana. De acordo com Richard Wrangham, professor pesquisador do Departamento de Biologia Evolutiva da Universidade de Harvard, elas pode ser denominadas proativa e reativa.

A violência proativa é historicamente relacionada com a conquista. Ela vem quando um grupo está determinado a tomar os recursos ou a terra de outros humanos. Já a reativa é aquela descrita como uma resposta direta a tal agressão.

Mesmo que a violência pareça ser uma característica arraigada nos humanos, Barclay não perde o otimismo. “Falando objetivamente, qualquer indivíduo tem muito menos probabilidade de sofrer violência hoje do que em épocas anteriores. Estamos atualmente na era mais pacífica da história. Mas isso não garante que continuará assim. A menos que lutemos contra as mudanças climáticas, haverá mais escassez, mais desastres, mais desespero e mais motivos para conflito”, concluiu ele.

Fonte: Live Science

Imagens: Live Science, The Guardian