Um guerreiro morto em 1361 durante o sangrento “Conflito de Gotland”, na Suécia, teve o rosto reconstruído pelo designer 3D brasileiro, Cicero Moraes. O homem tinha ancestralidade europeia e foi assassinado com aproximadamente 35 anos. O estudo sobre a reconstrução foi publicado no jornal técnico-científico OrtogOnLineMag.
Uma das características do rosto do homem que mais chama a atenção é a cicatriz profunda entre o nariz e a boca. O trauma teria sido provocado por um machado e a fratura se estende pelo céu da boca (palato) e pela base do processo alveolar, o osso que envolve os dentes.
O corte foi realizado com tanta força que quatro dentes foram completamente removidos por causa do impacto. Além disso, existe sinal de fratura na região da base do crânio. O homem também pode ter perdido dentes depois da morte.
Há a ocorrência de cicatrizes profundas nos 1,8 mil restos mortais de pessoas massacradas pelo exército dinamarquês no século 14, principalmente em crânios e ossos da perna.
De acordo com Moraes, a maior parte dos restos mortais foi enterrada com toda indumentária, o que provocou espanto nos arqueólogos das primeiras escavações.
Já a alta taxa de mortos ocorreu devido à discrepância de preparo entre o exército dinamarquês, que estava armado, enquanto os suecos eram inexperientes.
“A informação que os ossos fornecem para nós é a de que aquela lesão foi deixada por uma ferramenta afiada. Diante dos dados coletados na literatura consultada, a arma mais compatível parece ser um machado, então, modelamos um machado bem simples para ilustrar sua posição final ao ferir o indivíduo”, explica Moraes.
O estudo apontou que o corte aconteceu em momento próximo à morte do homem devido à ausência de processo reparativo nas raízes dos dentes.
Reconstrução da face
Ao todo, o brasileiro levou uma semana para reconstruir o rosto do guerreiro. O interesse de Moraes surgiu após procurar crânios na internet para estudar computação gráfica. Ao encontrar imagens das ossadas dos guerreiros, a que tinha um ferimento perto da boca foi a sua escolhida.
Em seguida, Moraes entrou em contato com especialistas do Brasil e da Dinamarca para compor um grupo de pesquisa. Com isso, o brasileiro teve acesso ao crânio escaneado e disponibilizado digitalmente pela biblioteca interativa do Museu de História Sueca (Historiska).
Durante a reconstituição do rosto, algumas mudanças precisaram ser realizadas. Entre elas, os ajustes para corrigir o cerramento da mandíbula e a recriação da parte que faltava do osso nasal.
Com o crânio completo, o brasileiro iniciou a reconstituição dos músculos do rosto do homem através de dados estatísticos que indicam a formatação da pele no rosto. No entanto, esses dados não são exatos em relação ao tamanho do nariz, da boca e dos olhos da vítima medieval. Para encontrar essas informações, Moraes recorreu a exames de imagens.
“Para complementar os dados, importamos uma tomografia computadorizada de um indivíduo vivo – doador virtual – e deformamos os ossos e tecidos moles da tomografia para corresponder à face do guerreiro”, explica Moraes.
Nesse processo, o designer conseguiu produzir a reconstituição em duas camadas. A primeira tem cunho mais científico e precisa do rosto do guerreiro. Já a segunda apresenta detalhes, como cabelo e cores, processo realizado de maneira subjetiva, visto que não existe dados sobre essas características da vítima.
Outros rostos reconstruídos por Cicero
Anteriormente Cicero Moraes reconstruiu o rosto de outros guerreiros. Entre eles, está o rosto de um homem de 40 anos com 1,84 metro. Considerado muito forte, ele recebeu o apelido de “governante germânico da Boêmia do século 4”.
Os restos mortais do guerreiro foram encontrados na República Tcheca, em 1978, durante uma obra de pavimentação de uma autoestrada.
Além disso, Moraes já reconstruiu o rosto de Jesus Cristo, de D. Pedro I, da múmia egípcia Iret-Neferet, entre outros.
Fonte: Revista Galileu, Aventuras na História
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