Quando se fala de aborto as opiniões a respeito são bastante diversas, ainda mais no Brasil, onde essa prática ainda não é legalizada. No entanto, nos EUA, as pílulas abortivas são autorizadas há mais de 20 anos. Contudo, o sistema judiciário do país agora está questionando o acesso à mifepristona e ao misoprostol. Quando esses remédios são tomados juntos eles interrompem a gravidez, o que é legal no país até a décima semana, ou seja, 70 dias.
Mesmo assim, ações contra o acesso à mifepristona foram feitas. E as primeiras decisões favoráveis para que se limite esse acesso foram vistas no Texas. Contudo, por ser um tema que está gerando conflito entre os juízes do estado norte-americano e entidades médicas do país, como a Food and Drug Administration (FDA), a Suprema Corte irá analisar o caso.
A princípio, o parecer do maior tribunal dos EUA emitiu um parecer favorável ao uso amplo dessa pílula abortiva.
Embate jurídico
A briga jurídica envolvendo a pílula acontece porque um grupo de médicos, no Texas, diz que o processo de análise e autorização pela FDA foi muito acelerado no caso do mifepristona. Isso porque o remédio pode ter complicações sérias na saúde dos pacientes. No entanto, especialistas e estudos científicos mostram que isso não é verdade.
Mesmo assim, usando esse argumento, esse grupo conseguiu a suspensão temporária do acesso ao remédio que foi taxado como “aborto químico”. No entanto, essa medida está suspensa temporariamente.
“A decisão judicial sem precedentes emitida em 7 de abril por um juiz do tribunal distrital federal do Texas para suspender o uso de mifepristona — uma medicação extremamente segura e eficaz, apoiada por centenas de estudos e usada por milhões de mulheres — favorece a ideologia e a pseudociência sobre os fatos, prejudica os pacientes, interfere na relação médico-paciente e compromete a saúde pública em todo o país”, disse Jack Resneck, presidente da Associação Médica Americana (AMA).
Mifepristona e Misoprostol
O real ponto a ser entendido é a função desses dois remédios na interrupção da gravidez. A mifepristona irá bloquear a produção da progesterona, hormônio ligado diretamente com o endométrio, que é a camada que reveste a parte interna do útero. É nessa camada que o embrião se desenvolve. Ou seja, é ele quem irá interromper a gravidez. Já o misoprostol irá “esvaziar” o útero.
A primeira vez que a mifepristona foi aprovada nos EUA foi em setembro de 2000. Na época, o limite máximo para que o remédio fosse usado era até sete semanas. Atualmente ele pode ser usado até a décima semana.
Por isso que, conforme informa a FDA, quem tiver passado desse limite de semanas é proibido de usar o medicamento. E ele também não é indicado em casos como: nas mulheres que têm uma gravidez fora do útero, as que têm alterações nas glândulas suprarrenais, quem usa corticoide, quem tem alergia a algum ingrediente da fórmula, quem tem problemas de coagulação, quem tem alguma doença rara relacionada com a disfunção da hemoglobina, e quem usa dispositivo intrauterino (DIU).
É seguro?
Atualmente, de acordo com a FDA, “o [remédio] mifepristona é seguro quando usado conforme indicado”. Além disso, a agência também diz que faz o monitoramento dos dados de segurança da fórmula que é usada para que a gravidez seja interrompida. “Como acontece com todos os medicamentos [aprovados]”, ressaltou.
Mesmo sendo seguro, o relatório de 2018 feito pelos pesquisadores da National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine afirmou que, assim como outros remédios, a mifepristona pode causar alguns efeitos colaterais. Contudo, a maior parte deles são leves ou moderados.
Eles podem ser: cólicas, dor e sangramento que se parecem com sintomas de um aborto natural, náusea e vômito, fraqueza, dor de cabeça, tontura, diarreia, febre e calafrios.
Os sintomas mais graves que podem fazer com que a paciente seja hospitalizada não são comuns. “As complicações após o aborto medicamentoso, como hemorragia, hospitalização, dor persistente, infecção ou sangramento intenso prolongado, são raras, ocorrendo em não mais do que uma fração de 1% dos pacientes”, pontuou o relatório.
Outro ponto é que “não há evidência de uma relação causal entre o uso de mifepristona e misoprostol e risco aumentado de infecção ou morte”.
Visão da OMS
Além da FDA, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também diz que é seguro usar misoprostol e mifepristona de acordo com as orientações médicas. Tanto é que os dois remédios fazem parte da lista de medicamentos essenciais.
Fonte: Terra
Imagens: Planned parenthood, Safe2choose, Catarinas
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