Um estudo divulgado na Geophysical Research Letters mostra dados alarmantes sobre a Corrente do Golfo.
Esse fenômeno desempenha um papel fundamental na regulação do clima da Costa Leste dos EUA e da Europa Ocidental, distribuindo calor e energia pelos oceanos do mundo como parte da “circulação termohalina” ou “Circulação Meridional do Atlântico”.
Recentemente, o estudo revelou que essa corrente essencial aparentemente diminuiu sua velocidade em 4% ao longo das últimas quatro décadas. Essa descoberta tem gerado preocupações entre cientistas e defensores do meio ambiente.
Os pesquisadores envolvidos neste estudo têm uma confiança de 99% que essa desaceleração não é apenas um evento aleatório.
Para compreender a importância da Corrente do Golfo, é necessário primeiro entender como ela funciona dentro desse sistema global.
Originando-se próximo à costa da Flórida, a Corrente do Golfo transporta águas quentes para o norte, seguindo ao longo da Costa Leste dos EUA e, em seguida, atravessa o Atlântico em direção à Europa.
Isso não apenas garante um clima mais ameno para a Europa Ocidental do que o que teria naturalmente, mas também exerce influência sobre os níveis do mar e a atividade de furacões na região.
Portanto, qualquer alteração na velocidade ou no comportamento dessa corrente pode desencadear mudanças climáticas significativas.
Impactos na redução da Corrente do Golfo
A diminuição na velocidade da Corrente do Golfo pode acarretar consequências profundas e de longo alcance para o clima global, particularmente afetando a Europa Ocidental e a Costa Leste dos Estados Unidos.
Com a função de transportar águas quentes do Golfo do México para o Atlântico Norte, ele contribui para manter temperaturas mais amenas na Europa Ocidental. O seu enfraquecimento pode resultar em invernos mais frios e verões mais curtos em países como o Reino Unido, a França e a Alemanha.
Além disso, a Corrente do Golfo também afeta os padrões de precipitação. Uma atuação mais fraca gera invernos mais secos na Europa. Como consequência, tem verões mais chuvosos, afetando a agricultura e os ecossistemas locais.
A desaceleração da Corrente do Golfo pode provocar um aumento do nível do mar ao longo da Costa Leste dos Estados Unidos, resultando em erosão costeira, inundações mais frequentes e perda de habitats para a flora e fauna.
Ainda, também desempenha um papel crucial na distribuição de nutrientes e na migração de espécies marinhas. Alterações em seu fluxo podem perturbar a cadeia alimentar marinha, afetando a pesca e a biodiversidade.
Desastres naturais
A Corrente do Golfo influencia a formação e o curso dos furacões no Atlântico. Assim, uma corrente enfraquecida pode modificar os padrões de formação de furacões, potencialmente resultando em tempestades mais intensas e imprevisíveis.
E, claro, ele faz parte do sistema de circulação termohalina global. Uma alteração em seu fluxo pode desencadear efeitos em cascata em outras correntes oceânicas ao redor do mundo, levando a mudanças climáticas em regiões distantes.
Na prática, a desaceleração da Corrente do Golfo pode desencadear um resfriamento em nível regional.
Dessa forma, pode afetar o derretimento do gelo no Ártico e a liberação de gases de efeito estufa do permafrost, criando um ciclo de feedback que pode acelerar as mudanças climáticas.
Como foi o estudo?
Historicamente, havia falta de consenso sobre a intensidade da Corrente do Golfo e se ela estava sendo afetada pelas mudanças climáticas.
Contudo, a pesquisa de Chris Piecuch do Woods Hole Oceanographic Institution e Lisa Beal da Universidade de Miami, lançou luz sobre essa questão.
Eles reuniram diversos conjuntos de dados observacionais dos Estreitos da Flórida, voltando a 1982 a fim de investigar as variações no transporte de volume da Corrente do Golfo.
Os dados foram coletados a partir de cabos submarinos, medições altimétricas via satélite e observações em locais específicos, sendo minuciosamente analisados com o uso de métodos Bayesianos, uma técnica que quantifica a incerteza nos modelos.
Resultados
Os resultados obtidos foram esclarecedores: a Corrente do Golfo realmente registrou uma diminuição de cerca de 4% ao longo das últimas quatro décadas.
É importante destacar que essa conclusão não depende exclusivamente de um único conjunto de dados. Mesmo excluindo um conjunto de dados, a tendência de enfraquecimento permaneceu evidente.
Piecuch comparou essa abordagem ao processo de coletar testemunhos em um tribunal. Ele afirmou: “Para construir um caso sólido, a contribuição de diversas testemunhas independentes que corroboram uma narrativa coerente é essencial. Nossas fontes de dados forneceram uma visão clara do notável enfraquecimento da Corrente do Golfo”.
Beal, com três décadas de experiência no estudo de correntes de limite ocidental, ressaltou a importância de suas descobertas. Para ele, tem um avanço significativo e uma técnica promissora para encontrar outros sinais de mudanças climáticas a partir das dispersões oceânicas.
O estudo reforça a necessidade da observação oceânica de longo prazo e da manutenção de registros oceânicos. Além disso, Piecuch enfatizou que um registro observacional abrangente e duradouro é crucial para detectar variações sutis.
Beal também ressaltou as implicações globais do enfraquecimento da Corrente do Golfo, declarando que a Corrente do Golfo é uma artéria vital na circulação dos nossos oceanos. Por isso, é preocupante ver que mesmo as partes mais remotas já estão sendo afetadas por nossa dependência dos combustíveis fósseis.
Fonte: Mistérios do Mundo
Imagens: Mistérios do Mundo, UOL
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