Após décadas de procura, homem suspeito de participar do genocídio de 2 mil pessoas em Ruanda é capturado

Em 1994, ocorreu um massacre em Ruanda, no qual cerca de 800 mil pessoas, principalmente da minoria étnica tutsi, foram assassinadas ao longo de três meses por extremistas hutus.

Embora o alvo principal fossem os oponentes políticos, os assassinos também atacaram pessoas de seu próprio grupo étnico.

Entre os responsáveis por esse chocante genocídio, suspeita-se de Fulgence Kayishema, acusado de ordenar o assassinato de 2 mil refugiados tutsis que buscaram abrigo em uma igreja.

De acordo com as autoridades, Kayishema teria comprado gasolina e a distribuído entre seus comparsas, que incendiaram o templo religioso. A igreja estava lotada de homens, mulheres, crianças e idosos.

Após o fogo se extinguir, os hutus ainda utilizaram uma escavadeira para demolir o que restava da construção, soterrando assim os sobreviventes do incêndio.

Via RSC

Kayishema estava sendo procurado desde 2001 e permaneceu foragido da Justiça por 22 anos.

A prisão aconteceu por conta de uma colaboração internacional com as autoridades militares da África do Sul, onde o suspeito se encontrava, além de apoio da ONU.

A prisão foi o resultado de uma investigação intensa, minuciosa e rigorosa. Familiares e associados conhecidos foram investigados exaustivamente, o que levou à identificação do local correto para buscar e encontrar as informações cruciais, conforme relatado por um funcionário anônimo do Ministério Público de Ruanda à CNN.

Depois de fugir de seu país, Kayishema se refugiou no Congo e, posteriormente, na África do Sul, onde vivia com documentos falsificados, dentro de uma comunidade composta por ex-membros do exército de Ruanda, que o ajudavam a se manter fora do alcance da polícia.

Além disso, após sua prisão, ele teria dito aos oficiais que ficou esperando que o encontrassem há muito tempo.

Guerra e massacre em Ruanda

A guerra civil em Ruanda, ocorrida entre 1990 e 1994, foi um dos episódios mais trágicos e violentos da história recente. O conflito se iniciou por tensões étnicas profundamente enraizadas entre os grupos étnicos majoritários em Ruanda, os hutus, e a minoria étnica tutsi.

Ao longo dos anos, as tensões entre hutus e tutsis se alimentaram por disputas políticas, desigualdades sociais e influências coloniais. O país já passava por períodos de violência interétnica no passado, mas em 1994 a situação atingiu um ponto crítico.

O estopim para o início da guerra civil foi o assassinato do presidente hutu Juvénal Habyarimana, com a queda do seu avião em 6 de abril de 1994. Esse evento desencadeou uma onda de violência desenfreada por todo o país, com grupos extremistas hutus iniciando um genocídio contra os tutsis.

Os tutsis foram alvos de ataques em massa, sendo assassinados de forma brutal e sistemática. A violência partiu, principalmente, de milícias hutus e civis comuns, que incitavam uns aos outros a cometerem assassinatos em massa.

Durante os três meses seguintes, estima-se que cerca de 800 mil tutsis foram mortos, além de hutus moderados que se opunham ao genocídio.

Via El País

Resposta lenta

A comunidade internacional foi amplamente criticada por sua resposta lenta e inadequada à guerra civil em Ruanda.

Além disso, a intervenção militar internacional foi limitada, e muitos países optaram por retirar suas tropas e funcionários. Essa falta de ação contribuiu para o prolongamento do genocídio e a perda de inúmeras vidas.

Somente após o avanço das forças tutsis do Exército Patriótico Ruandês (EPR) foi possível pôr fim ao genocídio. O EPR, liderado por Paul Kagame, assumiu o controle do país em julho de 1994, encerrando oficialmente a guerra civil.

O legado da guerra civil e do massacre em Ruanda é extremamente doloroso. O país ficou devastado, com uma enorme perda de vidas, infraestrutura destruída e cicatrizes profundas na sociedade ruandesa.

Desde então, Ruanda tem buscado a reconciliação e a reconstrução, concentrando-se na justiça, no perdão e no desenvolvimento socioeconômico. O país também implementou políticas de reconciliação e compartilhamento de poder entre hutus e tutsis para evitar futuros conflitos étnicos.

Crime prescrito?

As leis sobre prescrição de crimes variam de acordo com cada país e sua legislação específica.

No caso do massacre em Ruanda, o Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR) estabelece normas para julgar os responsáveis pelos crimes cometidos durante o período do genocídio. O TPIR não possui prescrição para os crimes de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra.

Portanto, mesmo que tenha se passado muito tempo desde os eventos ocorridos em 1994, o crime de genocídio não prescreve perante o TPIR ou outros tribunais internacionais que possam ter jurisdição sobre o caso.

Essa abordagem visa garantir que os perpetradores não possam escapar da responsabilização pelos seus atos, independentemente do tempo que tenha transcorrido desde a ocorrência dos crimes.

 

Fonte: UOL, UOL

Imagens: El País, RTP

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