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Cinco fatos para você não falar besteira sobre a Cracolândia

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Na mídia, as histórias e depoimentos parecem fantasiosos, e existem muitos fatos sobre a Cracolândia que a população não sabe.

Isso gera uma ótima reducionista que diminui a situação somente à violência e drogas. No entanto, existem mais dados e fatos sobre o assunto, e vale a pena conhecê-los antes de formar uma opinião.

Conheça alguns pontos importantes que trazem mais conhecimento sobre esse cenário:

5 fatos sobre a Cracolândia

1. A Cracolândia é isolada da cidade?

Via The Guardian

A Cracolândia não é uma área isolada da cidade. Ela não está desconectada dos processos e políticas implementados pelo governo, entidades privadas ou facções criminosas em outras partes da cidade de São Paulo, do estado ou do país.

Ela serve como ponto de encontro para diferentes fluxos marginalizados e deve ser considerada como um “conector urbano” para populações marginalizadas.

Este é um refúgio urbano para ex-presidiários, pessoas em situação de rua, trabalhadores, migrantes, prostitutas, usuários de drogas e indivíduos com problemas psiquiátricos, por exemplo, que não têm para onde ir.

Portanto, a Cracolândia não pode ser isolada das dinâmicas urbanas mais amplas e das estruturas de desigualdade. Ela não pode ser reduzida apenas à questão do consumo e venda de crack.

Como funciona a região

Veja alguns exemplos concretos para mostrar como a Cracolândia está intrinsecamente ligada às lógicas dos mercados populares:

  • As políticas de despejo realizadas em outras partes da cidade e a questão habitacional de forma geral têm um impacto direto no número de frequentadores da região.
  • A expulsão de usuários de drogas de seus bairros de origem pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) ou por moradores locais acaba levando-os para o centro da cidade.
  • As prefeituras de diferentes cidades do estado pagam passagens para pessoas em situação de rua irem para a capital, em vez de lidarem com esse problema social localmente.
  • É comum que ex-detentos de São Paulo, ao serem libertados, precisem arranjar dinheiro para retornar às suas casas distantes e acabem buscando refúgio na Cracolândia.
  • Trabalhadores precários que recebem seus salários semanalmente costumam frequentar mais o local nos finais de semana para relaxar e consumir drogas, o que torna o fluxo de pessoas mais intenso nesses dias.

2. Falta a presença do estado na Cracolândia?

Um dos principais fatos sobre a Cracolândia é que existe muita presença estatal, e ela faz parte do problema, contribuindo para a amplificação dos conflitos na região.

Isso porque existe uma aplicação de operações policiais repressivas com o objetivo de dispersar o “fluxo” de pessoas.

No entanto, é ineficaz em termos humanitários e práticos, pois não sufoca o tráfico de drogas, apenas mascara.

Essas operações parecem responder mais às dinâmicas de acordos financeiros entre traficantes e agentes das forças de segurança. Ainda, envolve a corrupção policial, do que às demandas reais de segurança pública.

Sabemos que as quantidades mais significativas de drogas não estão nas ruas ou nos bolsos dos frequentadores da Cracolândia, mas sim armazenadas dentro de residências, prédios, cortiços e apartamentos.

Eles muitas vezes pertencentes à classe média alta, e estão nas proximidades da região e em outras partes da cidade.

Como resultado, observa-se uma tendência de radicalização dos conflitos na Cracolândia e questionamentos sobre a capacidade e legitimidade do estado em lidar com as adversidades do local.

3. A Cracolândia é sinônimo de caos?

Via UOL

Quando observada a partir de sua dinâmica interna e dos valores que a permeiam, a Cracolândia apresenta uma produção de ordem, hierarquias, laços sociais e sistemas de poder.

O caos é apenas uma perspectiva para aqueles que nunca passaram um dia no “fluxo”. Ou seja, não estão familiarizados com suas próprias formas de controle e resolução de conflitos.

A Cracolândia não é uma terra de ninguém dominada pela irracionalidade e desumanidade. Uma visão puramente externa não é suficiente para construir soluções viáveis para as questões que ela apresenta.

4. A Cracolândia é o fim da linha?

Ao acompanhar as trajetórias dos frequentadores do cenário, um dos fatos sobre a Cracolândia que surgem é que o lugar é o “menos ruim” para as pessoas.

Trata-se de vidas marcadas por tortura, violência doméstica, humilhação e falta de recursos e serviços.

A vida de um usuário frequente de crack que vive na periferia tende a ser muito pior e menos livre do que aquele que vai para o centro da cidade. Ali, eles estão entre seus pares.

Não é necessário se esconder em locais escuros e insalubres para consumir drogas, há mais movimento de pessoas e pequenas ajudas no dia a dia.

Além disso, há uma maior oferta de serviços de assistência e trabalhos informais, além da possibilidade de anonimato. Quando estão em aglomeração, um protege mais o outro.

Via Exame

5. A Cracolândia é um território fixo?

A Cracolândia é itinerante, mas se movimenta para continuar no mesmo lugar.

Ou seja, a Cracolândia está onde os usuários estão, desafiando a governança urbana e as práticas policiais de dispersão.

A capacidade de se formar e se desfazer, de se dispersar e se aglomerar, é uma característica da Cracolândia, que também desafia políticas institucionais baseadas na reprodução do modelo tradicional de lar, família e trabalho.

Por isso, vale conhecer mais sobre a região, e entender que o problema, muitas vezes, é mais complexo do que sai na mídia.

 

Fonte: Intercept Brasil

Imagens: UOL, The Guardian, Exame

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