Natureza

As plantas conversam entre si, mas não do jeito que você pensa

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Ao contrário dos seres humanos, que criaram várias línguas e métodos de comunicação distintos, as plantas conversam também, mas com uma capacidade de comunicação um pouco diferente.

Para entender essa relação, é fundamental ter atenção aos sinais não verbais que não se assemelham a rugidos de animais selvagens, latidos de cachorros de estimação ou cânticos de pássaros.

Apesar de serem organismos estáticos, inanimados e, em muitos casos, presos ao solo por centenas de anos, essas plantas conseguem emitir sinais próprios. E esse fato, de que as plantas conversam, é, na verdade, essencial para sua sobrevivência.

Ao longo do processo evolutivo, as plantas adquiriram a capacidade de detectar e reagir a vários fatores bióticos e abióticos, como água, sol e luz, por meio de mecanismos de interação complexos que envolvem sinais químicos, elétricos e, às vezes, até mecânicos. É o que afirma Amélia Carlos Tuler, cientista e professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR).

Estratégia de defesa

Segundo a especialista, a detecção de sinais externos e potenciais ameaças é mediada por uma variedade de proteínas sensoriais localizadas na membrana plasmática. Elas que capacitam uma resposta rápida por parte das plantas.

Esse processo é crucial para a defesa contra predadores em diversas espécies. Por exemplo, tais proteínas podem desencadear uma resposta metabólica, resultando na produção de compostos voláteis (odores) que repulsam os predadores, como insetos, ou tornando a planta não palatável.

Dessa forma, o próximo passo seria fazer com que todas saibam do perigo, ou preparem suas defesas. Ou seja, as plantas conversam para trocar informações.

Plantas conversam com química

Em certos casos, os compostos podem ser percebidos por plantas vizinhas, desencadeando mecanismos de defesa semelhantes para se protegerem de possíveis ameaças de forma coordenada. Este fenômeno é conhecido como comunicação química.

Essa capacidade foi recentemente ilustrada em um vídeo gravado por pesquisadores da Universidade de Saitama, no Japão. Eles observaram a reação de plantas após serem atacadas por lagartas desfolhadoras.

Além disso, a cientista Tuler explica que a produção de diversos pigmentos nas flores também possibilita a comunicação química, muitas vezes associada à atração de insetos polinizadores.

Em outro experimento recente, um grupo de pesquisa da Universidade da Califórnia, nos EUA, induziu a mudança de cor das folhas de uma planta para tonalidades avermelhadas ao introduzir um pesticida tóxico.

Via Freepik

Comunicação elétrica

Enquanto isso, mesmo sem proferir uma única palavra ou som, as plantas conversam com um nível notável de entendimento.

Quando as raízes das plantas enfrentam estresse hídrico, como durante períodos de seca, esses vegetais emitem sinais elétricos que se propagam verticalmente ao longo dos feixes vasculares do caule e dos vasos foliares, resultando no fechamento dos estômatos, explica a professora.

Dessa forma, a perda adicional de água é interrompida, minimizando os danos, graças à comunicação elétrica.

Conversa com outras espécies

Além disso, sem dúvida, as plantas não existem em isolamento neste planeta. Aproximadamente 80% delas vivem em simbiose completa com fungos micorrízicos e bactérias. Assim, são dependentes desses organismos para uma sobrevivência mais robusta e duradoura.

Através dessa associação simbiótica, elas conseguem modificar a fertilidade do solo e melhorar seu nível nutricional, entre outros benefícios.

Por isso, as plantas conversam também com seus parceiros de natureza. Por exemplo, com os chamados fungos micorrízicos, eles se falam por meio de uma rede interna de micélios. Esses são conjuntos de hifas, as “raízes” dos fungos.

Essa estrutura possibilita a troca de nutrientes entre os fungos e as plantas, como o nitrogênio fixado por leguminosas. A parceria pode até mesmo beneficiar espécies que não estão diretamente envolvidas nessa simbiose.

Em suma, essa troca de nutrientes e água envolve toda uma teia interconectada, influenciando a dinâmica vegetal, a biodiversidade, a competição entre as plantas, o estabelecimento de plântulas e diversos outros fatores.

Via Freepik

Capacidade de comunicação

Os pesquisadores não descobriram que as plantas conversam do nada. Esse conhecimento veio de estudos antigos.

Na história da biologia, dois momentos fundamentais destacam-se no entendimento da capacidade de comunicação das plantas. Em 1873, o fisiologista John Scott Burdon-Sanderson realizou experimentos com a planta insetívora Dionaea muscipula.

Ela é conhecida como “planta carnívora“, ou “planta com dentes”, identificando pela primeira vez o registro de um sinal elétrico em vegetais. Posteriormente, esse tipo de sinal foi reconhecido como potencial de ação.

Além disso, em 1926, o eletrofisiologista Jagadish Chandra Bose demonstrou que os movimentos rápidos nas folhas da planta do gênero Mimosa, popularmente conhecida como “dormideira”, eram estimulados por sinalização elétrica de longa distância.

A partir dessas descobertas pioneiras e de numerosas pesquisas subsequentes, hoje existe um consenso de que as plantas superiores, como as gimnospermas e angiospermas, são capazes de detectar diversos sinais do ambiente.

Além disso, elas também possuem mecanismos para a rápida transmissão desses sinais.

 

Fonte: Canaltech

Imagens: Freepik, Freepik, Freepik

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