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Como o chumbo afeta as crianças no Brasil

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O chumbo é um metal tóxico que pode danificar o cérebro das crianças pelo resto da vida. Ele pode ficar no ar por décadas e afeta um terço das crianças no planeta.

A estimativa é de que uma em cada três crianças no mundo, um total de 800 milhões de menores, tenha níveis de chumbo no sangue iguais ou superiores a 5 microgramas por decilitro (µg/dL), um nível que, de acordo com um relatório conjunto de 2020 da Unicef e da ONG internacional Pure Earth, requer ação internacional.

Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que “nenhum nível de chumbo no sangue é seguro”.

O efeito do chumbo na saúde

Foto: Getty Images

O chumbo pode provocar danos irreparáveis aos cérebros das crianças, de acordo com o relatório da Unicef e da Pure Earth “A verdade tóxica: a exposição das crianças à contaminação por chumbo prejudica o potencial de uma geração”.

Ele é ainda mais destrutivo para bebês e crianças menores de cinco anos, porque danifica seus cérebros antes deles terem sido desenvolvidos plenamente. Isso pode causar problemas neurológicos, cognitivos e físicos para toda a vida, segundo o informe.

Diversos estudos apontam que níveis de chumbo no sangue superiores a 5 mg/dL estão associados a uma perda irreversível de capacidade intelectual. Além disso, o envenenamento por chumbo na infância foi ligado ao comportamento criminoso de adolescentes e adultos.

Vale destacar que, segundo a OMS, esse metal também provoca danos permanentes em adultos, podendo aumentar o risco de hipertensão e danos renais.

Como o chumbo atua no corpo

Foto: Getty Images

Em entrevista à BBC, Howard Mielke, professor da Escola de Medicina da Tulane University em Nova Orleans, nos Estados Unidos, aponta que o chumbo é quimicamente semelhante ao cálcio e “rouba” seu lugar.

“O cálcio é essencial nas sinapses das células nervosas. Se o chumbo ocupar o lugar do cálcio, os sinais não são transmitidos, e as células nervosas morrem. O resultado é um encolhimento do cérebro”, explica o especialista.

Uma segunda forma que o chumbo prejudica a saúde é que ele se deposita nos dentes e nos ossos, onde se acumula com o tempo.

“Se a mãe foi exposta ao chumbo quando criança, seus ossos contêm chumbo. Durante a gravidez, o cálcio nos ossos da mãe é importante para o desenvolvimento do feto. Mas, se os ossos da mãe contiverem chumbo, esse chumbo passará para o feto em vez do cálcio.”

O dano é sempre irreversível?

Foto: Getty Images

Caso as crianças sejam expostas de forma crônica e excessiva ao chumbo por longos períodos na infância, as consequências são irreversíveis, informa Mielke. “Se a exposição foi por um período curto e não de forma intensa, e a fonte de chumbo é rapidamente reduzida, então, o dano pode ser limitado e pode haver uma recuperação.”

“As crianças são resilientes. No entanto, o principal tratamento é a prevenção primária, ou seja, prevenir a exposição ao pó de chumbo em primeiro lugar.”

Já Daniel Estrada, CEO da Pure Earth no México, acrescenta que “os danos às crianças são permanentes se a fonte de exposição não for eliminada após os 4 anos de idade. Se o chumbo for eliminado mais cedo, o dano é reversível”.

No Brasil

Foto: Getty Images

Mesmo que a utilização do chumbo na gasolina tenha sido abandonada, seu legado continua principalmente nas grandes cidades. No Brasil, estudos de 2017, 2018 e 2019 confirmaram a presença do metal da gasolina no ar, de acordo com dois dos autores desses estudos, Carlos Eduardo Souto de Oliveira e Marly Babinski.

Os autores destacaram que o Brasil foi “um dos primeiros países do mundo a eliminar o chumbo da gasolina”, assinalam os pesquisadores. “A fase de eliminação do chumbo adicionado à gasolina para atuar como antidetonante começou no Brasil em 1989 e terminou em 1992, quando o etanol passou a ser misturado à gasolina.”

O estudo de 2017 apontou que as principais fontes de chumbo foram o tráfego de veículos e o cimento de construções ou fábricas de cimento. Uma outra fonte deste metal foi a região industrial de Cubatão, localizada a cerca de 50 km da cidade de São Paulo.

No entanto, Souto de Oliveira destaca que as contrações do chumbo no ar de São Paulo são extremamente baixas. Elas também não representam um problema para a saúde da população.

Outras fontes de contaminação

Outra contribuinte para o envenenamento por chumbo é a reciclagem informal e inadequada de baterias que contêm esse metal, de acordo com o relatório do Unicef e da Pure Earth.

“Trabalhadores em pequenas empresas de reciclagem, de forma perigosa e muitas vezes ilegal, quebram caixas de baterias, derramam ácido de chumbo e poeira no chão, e derretem esse material recuperado em fornalhas externas rudimentares que emitem gases tóxicos que envenenam a comunidade ao redor”, diz o relatório.

Outras fontes de exposição de crianças ao chumbo incluem água de canos, tintas, soldas em latas de comida e especiarias, cosméticos, brinquedos e outros produtos de consumo.

“Pais cujas ocupações envolvem trabalho com chumbo muitas vezes trazem pó do metal para casa em suas roupas, cabelos, mãos e sapatos, inadvertidamente expondo seus filhos a este produto tóxico.”

Vale destacar que, de acordo com o Unicef e a Pure Earth, a intoxicação por chumbo afeta desproporcionalmente crianças em países de baixa e média renda. Dentro de cada país, as mais afetadas são as crianças que vivem em comunidades mais pobres.

Fonte: BBC

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