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Como os discos voadores se tornaram popular na cultura americana

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Ao longo dos anos, os discos voadores trouxeram visitantes misteriosos de Marte e de outros planetas em inúmeros filmes, séries de TV, romances, histórias em quadrinhos e até discos de sucesso.

O disco voador é um clássico do design – o arquétipo do Objeto Voador Não Identificado (Ovni). No entanto, o conceito só decolou nos anos 1950, quando o mundo inteiro ficou interessado pelos discos voadores.

Artistas de ficção científica já vinham desenhando espaçonaves circulares há muito tempo. Em 1934, Flash Gordon já apresentava um “esquadrão de giroscópios mortais”.

No entanto, as revistas daquela época, na primeira metade do século, apontam que os meios de transporte preferidos dos alienígenas eram mais parecidos com aviões e submarinos.

Isso tudo mudou há 75 anos. Em junho de 1947, o piloto comercial Kenneth Arnold afirmou ter visto nove “discos voadores” sobrevoando o Estado americano de Washington a cerca de 1.900 km/h.

O editor do jornal East Oregonian encaminhou essa história, não confirmada, para a agência de notícias Associated Press. Em 26 de junho, a revista Hearst International publicou uma nota para a imprensa usando a expressão “discos voadores”.

Depois disso, surgiram diversos outros relatos de avistamentos. Grande parte deles era claramente falsa e de acordo com Andrew Shail, professor de Cinema da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, eram imagens de “balões meteorológicos, zepelins, formações de nuvens ou aeronaves experimentais sendo desenvolvidas pela Força Aérea dos Estados Unidos, como parte da Guerra Fria”.

A Guerra Fria e a corrida espacial

Foto: Getty Images/ BBC

Em 1953, o livro do astrônomo americano Donald H. Menzel Flying Saucers (“Discos voadores”, em tradução livre) ofereceu três explicações para essa euforia.

“Primeiro, os discos voadores são incomuns. Todos nós estamos acostumados com a regularidade. Nós naturalmente atribuímos mistério ao que é incomum. Segundo, todos nós estamos nervosos. Vivemos em um mundo que subitamente se tornou hostil. Desencadeamos forças que não conseguimos controlar; muitas pessoas temem que estejamos nos encaminhando para uma guerra que irá nos destruir. Terceiro, as pessoas, até certo ponto, estão gostando desse pavor. Elas parecem estar participando de uma emocionante história de ficção científica.”

De acordo com matéria da BBC, o nervosismo mencionado por Menzel tinha diversas razões. Uma delas era a concorrência entre os Estados Unidos e a União Soviética (URSS) para saber quem seria a primeira superpotência a colocar um satélite artificial em órbita. Foi a URSS, com o satélite Sputnik, em 1957.

“O interesse pelos discos voadores disparou mais ou menos no mesmo momento em que ficou razoável aceitar que os seres humanos viajariam para o espaço”, afirma Katharine Coldiron, autora do guia sobre o filme de ficção científica Plano 9 do Espaço Sideral, de 1959.

Além disso, os americanos tinham também outras preocupações naquela época: desemprego, inflação, ameaça de invasão pelos soviéticos e principalmente que suas cidades fossem arrasadas por bombas atômicas.

Uma forma de ignorar esses medos era concentrar-se em discos voadores, “um fenômeno misterioso e divertido”, segundo Jack Womack, premiado escritor americano de ficção científica, “mas não necessariamente assustador, como a possibilidade de uma guerra nuclear.”

Discos voadores na cultura popular

Foto: ALAMY/ BBC

Quase tão fascinante quanto os avistamentos de discos voadores é o fato de tantas pessoas escreverem relatos pessoais sobre eles. Além disso, eles são retratados no cinema, livros, histórias em quadrinhos, séries e diversos outros formatos.

O primeiro filme sobre discos voadores estreou em 1950 e chamava-se The Flying Saucer (“O disco voador”, em tradução livre). A produção americana independente de baixo orçamento foi escrita, dirigida, produzida e estrelada por Mikel Conrad. A obra sugeria que talvez fosse baseado em fatos reais.

“Cada um do seu jeito, esses filmes incorporaram a corrente sombria de paranoia social que havia tomado conta dos Estados Unidos”, afirma Michael Stein no seu livro Alien Invasions! The History of Aliens in Pop Culture (“Invasões alienígenas! A história dos extraterrestres na cultura popular”, em tradução livre). “Um apresentou o medo de uma invasão subversiva e o outro abordou o pesadelo da destruição global.”

Construção no cinema

Foto: ALAMY/ BBC

Vale destacar que do ponto de vista dos cineastas, o disco voador era relativamente fácil de ser construído e filmado. Ao contrário de um foguete tradicional, ela podia mudar de direção sem ser preciso mostrá-la virando.

“Sua simetria perfeita confirma que não se trata de algo natural. A ausência dos indicadores conhecidos de voo – ele não tem asas, nem motores – reafirma que não deve ser um artefato tecnológico simples, mas algo incrivelmente avançado. Ele impõe o seu lugar muito à nossa frente na mitologia ocidental do progresso.”

No entanto, o disco voador não era algo tão inovador, sua superfície curva brilhante, como os fios e válvulas complicadas atrás dela, era parecida com os carros mais modernos, fornos e as máquinas de lavar.

“O disco voador surgiu em uma era de novas tecnologias sigilosas, principalmente militares, incluindo a bomba atômica”, explica Mark Bould autor do Guia de Filmes de Ficção Científica, “mas também de uma série de novas tecnologias de consumo doméstico, cuja composição interna era cada vez mais misteriosa para o cidadão comum. O disco voador parecia incorporar as duas tendências e evidenciá-las nos céus norte-americanos.”

O declínio da “discomania”

Foto: ALAMY/ BBC

No fim da década de 1950, a “discomania” perdeu força, tanto em termos de relatos de avistamentos, quanto de aparições na tela.

“Entre os filmes sobre discos voadores, os de terror tiveram mais sucesso que os sérios”, explica Mark Jancovich, autor de Rational Fears: American Horror Genre in the 1950s (“Medos racionais: o gênero do terror americano nos anos 1950”, em tradução livre).

“Os estúdios também perceberam que o maior sucesso da ficção científica dos anos 1950 não foi um filme de invasão alienígena, mas sim 20.000 Léguas Submarinas, da Disney. E depois veio essa onda de filmes de ficção científica, como A Máquina do Tempo, A Maldição de Frankenstein e O Mundo Perdido. O ambiente vitoriano dos filmes de terror góticos fez com que eles parecessem respeitáveis, enquanto os discos voadores decaíram no mercado ao longo dos anos 1950.”

Já em 1961, a Força Aérea Americana encerrou sua pesquisa sobre avistamentos de discos voadores, o Projeto Livro Azul, com a publicação de um estudo científico sobre objetos voadores não identificados. A conclusão foi: “Nos estudos sobre os óvnis realizados nos últimos 21 anos, não surgiu nada que ampliasse o conhecimento científico”.

Em maio de 2022, foi feita uma audiência pública no Congresso americano sobre os óvnis, atualmente conhecidos como fenômenos aéreos não explicados (UAPs, na sigla em inglês). No entanto, o vice-diretor de inteligência naval da Marinha americana, Scott Bray, afirmou que os militares não encontraram “nada de origem extraterrestre”.

Fonte: BBC

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