Natureza

Como os humanos descobriam plantas tóxicas antes da ciência?

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Antes da ciência se tornar uma matéria universal, com suas teorias e testes de laboratório, os seres humanos confiavam em uma técnica ainda mais rudimentar e corajosa para entender a toxicidade das plantas: a tentativa e o erro.

Cada descoberta era compartilhada dentro da comunidade, após muitos efeitos colaterais.

Este processo de identificar quais plantas na natureza eram venenosas vem do mecanismo proposto por Charles Darwin na teoria da evolução das espécies.

Assim como na evolução das espécies, quando algo se mostra altamente eficaz – seja a mutação de um gene ou um novo comportamento – é passado adiante para as gerações seguintes, resultando em potenciais mudanças ao longo do tempo.

Toxicidade das plantas comuns

Via Flickr

Para compreender o conceito subjacente à evolução cultural, podemos examinar o processo de “domesticação” da mandioca, por exemplo.

Ela é um vegetal originário da Amazônia, uma região habitada há milhares de anos e onde seu consumo é alto, devido à sua fonte de energia. Mais recentemente, a mandioca também virou cultivo na África.

Embora seja conhecida como mandioca, existem duas variedades distintas: a mandioca-mansa e a mandioca-brava. Ambas são fisicamente semelhantes e contêm glicosídeo cianogênico, um toxico potencialmente letal, em suas raízes e folhas.

No entanto, o nível deste veneno é significativamente mais alto na variedade “brava”. Em qualquer caso, não há recomendação para o consumo cru de ambas.

A toxicidade das plantas, como as folhas de mandioca, acontece devido ao teor de cianeto, e limita o consumo in natura. Por isso, a melhor abordagem para reduzir o teor de ácido cianídrico é triturar as folhas antes de cozinhá-las.

Para se ter uma ideia, são necessárias aproximadamente 50 horas de cozimento das folhas para tornar o consumo seguro.

Hoje, com o conhecimento sobre a toxina, não há dúvida quanto à importância desse processo de preparação.

Entretanto, os primeiros seres humanos a consumirem mandioca acabaram desenvolvendo “rituais” e procedimentos elaborados que garantiram a segurança do consumo.

Esses métodos foram refinados ao longo de inúmeras gerações e milhares de anos, mesmo sem conhecimento sobre o glicosídeo cianogênico. Provavelmente, algumas pessoas morreram durante esse processo de aprendizado.

Além da alimentação, os seres humanos também precisaram experimentar, imitar os mais antigos, testar diferentes abordagens e compartilhar conhecimentos para praticamente todas as atividades, como acender uma fogueira ou construir um iglu.

Cientistas testaram

VIa Wikimedia

Uma equipe quis ilustrar como um conceito, seja um processo ou conhecimento, se aprimora em uma comunidade. Ou seja, como se assimila cada informação.

Para isso, pesquisadores da Universidade de Exeter conduziram um pequeno experimento para compreender como os seres humanos assimilam conceitos complexos. O estudo foi divulgado na revista Nature Human Behaviour.

No decorrer do experimento, os participantes receberam o desafio a colocar pesos nos raios de uma roda para aumentar sua velocidade durante uma descida.

As percepções passaram para o próximo “jogador”, resultando em um desempenho mais rápido do que o da primeira geração.

Isso ocorreu mesmo quando os participantes não compreendiam completamente por que tal abordagem funcionava tão eficazmente.

Segundo os pesquisadores, as tecnologias otimizadas surgem pela acumulação de pequenas melhorias ao longo das gerações, sem a necessidade de compreender completamente o funcionamento dessas tecnologias.

Por meio do experimento, os autores afirmam ter demonstrado como um artefato físico se torna progressivamente otimizado ao longo de gerações de aprendizado, mesmo na ausência de uma compreensão causal explícita.

Essa trajetória também se aplica na forma que as comunidades conhecem sobre a toxicidade das plantas. Ou seja, como sabiam quais plantas eram venenosas e como consumi-las de forma segura, antes da chegada do conhecimento científico moderno.

Cuidado nos dias atuais

Mesmo com essa descoberta por parte dos cientistas, vale reforçar que esse método não precisa mais ser implementado nas comunidades.

Isso porque técnicas como tentativa e erro, como a aplicada na descoberta da toxicidade das plantas, colocam em risco a vida dos ‘pesquisadores’. Não se sabe o que é tóxico ou não, o que funciona ou não.

Assim, os ancestrais precisavam testar suas teorias e tentar acertar na questão de alimentação, especialmente para a sobrevivência da tribo.

No entanto, agora já temos métodos mais seguros para descobrir sobre a natureza, suas teorias e elementos. Por isso, antes de comer uma planta e quiser testar se ela é comestível, aposte na ciência moderna e evite colocar a saúde em risco!

 

Fonte: Canaltech

Imagens: Flickr, Wikimedia

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