Natureza

Aonde os animais selvagens foram durante a pandemia de Covid?

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Quatro anos após o início do lockdown, em busca de deter o Covid-19, cientistas voltam a estudar o que aconteceu com os animais na pandemia.

Durante os primeiros meses, quando as manchetes informavam sobre o confinamento, os animais selvagens finalmente puderam sair para um mundo mais seguro, livre para andar pelos espaços urbanos.

Agora, uma nova pesquisa global, utilizando câmeras para monitorar tanto a atividade humana quanto a animal durante o período de isolamento imposto pela pandemia, mostrou que a realidade era muito mais complexa do que se imaginava.

Conforme Cole Burton, ecologista de vida selvagem e biólogo da conservação na Universidade da Colúmbia Britânica, líder do estudo, existia uma percepção simplista. No entanto, o que se observou foi um cenário bastante diferente.

Via Flickr

Embora em alguns lugares os humanos tenham desaparecido devido ao lockdown, em outros emergiram em maior número, incluindo parques que permaneceram abertos.

Além disso, houve uma grande variação na maneira como os mamíferos selvagens reagiram às mudanças no comportamento humano.

Por exemplo, carnívoros e animais que habitam áreas remotas e rurais se mostraram mais ativos quando as pessoas desapareciam da paisagem, enquanto grandes herbívoros e animais urbanos faziam o oposto.

Estudo

O estudo, recentemente publicado na Nature Ecology & Evolution em 19 de março, aprofunda e complexifica a compreensão dos cientistas sobre o fenômeno conhecido como “antropopausa”, quando os bloqueios provocaram mudanças radicais nos animais da pandemia.

Não existe uma única solução quando o assunto são os impactos na vida selvagem. Com a pesquisa, foi possível ver que nem todas as espécies reagem da mesma forma à presença humana.

As câmeras de armadilhas fotográficas, que capturam automaticamente imagens de animais selvagens ao detectar movimento e calor corporal, se tornaram ferramentas de pesquisa para os biólogos.

Este novo estudo é baseado em dados provenientes de 102 projetos que utilizam essa tecnologia em 21 países, com a maioria dos equipamentos localizados na América do Norte e Europa, mas também em outras regiões, como América do Sul, África e Ásia.

Os dados permitiram aos cientistas analisar os padrões de atividade de 163 espécies de mamíferos selvagens e rastrear a frequência com que os humanos apareciam nos mesmos locais que esses animais.

Via PxHere

Resultados

Durante o período de lockdown, a atividade humana diminuiu em alguns locais monitorados pelos projetos, enquanto aumentou em outros.

Em cada um desses locais, os pesquisadores compararam a frequência com que os animais da pandemia foram avistados durante períodos de alta e baixa atividade humana, tanto antes quanto durante a pandemia.

Os carnívoros, como lobos e linces, mostraram-se altamente sensíveis à presença humana, exibindo a maior redução na atividade quando os humanos estavam mais ativos.

Especialmente os portes maiores possuem uma longa história de antagonismo com as pessoas, e os embates diretos geralmente podiam ser mortais. Por isso, eles se movimentavam de maneira diferente.

Por outro lado, a presença de grandes herbívoros, como veados e alces, aumentou quando os humanos estavam por perto.

Isso pode ser atribuído ao fato de que os animais precisavam se locomover mais para evitar as multidões de pessoas.

Outra possibilidade é que, com a redução da presença de carnívoros devido à presença humana, os herbívoros se sentiam mais seguros para sair e se movimentar livremente.

Geografia

Via Freepik

Além disso, a localização geográfica também desempenhava um papel importante. Em áreas rurais e não desenvolvidas, onde a paisagem tinha menos intervenção humana, os animais da pandemia tendiam a se tornar menos ativos à medida que a atividade humana aumentava.

No entanto, em cidades e outras áreas urbanizadas, os mamíferos selvagens tendiam a se tornar mais ativos em sincronia com os humanos.

Ao analisar os relatórios, os cientistas perceberam que grande parte dessa atividade realmente ocorria durante a noite. Os animais se tornaram mais ativos no período noturno.

Novas dinâmicas com os animais da pandemia

Os pesquisadores sugerem que diversas dinâmicas podem estar por trás dessas tendências.

É possível que as espécies e os indivíduos que permaneceram nesses ambientes sejam os mais tolerantes e acostumados à presença humana.

Além disso, pode ser que se atraiam por recursos fornecidos pelos humanos, como alimentos e resíduos, e optem por realizar suas atividades durante a noite para evitar o contato com pessoas e reduzir o risco.

Isso parece ser uma estratégia adaptativa dos animais da pandemia para coexistir com os humanos, contribuindo para uma convivência harmoniosa pós-lockdown.

 

Fonte: Folha de São Paulo

Imagens: Flickr, PxHere, Freepik

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