Com o passar do tempo, as ferramentas de inteligência artificial têm chamado atenção do mundo todo. Por mais que elas tragam algumas questões consigo, desde a sua criação, as pessoas parecem estar compreendendo cada vez mais como usá-las. Dentre todas elas, a ferramenta mais conhecida é o ChatGPT.
As coisas que ele pode fazer vêm amentando com o passar do tempo. Agora imagine poder saber como sua saúde irá estar 30 anos no futuro. Por mais que isso pareça uma coisa impossível, provavelmente a inteligência artificial possa tornar isso uma realidade, mesmo que em microescala.
Tanto é que, no passado, o ChatGPT ajudou uma mãe a descobrir a doença rara que seu filho tinha. Até então, o menino tinha ido em 17 médicos e nenhum deles soube dizer o que ele tinha.
Sabendo desse caso, as pessoas podem ficar tentadas a pedir para o ChatGPT fazer uma projeção da sua saúde com base em seus hábitos de vida. Contudo, será que ele realmente funciona?
Com isso em mente, a equipe do site VivaBem fez um teste para ver se o chatbot mais famoso da internet realmente poderia fazer tais previsões. Os resultados que eles tiveram foram analisados por especialistas que pontuaram os riscos dessa prática e como ela não substitui uma consulta médica.
O perguntado e informado para o ChatGPT
No teste, uma equipe de sete pessoas respondeu perguntas a respeito dos seus hábitos de vida, fatores como: consumo de álcool, açúcar, regularidade de exercícios, hábitos alimentares, histórico de doenças, doenças pré-existentes, tabagismo, e uso de medicamentos.
Então, o ChatGPT recebeu a estrutura de uma anamnese médica básica e foi alimentada com esses dados. Depois disso, foi pedido que ele calculasse a probabilidade do desenvolvimento de doenças em um período de 30 anos para cada uma das sete pessoas. Para isso, eles usaram o ChatGPT 3.5, versão que tem o acesso de graça.
Previsões
A média de respostas de todas as pessoas tiveram essas doenças apontadas como sendo as de maior risco por conta dos hábitos de vida que foram informados:
- doenças cardiovasculares, especialmente hipertensão;
- doenças respiratórias;
- doenças autoimunes, como o tireoidismo;
- diabetes;
- obesidade;
- ansiedade.
Essas doenças tinham um risco de até 20% de aparecerem. E outras como cânceres, depressão, infecção urinária e enfisema pulmonar tinham 15% de chances de aparecerem.
Em uma análise individual de cada um, as porcentagens mais altas chegavam a 30% no desenvolvimento de doenças cardíacas, problemas na tireoide, gástricos, diabetes, câncer, trombose, depressão e ansiedade.
Claro que coisas como ser ex-fumante e consumo de álcool três ou mais vezes na semana aumentaram de maneira considerável os riscos do desenvolvimento de doenças. Contudo, o fator genético e a falta total de exercício físicos também tinham um papel importante.
Os maiores riscos estavam entre as pessoas que não faziam nenhum exercício físico e tinham históricos de doenças congênitas e problemas cardiovasculares na família.
Sugestões do ChatGPT
Com os resultados, o ChatGPT também deu algumas sugestões de mudanças de hábitos e outras coisas que as pessoas poderiam mudar para melhorar sua saúde.
1 – Ir ao médico de forma regular;
2 – Ter hábitos de vida saudáveis;
3 – Controlar a pressão arterial;
4 – Fazer uma dieta rica em vegetais;
5 – Moderar o consumo de álcool e açúcar;
6 – Ficar atento à saúde mental;
7 – Fazer exercícios físicos adequados;
8 – Ter uma supervisão médica para suplementação;
9 – Saber do histórico familiar de doença;
10 – Gerir o estresse.
Os resultados são verdade?
As pessoas que usam o ChatGPT para ter previsões exatas de como será sua saúde no futuro precisam ter cuidado. Até porque, mesmo parecendo, essa IA não consegue fazer essa previsão. Tanto é que a própria ferramenta fez o alerta de que a “estimativa é uma simplificação aproximada e não substitui uma avaliação médica detalhada”.
De acordo com Alexandre Chiavegatto Filho, professor de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP, as análises feitas pelo ChatGPT não são capazes de trazer um escore de risco individualizado de forma precisa. O que ele faz é somente se alimentar da literatura médica que já existe e trazer recomendações gerais e analisar a possibilidade do desenvolvimento de alguma doença.
“O que o ChatGPT fala sobre escores de risco está errado, mas existe potencial para que no futuro a área avance para incorporar algoritmos de IA preditiva e melhore sua qualidade. Por hora, ele não consegue fazer essas contas corretamente”, explicou.
“Pensando num cenário fora da inteligência artificial, é possível prever os riscos do desenvolvimento de algumas doenças baseado nos hábitos de vida das pessoas, consumo de embutidos, hormonioterapia. Se há histórico de síndromes genéticas, esses fatores de risco aumentam. Fazemos isso comumente em consultas de gestão de risco”, diz Clarissa Mathias, oncologista do Oncoclínicas e do Hospital Santa Isabel e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
Segundo Mathias, existem estudos que estão sendo feitos para a avaliação dos dados da vida real e a análise de dados populacionais com fatores de risco já conhecidos e os associando com o desenvolvimento do câncer. “Mas ainda estão em desenvolvimento, não é possível confiar cegamente. É preciso tomar cuidado, pois há chance de a IA alucinar e levar a diagnósticos errados”, disse ela.
Com relação as doenças psíquicas, Luís Zambom, mestre em psicologia clínica PUCRS e professor da Faculdade Mario Quintana, pontuou que existe uma relação bem forte entre os hábitos de vida e o desenvolvimento das condições. No entanto, ele não acredita que o ChatGPT consiga prever isso.
“São necessárias habilidades e competências pessoais irreproduzíveis por uma máquina, como conexão afetiva, escuta empática, capacidade de acolhimento, consideração humanizada e capacidade intelectiva e associativa”, defendeu Zambom.
Fonte: VivaBem
Imagens: VivaBem