Saúde

Efeito nocebo, o irmão maligno do placebo

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Muitas pessoas já devem ter experimentado o efeito nocebo, tido pelos cientistas como irmão maligno do placebo. No entanto, poucos devem conhecer o que é essa condição, de fato.

Imagine que uma pessoa se aproxima de você no ônibus, dizendo que sua aparência está mal e você parece estar doente. Logo em seguida, você começa a sentir sintomas e realmente ficar mal.

Esse evento, certamente comum na realidade de várias pessoas, nada mais é do que o efeito nocebo.

Segundo pesquisadores, o efeito nocebo se manifesta através de consequências negativas para a saúde que surgem de expectativas negativas. Isso pode intensificar sensações de dor, ansiedade, náusea e fadiga.

Efeito nocebo não é placebo

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O efeito nocebo é o oposto negativo do placebo. Considere um estudo médico onde um grupo recebe um medicamento real para tratar dores de cabeça, enquanto outro grupo recebe pílulas de açúcar sem qualquer princípio ativo.

Quando os pacientes do segundo grupo relatam alívio de suas dores de cabeça, os médicos atribuem isso ao efeito placebo. Isso porque eles acreditam terem recebido analgésicos, assim como os pacientes do primeiro grupo.

Esse pensamento positivo leva a resultados positivos no tratamento, um fenômeno bem conhecido na medicina.

Por outro lado, o efeito nocebo está gradualmente ficando famoso no meio médico sendo o exato oposto: quando o pensamento negativo influencia os resultados de maneira negativa.

Nocebo e Covid-19

Durante a pandemia de covid-19, os pesquisadores observaram muito o efeito nocebo, especialmente pelas expectativas das pessoas antes de receberem a vacina, algo que poderia influenciar suas experiências posteriores.

Uma equipe de cientistas de Israel e do Reino Unido conduziu um estudo com 756 adultos israelenses com mais de 60 anos de idade, todos os quais haviam recebido uma dose de reforço, ou seja, a terceira dose da vacina contra a covid-19.

Yaakov Hoffman, o principal autor do estudo e professor do Departamento de Ciências Sociais e da Saúde da Universidade Bar-Ilan, em Israel, explicou que eles analisaram a hesitação em relação à vacina, ou seja, a atitude negativa, e o número de efeitos colaterais que eles relataram.

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Resultados surpreendentes

Os resultados, publicados na revista Scientific Reports em dezembro de 2022, indicaram que indivíduos que mantinham expectativas negativas antes da segunda dose apresentavam uma maior probabilidade de experimentar efeitos colaterais após a terceira.

Existiu uma correlação direta entre a ansiedade em relação à vacina, sua segurança e possíveis efeitos colaterais, e a probabilidade de experimentar esses efeitos.

Além disso, quando o efeito nocebo e a hesitação em relação à vacina se combinavam, isso poderia criar um ciclo vicioso: uma pessoa hesitante em receber a vacina, possivelmente por ler sobre os efeitos colaterais na internet, tinha uma probabilidade maior de experimentar os mesmos efeitos.

Por outro lado, esses eventos se tornam registros médicos, viram cobertura midiática e, em seguida, mais pessoas passam a ler e ter o mesmo medo.

Como lidar com esse efeito

Instruir os pacientes sem gerar o efeito nocebo pode ser difícil. Os médicos têm a obrigação ética de não prejudicar o paciente e de minimizar danos sempre que possível, mas também devem ser honestos.

No caso de uma vacina com efeitos colaterais considerados leves, conforme apontou o estudo, confrontar o efeito nocebo diretamente pode ser uma abordagem viável.

A tática seria comunicar com clareza que apenas uma porcentagem das pessoas sofrem com efeitos colaterais. E se o paciente relatar, indicar que nem todos os sintomas são um perigo real.

A importância das informações

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Outros especialistas na área concordam que a maneira como os médicos se comunicam com os pacientes desempenha um papel fundamental na prevenção do efeito nocebo.

A forma de interação impacta diretamente no tratamento, e não apenas para covid, mas para todos os tipos de doenças.

Quando se trata de vacinação, por exemplo, os médicos são obrigados a informar sobre todos os possíveis efeitos colaterais.

Entretanto, em vez de listar os efeitos colaterais de uma maneira que possa assustar o paciente, especialistas sugerem que os médicos devem interpretar os indicadores e informar com clareza.

Pode ser evolutivo

Muitas pessoas também têm dúvidas sobre como o efeito nocebo consegue impactar nosso corpo. Ou seja, como as ideias influenciam o organismo?

Em primeiro lugar, é importante compreender que o efeito nocebo é uma realidade tangível, não apenas uma construção imaginária pessimista.

Os mecanismos por trás do placebo e nocebo envolvem processos neurocientíficos complexos. Quando um efeito nocebo é desencadeado, o corpo diminui a modulação da dor.

Isso resulta em um aumento na transmissão de sinais de dor para o cérebro, intensificando a sensação de dor.

O dilema está na dificuldade dos pesquisadores em explicar por que esse fenômeno ocorre, pelo menos por enquanto. No entanto, existe a crença de que isso possa estar relacionado com a nossa evolução.

No passado, era necessário estar sempre antecipando o perigo, seja um animal selvagem ou uma planta venenosa.

Em termos simples, as expectativas negativas dos primeiros seres humanos os preparavam para possíveis situações de risco em que precisariam reagir rapidamente para salvar suas vidas.

Agora, o efeito nocebo pode ser considerado uma herança genética, mas que está criando conflito com o cenário médico moderno.

 

Fonte: DW

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