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Apocalipse da internet em 2024? Físicas destrincham a confusão sobre tempestades solares

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Muitos estão preocupados com o apocalipse da internet, prometido para 2024. Com a virada do milênio, muitas situações de bug tecnológico surgiram, mas nenhuma se concretizou. Até agora.

Desde o fim do mundo pelo calendário maia até erros de sistema na virada do ano, muitas foram as interpretações para o fim do mundo.

No entanto, agora encaramos mais uma possível realidade de medo e desconhecimento: o apocalipse da internet.

Universo e as máquinas

Em novembro de 2023, vários portais de notícias estamparam a manchete: Cientista alerta para possível colapso da internet após tempestade solar.

Com base em informações da Fox, canal estadunidense, esses portais divulgaram declarações do pesquisador Peter Becker, da Universidade George Mason (Virgínia, EUA), prevendo o apocalipse da internet em 2024. Supostamente. Possivelmente. Potencialmente.

Apesar de o pesquisador não ter distorcido os possíveis impactos das tempestades solares, os jornais exageraram na gravidade do fenômeno. Desta vez, não é o apocalipse que se aproxima.

Para desvendar o suposto ultimato da internet na Terra, é necessário compreender três aspectos: 1. o que são tempestades solares; 2. como elas afetam a Terra; e 3. quais são as medidas que podemos adotar quando somos atingidos por elas.

Para obter respostas a essas perguntas, Claudia Medeiros, doutora em Geofísica Espacial e controladora de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e Roberta Duarte, astrofísica no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP) falam sobre o assunto.

Ambas são especialistas em divulgação científica, habilidosas em desvendar os mistérios da física por trás do Universo.

O que são tempestades solares?

Via Nasa

O Sol é uma esfera de gás hélio em constante movimento. Similar a uma cebola, a estrela possui diversas camadas com dinâmicas complexas que ainda desafiam a compreensão dos astrônomos e astrofísicos. Contudo, é um fato que o Sol passa por Ciclos Solares.

Com uma média de duração de 11 anos, os Ciclos Solares referem-se ao aumento ou diminuição gradual de manchas solares.

Ainda não compreendemos completamente o que causa e impulsiona essas manchas, conforme explica Roberta, mas é certo que o aumento no número delas está associado a uma maior frequência de tempestades solares.

Essencialmente, as tempestades solares são erupções de partículas elétricas na atmosfera solar.

Essas emissões, também conhecidas como ventos solares, transportam partículas, radiação e matéria que atingem a Terra e outros planetas do sistema solar.

Apesar de parecerem assustadoras em nosso imaginário acostumado à ficção científica, as tempestades solares ocorrem com frequência.

Na maioria das vezes, os ventos solares nem mesmo ultrapassam a magnetosfera terrestre, uma espécie de escudo em forma de rosquinha que protege o planeta da incidência de partículas solares.

Por outro lado, existem dois pontos mais “expostos” às partículas: os polos terrestres. É por isso que tanto o polo sul quanto o polo norte têm a sorte de contemplar as auroras.

As auroras surgem da interação das partículas solares com a atmosfera terrestre, pintando o céu com cores mágicas.

Outros planetas gasosos, como Júpiter e Saturno, também exibem auroras em seus polos, seguindo o mesmo processo.

Apocalipse da internet

Retornando ao tema do apocalipse. Atualmente, estamos no Ciclo Solar 25, em fase ascendente.

Isso significa que o número de manchas solares está aumentando, indicando uma maior incidência de tempestades solares. Entre 2024 e 2025, o Sol atingirá o ápice desse ciclo, com uma intensificação dos ventos solares.

Claudia Medeiros explica que o Ciclo Solar 25 está um pouco mais intenso do que o previsto. A NASA, inclusive, ajustou o modelo do ciclo solar com base nas novas medições destes últimos meses, corrigindo a projeção devido a um aumento ligeiro em relação às expectativas.

A data do pico também sofreu uma pequena alteração. No entanto, ainda assim, este ciclo está longe de ser tão intenso quanto outros que já experimentamos.

Como as tempestades solares afetam a Terra?

Via Unsplash

No caso das tempestades de radiação, a emissão de raios-x e ultravioleta (principalmente) se concentra na ionosfera da Terra, interferindo nas comunicações que dependem dessa camada da atmosfera superior.

Isso afeta particularmente as comunicações de longa distância utilizadas por aviões e submarinos. As tempestades de radiação são rápidas e alcançam a Terra na velocidade da luz, ou seja, em oito minutos.

Por outro lado, a tempestade geomagnética transporta uma grande quantidade de energia e massa coronal, o que atrasa sua chegada em dois a três dias.

Ela “diminui” a intensidade do campo magnético da Terra, podendo causar danos a linhas de transmissão e transformadores.

Ao mesmo tempo, o arrasto atmosférico provocado pelos ventos solares impacta os satélites. Eles podem perder a órbita — à qual a função do satélite está vinculada — ou ter seus circuitos prejudicados.

Outro tipo de tempestade solar é a de partículas, que leva algumas horas para atingir a magnetosfera e pode ocasionar falhas momentâneas ou totais nos satélites.

Para os astronautas em órbita, essas tempestades representam perigos ao expô-los à radiação.

Outros impactos

Via Pexels

As tempestades de partículas são responsáveis pela criação das auroras polares. Com o pico previsto entre 2024 e 2025, espera-se um aumento na frequência de auroras nos polos, além de sua ocorrência em locais não usuais, como registrado em 1989, quando os cubanos testemunharam uma aurora durante a madrugada.

E quanto às ações necessárias para receber o impacto do apocalipse da internet?

Por sorte, contamos com informações suficientes. Desde o século XVIII, cientistas monitoram incessantemente o Sol, proporcionando uma compreensão mais profunda sobre a relação entre o número de manchas solares e as tempestades.

Dessa forma, temos a estimativa do tempo para que cada uma alcance o planeta e os seus efeitos na vida, tanto dentro quanto fora da atmosfera. Ou seja, podemos ficar tranquilos, por enquanto.

 

Fonte: O Povo

Imagens: Nasa, Unsplash, Pexels

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